8.12.08

Valêncio Xavier



Morto na sexta-feira passada em Curitiba, aos 75 anos, o escritor Valêncio Xavier, que entrevistei por telefone em 1998, para o caderno “Magazine”, do jornal O Tempo, me pareceu, ao longo daqueles dois ou três longos telefonemas, um sujeito deveras maçante, valha a verdade. Essa impressão ruim foi confirmada, naquele mesmo ano, aqui em Belo Horizonte, durante a Bienal Internacional de Poesia, da qual fui um dos curadores – e ele, um dos convidados. Gostava e gosto tanto da obra dele, todavia, que, em 2001, aceitei com prazer o convite do caderno “Idéias”, do Jornal do Brasil, para resenhar o (excelente) livro Minha mãe morrendo e O menino mentido. Alguns anos mais tarde, um amigo paranaense, escritor, me contou que Valêncio, além de tudo, era dono de um grande sortimento de piadas racistas. Pensei, sem dizer nada: procede. Mas mantive o propósito de republicar o texto sobre o livro dele na minha coletânea de ensaios, Palavras a olhos vendo - Escritos sobre escritas (leia aqui), a sair Deus sabe quando. Conto isso para redizer o óbvio: que o escritor, diante de sua obra, se esta de fato merece ser chamada de literatura, é um mero detalhe. Valêncio Xavier foi um escritor muito acima de suas idiossincrasias pessoais. E da bobajada que se publica neste país de escribas autocomplacentes.

4.12.08

Ê viva!

















Minha irmã, Fátima,
faz anos hoje.
Há exatos três meses,
Américo, nosso pai,
partia desta para outra.
As duas datas convergem
no sentido da festa: sei o valor
atribuído por ele à chegada de minha irmã
a este mundo e à permanência dela,
a vida toda, ao lado dele;
sei, também, que Américo, agora
o ancestral da família,
olha para nós com orgulho
– palavras dele –,
cioso de ter feito o melhor
por Fátima e por mim.
Quando eu nasci, nossa mãe, Íris,
sábia que só vendo,
disse para minha irmã
que eu tinha vindo
como um presente para ela.
Que, por seu turno,
levando a história
a sério, fez e faz
o que estava e está
ao seu alcance para me ajudar
a ser o que sou.
Seguimos: com amor
no coração; um com
o outro; um do outro:
irmã e irmão.
Para sempre.

PS: A foto acima, feita
com um celular,
no ano passado,
não é boa: é essencial.
Trata-se, provavelmente,
do último dos (pouquìssimos)
registros da família
em que aparecemos
só os quatro.












29.11.08

Notícias de Maceió


Aos poucos, os compromissos que me ocuparam ao longo do ano vão se tornando lembranças boas, experiências únicas, riquezas para sempre. É o que de mais consistente consigo dizer, por ora, do que aconteceu aqui em Maceió, anteontem, ondequando apresentei, no Teatro Jofre Soares, a palestra-performance Desvios para a dispersão: Orfeu, John Cage, Exu. Vou precisar de algum tempo para processar tudo o que eu e meus convidados Marcelo Marques, Gláucia Machado, Tazio Zambi e Susana Souto, integrantes do grupo TEXTA, mais o bailarino Jorge Shultze, fizemos, digo, vivemos, como se apenas déssemos prosseguimento a práticas exaustivamente planejadas ou ensaiadas.

Gláucia circulou – cageanamente – pela platéia com um rádio ligado, sem se fixar numa estação específica, para incômodo de alguns que ainda cultivavam a ilusão de ouvir com clareza o texto da palestra, que li em diferentes andamentos, timbres, intensidades e volumes. Minha leitura se fazia entremeada a breves ações que desenvolvi com o poemanto e a improvisações no laptop e no piano preparado – sempre sob as lentes da máquina de Susana Souto, que fotografava do palco e, com sua pre/sença, ajudava a produzir a dispersão enunciada no título. Simultaneamente, Tazio, com um projetor no colo, lançava com (im)precisão suprematista as imagens de meu vídeo-em-progresso “No que pensam os pés quando longe da bola”: nas paredes laterais ou no teto, no cubo que demarcava o “grau zero” da performação de Jorge (este, um experimentado bailarino, capaz de proezas corpográficas que jamais se esgotam nelas mesmas) ou sobre a projeção, no fundo negro do palco, de um outro vídeo criado por mim.

Deixei para dizer por último, propositalmente, alguma palavra sobre Marcelo Marques, músico, poeta e autor de dissertação de mestrado – defendida na semana passada – sobre a tipografia na obra de Augusto de Campos. A energia criativa desse rapaz de 27 anos é algo raro de se ouver. O mesmo se diga da serenidade, do preciosismo e da altivez com que se entrega ao que faz. Tocando pequenos instrumentos de sopro, respondendo à minha gritaria “filodadaísta” ou improvisando no piano preparado – junto comigo ou sozinho –, tudo o que vinha dele era música em estado de poesia.

Na oficina que ministrei aqui, em dezembro do ano passado, eu já havia reparado em sua disponibilidade – corporal, inclusive – para o improviso, essa arte à parte tão complexa, mas agora, convivendo com ele no palco e nas sessões de gravação do CD do grupo TEXTA, constato que a conversa é bem mais séria: ou muito me engano ou, em breve, Maceió será pequena para tanto talento.

Hoje à noite Marcelo se apresentará no mesmo teatro com sua banda, a elogiada Gato Zarolho, e eu vou lá conferir. Tomara seus conterrâneos entendam que aqui, sob o azul-céu e mar desta cidade que viu nascer, há 111 anos, o poeta Edgard Braga, alguém se prepara para assumir, contra todos os obstáculos – dos quais a surdez do mercado é apenas a mais óbvia –, a grandeza de seu destino.


23.11.08

Novas



Mais uma semana puxada, a que se inicia. Nem descansei do Encontro das Literaturas (além do estande do LIRA em si, houve os lançamentos do meu livro novo, Céu inteiro, e da 6ª edição da revista Roda – Arte e cultura do Atlântico Negro) e já fui para São Paulo participar do espetáculo intermídia Barrocodelia, que abriu com grande sucesso a Mostra Contemporânea de Arte Mineira, no SESC-Pompéia.

Com o programa de rádio Palavra falante: o som da poesia quase pronto, viajo para Maceió na terça-feira à noite, para dirigir, já a partir do dia seguinte, as gravações do CD de estréia do grupo TEXTA e apresentar, na quinta, a performance-palestra Desvios para a dispersão: Orfeu, Cage, Exu, dentro da programação da I Jornada Literária, promovida pelo SESC.

Em tempo (1): quem quiser saber da Roda, dê uma espiada no comovente texto que o designer gráfico, poeta e meu amigo Bruno Brum escreveu sobre seu retorno à equipe da revista.

Em tempo (2): a turma do “zoião” nem viu, mas durante os 7 dias em que durou o estande, mantive lá, verde, viçoso e venenoso, um exemplar de Dieffenbachia picta Schott, a popular “Comigo-ninguém-pode”. Funcionou. Continuará funcionando.

13.11.08

LIRA no 9º Encontro das Literaturas

Alguns registros do estande do LIRA no 9º Encontro das Literaturas: vista geral da banca de livros de poesia, com as 5 primeiras edições da revista Roda - Arte e Cultura do Atlântico Negro em destaque; o lema do/a LIRA, recém-chegado da gráfica; a folha de rosto do meu livro novo, Céu inteiro, "arranjado" pelo designer gráfico Flávio Vignoli.



Hoje à noite terá início a programação artística do estande, com uma sessão de autógrafos e leituras a cargo dos poetas Bruno Brum, Chico de Paula, Eduardo Jorge e Waldemar Euzébio (que ainda levará, para duetar com ele, sua filha Gabriela Pilati). A partir das 20h.

No sábado, às 11h, lanço Céu inteiro, primeiro volume da coleção Elixir, que tem este nome em homenagem aos 20 anos de lançamento da edição mais recente do Elixir do Pajé, do simbolista mineiro Bernardo de Guimarães, e aos 70 de vida do editor da referida preciosidade, meu mestre e amigo Sebastião Nunes. No domingo, às 18h, nova rodada de homenagens a Tião, personagem principal da 6ª edição da revista Roda.

12.11.08

CÉU INTEIRO


Mais razão que emoção

foto Beto Magalhães/Em/D.A Press

Janaina Cunha Melo



O poeta Ricardo Aleixo lança hoje [N: no próximo sábado, dia 15, a partir das 11h] o livro de poesia Céu inteiro, no 9º Encontro das Literaturas, no Chevrolet Hall. O novo trabalho reúne cinco lipogramas – forma gráfica em que cada poema perde uma vogal –, que abrem a coleção Elixir, idealizada pelos designers Flávio Vignoli e Laura Bastos. A tônica do projeto, explica Aleixo, está na riqueza da relação entre tipografia e poesia que, ao longo da história, “vem revelando ótimos frutos”, apesar da descoberta tardia da arte gráfica no Brasil. A programação do encontro também oferece oficinas, contação de histórias, seminário, bate-papo com autores e palestra com o professor Ilan Brenman, de São Paulo, entre outras atividades, sempre com entrada franca.

Há quatro anos sem lançar poemas inéditos, Ricardo Aleixo tem se dedicado à performance intermídia. Para ele, esta é uma maneira diferente de lidar com conteúdos poéticos e obter maior alcance de público. “O livro ainda é um objeto estranho no cotidiano, que freqüenta pouco a casa das pessoas”, observa. Para compor Céu inteiro, ele escolheu poemas de escrita rarefeita, que exigiram mais racionalidade que intuição. “Quem procurar a realidade como ela é não vai encontrá-la de imediato. Criar lipogramas exige outro tipo de esforço, para organizar o raciocínio em torno de idéias que não podem ser expressas com todas as palavras, porque é necessário eliminar letras específicas em cada texto”, explica.

Apesar do investimento em outras formas de expressão, a poesia continua sendo o alicerce do trabalho de Ricardo Aleixo. Ele conta que seus versos se alimentam das relações e da observação de que a linguagem é um espaço de afirmação e construção do poder em várias dimensões. Sua literatura, acrescenta, rejeita a idéia de que a criatividade seja atributo de deuses ou pessoas especiais. “Tudo que está no entorno das relações humanas me interessa como matéria da poesia que faço. A palavra vem se tornando cada vez mais uma questão estratégica no mundo, tão importante quanto a terra ou outros bens naturais.” No Encontro das Literaturas, ele também lança, domingo, a revista Roda – Arte e cultura do Atlântico negro, que nesta edição homenageia o poeta Sebastião Nunes. Até o fim do ano, Aleixo ainda estréia a série Palavra falante: O som da poesia, em rádio web do Itaú Cultural, oferece cursos de designer sonoro, no Lira – Laboratório Interartes Ricardo Aleixo, e realiza performance em Alagoas, onde dirige o grupo Texta em gravação de CD de poesia. Em dezembro, também lança Com a palavra, de seu pai, Américo Basílio de Britto, morto em setembro, aos 97 anos, deixando poemas e prosa inéditos. “O livro tem a importância de uma homenagem e reúne os textos de alguém que quis afirmar o direito a este bem comum, que é a palavra.”

Semana que vem, Ricardo Aleixo apresenta a performance Barrocodelia, na Mostra Contemporânea de Arte Mineira, em São Paulo. O espetáculo vai contar com a participação de Chico de Paula, Rui Moreira, DJ Rato, Gil Amâncio, Jorge dos Anjos e Benjamim Abras. 9º ENCONTRO DAS LITERATURAS. Hoje [N: sábado, dia 15, a partir das 11h, no estande 11], a partir das 9h, no Chevrolet Hall (Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi). Entrada franca. Informações: (31) 3209-8989.

31.10.08

Algumas poucas e boas




A 6ª edição da revista Roda – Arte e Cultura do Atlântico Negro está quase pronta, com capa, entrevista, dossiê e pôster dedicados à vida-obra de Sebastião Nunes, que completa 70 dezembros este ano + matéria especial sobre a CUFA (Central Única das Favelas), feita, na Cidade de Deus, RJ, pela editora adjunta da revista, Janaina Cunha Melo, e pelo rapper Ice Band (tem até depoimento de MV Bill) + poemas do angolano Abreu Paxe + ensaio de Leo Gonçalves sobre os 60 anos da Antologia Antilhana etc. etc.etc.

Também está nos finalmentes a primeira das duas séries radiofônicas – cada uma com seis programas de 15 minutos – que o LIRA produz para o Itaú Cultural: Palavra Falante: o som da poesia, que irá ao ar agora em novembro, com gravações de poemas e depoimentos de poetas e estudiosos como Augusto de Campos, Jomard Muniz de Britto, Paulo Bruscky, Omar Khouri, Ricardo Corona, Celso Borges e Gláucia Machado. O tema da segunda série de programas é o Design Sonoro.

O LIRA prepara, ainda, sua participação, por meio de um estande, no Encontro das Literaturas, promoção conjunta da Fundação Municipal de Cultura e do Clube das Editoras Mineiras, que acontecerá entre os dias 11 e 16 de novembro, no Chevrolet Hall. Além de livros meus e de outros poetas/escritores independentes, o público poderá adquirir revistas especializadas, buttons, camisetas e outros produtos. Todos os dias, de 9h às 22h, um aparelho de TV exibirá, em loop, uma série de videopoemas de realizadores brasileiros contemporâneos. Audiopoemas também serão ouvidos no espaço, numa seleção com trabalhos de diversos autores e épocas.

Evidentemente, o estande do LIRA terá muitas outras atrações, como a pequena tipografia da oficina do designer gráfico Flávio Vignoli, cujo funcionamento será explicado ao público por um técnico que estará lá durante todo o tempo. Da oficina de Vignoli sai, de quebra, uma pequena plaquete que lançarei durante o Encontro das Literaturas, com poemas desentranhados do livro Modelos Vivos, a ser lançado em março de 2009. A plaquete, intitulada Céu inteiro, abre, por sugestão de Flávio, a Coleção Elixir, organizada por mim, que terá a participação de importantes poetas contemporâneos.

Barrocodelia é o nome do espetáculo de abertura da Mostra Contemporânea de Arte Mineira, que se realizará no SESC-Pompéia, em São Paulo, no período de 18 a 23 de novembro. No novo trabalho, concebido por mim e por Chico de Paula, ele e eu atuamos junto com os “camaradinhos” Jorge dos Anjos, Rui Moreira, Gil Amâncio, DJ Rato e Benjamin Abras: música eletroacústica + percussão + vídeo + dança + instalação cênica + poesia + canto +). Pelo rumo que o trabalho vem tomando, vai ser muito bom demais da conta.

Ainda no estande do LIRA, teremos, finalmente, o primeiro lançamento do livro póstumo do meu pai, Américo Basílio de Britto, Com a palavra. Para que tudo saísse a contento, sem que a emoção pudesse atrapalhar de algum modo a feitura desse livro tão sonhado por Américo, passei a tarefa para alguém que eu precisava ter certeza se entregaria a um tal trabalho com dedicação e carinho, para além da mera (e ainda assim, rara) competência: o poeta e designer gráfico Bruno Brum – meu parceiro também na revista Roda –Arte e Cultura do Atlântico Negro.

No dia 27 de novembro desembarco em Maceió, a convite do SESC-Alagoas, para apresentar a palestra-performance Desvios para a dispersão: Orfeu, Cage, Exu, e para dar continuidade, in loco, à gravação do CD Livro Falado do grupo TEXTA, formado por Gláucia Machado, Susana Souto, Tazio Zambi e Marcelo Marques, todos ligados à Universidade Federal de Alagoas.

20.10.08

Amigos


Na foto acima, feita por Eliana Borges, meus amigos bons Marcelo Sahea e Ricardo Corona, depois de nossa apresentação na Casa das Rosas, sexta passada, dentro da programação do I SIMPOESIA. Aqui e aqui, dois belos presentes de outros amigos queridos, Ricardo Domeneck (um ensaio multimídia) e Paulo Kauim (um número da minha performance). Um trecho do ensaio de Domeneck: "(...) acredito que o fluir poético de seu trabalho une perspectivas diversas, que acabam muitas vezes separadas no discurso crítico monológico, e ele está entre os poetas que se formaram na década de 80/90 e iniciaram um processo de renovação do conceito de Joyce/Noigandres do verbivocovisual, renovação que se manifesta em uma multiplicidade de ênfases, fazendo de seus poemas (escritos, sonoros, corporais) "quinas", ângulos dos quais se pode observar o território poético das linguagens do poeta contemporâneo, daquele que gosto de chamar de multimedieval. O próprio poeta mineiro chama seu trabalho de 'reverbvocovisual'."

9.10.08

Noise, por exemplo

O DIA CAGE, pela primeira vez realizado no auditório da Escola Guignard, rolou bonito, apesar da chuvarada que caiu sobre Belo Horizonte no dia 26/09. Queria detalhar como foi, mas que é de tempo? Fiquem, por enquanto, com as fotos abaixo, feitas por Eduardo Jorge, que também participou da farra conosco.


Visão geral da cena, com Chico de Paula improvisando ao microfone


Christina Fornatiari, Sérgio Fantini, Frederico Pessoa, Izabel Stewart e Marcelo Kraiser


Poema de Cage e chaleira de Benedikt Wiertz e João Paulo Prazeres


Este ciberposseiro tentando empilhar cadeiras

4.10.08

Mobilestabile

Aqui se ouvê 
uma peça 
que compus 
recentemente.

23.9.08

Terrir (terror + rir) + concreto = concreterrir



O filme brasileiro que mais me interessou neste ano que já começa a findar completará, em 2009, dez anos de uma existência quase totalmente marginal: o genial curta Hi-fi, de Ivan Cardoso, uma leitura "cineticalucinanterri(r)vânica" do CD Poesia é risco, de Augusto de Campos e Cid Campos, que coloca no mesmo balaio trechos pilhados de filmes antigos, sobras de películas do próprio diretor, animação, e, claro, muita poesia concreta. O elenco conta, entre outros, com... Carlos Imperial, Clarice Piovesan, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, José Lino Grunewald, Man Ray, Marcel Duchamp, Nina de Pádua, Orson Welles, René Clair, Rogéria e Wilson Grey. Olhe só. Ivan Cardoso, diga-se, que é fascinado pela poesia de Augusto (só ele?), é o autor da foto da capa de Poesia é risco.

20.9.08

DIA CAGE


Era para ter rolado a "celebração da memória e da imaginação" de John Cage (na foto, à esquerda, com os tímpanos testados por David Tudor, durante turnê pelo Japão) no dia 5, quando ele teria completado 96 anos de idade, mas outro silêncio, bem mais estridente, se impôs, como já sabem tod@s @s que visitam com alguma freqüência esta posse, e a festa teve que ser adiada. O DIA CAGE será, destarte, na próxima sexta-feira, dia 26. O horário continua igual: 19h. Idem, o local: auditório da Escola Guignard (rua Ascânio Burlamaque, 540, Mangabeiras). Já confirmaram presença os seguintes artistas: Marcelo Kraiser, Benedikt Wiertz + João Paulo Prazeres, Christina Fornatiari, Coletivo Não macule a minha faca, Sérgio Fantini, Bruno Brum, Eduardo Jorge, Chico de Paula + Tatu Guerra e o ciberposseiro aqui. Entrada risonha e franca. Quem quiser entrar no clima, basta clicar aqui e catar a versão em pdf do livro Notations, de JC.

15.9.08

Ben Patterson




No importantÍSSIMO livro Greenwich Village 1963 - Avant-garde, performance e o corpo evanescente (Artemídia/Rocco, 1999, trad. Mauro Gama), de Sally Barnes, há uns poucos parágrafos dedicados a um dos temas mais neglicenciados (pelos historiadores, pelos críticos e mesmo pelos artistas) da arte do século XX: a participação dos criadores negros na cena contracultural do período. Barnes cita o poeta e pesquisador Dick Higgins, que escreveu, a propósito de Ben Patterson (aqui também tem) integrante do grupo Fluxus: "Patterson se casou e foi [da Alemanha] para a França, como fora antes dos Estados Unidos, onde não queria ser um 'artista negro', mas só um artista bom como o diabo e, entre outras coisas, um negro. Apenas James Baldwin e Benjamin Patterson alcançaram essa proporção. Na verdade, o modo de Patterson usar repetições periódicas e o fato de ser tão inerente e natural a sensação de melancolia que isso provocava impressionaram-me tanto que, quando ele pela primeira vez me mandou uma cópia dos métodos e processos, eu lhe escrevi e imaginei que era um negro." 

4.9.08

UM PEDIDO



Américo Basílio de Britto
(Nova Lima, 27/02/1911 
Belo Horizonte, 04/09/2008)


Cantem uma cantiga bonita
por Américo, meu Pai,
que ontem, ao anoitecer,
tomou o rumo das estrelas,
no colo de Oxalá.

2.9.08

NeXta SeXta


PS: A performer Christina Fornatiari 
também participará.




22.8.08

55 começos


Vida/arte adentro: um roteiro de errâncias


Escolho, como ambiência sonora para a escrita deste "exercício de admiração", algo tão estranho como o modo único com que Manoel Ricardo de Lima estranha os textos que leu, na condição de crítico cultural do segundo caderno do jornal O Povo, de Fortaleza, entre 1997 e 2007: as granulações entre toscas e sofisticadas da música de timbres (com direito a salivações e silêncios preparados) produzida com virtuosismo pela trumpetista e compositora berlinense Birgit Ulher – que, para não perturbar o sono das pessoas da casa, ouço nos fones, devido à hora já avançada da noite. Preciso confessar que faço-me acompanhar do som raro e difícil de Birgit para não quedar embruxado pela prosa marota de Manoel, que sabe como poucos chamar às falas a inteligência e a sensibilidade de quem o lê em suas deambulações críticas por obras alheias. 

Admito também que, se convoco (convido) uma artista de outro contexto artístico e cultural para o que deveria ser, de início, uma conversa só com o piauiense-radicado-por-muitos-anos-em-Fortaleza-e-atualmente-instalado-em-Florianópolis, faço-o com o propósito deliberado de apontar o quanto o olhar desse poeta-pensador pouco ou quase nada tem a ver com as demarcações fronteiriças que, ainda hoje, servem de baliza à recepção da poesia feita no Brasil. Não que Manoel busque se situar em algum "não-lugar" entre o mundanismo literário e a academia, com o Olimpo de permeio, como fazem tantos literatos brasileiros, nada disso. A questão que ele traz diz respeito justo ao enfrentamento do lugar como problema central para o poeta contemporâneo. Daí sua propensão para estranhar os textos que lê (da mesma forma, posso dizer, como Birgit Ulher estranha o trumpete, fazendo com que o instrumento soe como um outro – sem todavia deixar de ser o que é), transformando-os em lugares desafiadoramente abertos a sucessivas explorações do olhar leitor. Daí, também – e essa é, creio, a contribuição mais significativa da atuação crítica de Manoel Ricardo até o presente –, sua declarada disposição de ler os textos que escolhe como coisas vivas, nossas contemporâneas, isto é, como problemas.

Não é à toa que o volume se abre com o elogio da atividade crítico-ensaística de Mário Faustino (1930-1962). Importa, para Manoel, frisar não a circunstância de serem ambos naturais do Piauí (ele, de Parnaíba; Faustino, como Torquato Neto, da capital do Estado, Teresina), como ocorreria a alguém de temperamento menos inquieto, mas a pertinência do projeto de vida e arte que norteou o brevíssimo estar no mundo do grande poeta-crítico. O tocante final do artigo mostra, sem subterfúgios, o quanto Manoel Ricardo toma o exemplo vivo de Mário Faustino como parâmetro ético para sua própria atividade crítica: "Escrever literatura, e sobre ela, como Mário fez é pautar lacuna serena e problematizar a cultura. Hoje, enquanto o país se arrasta por causa do enfado de alguns vários que teimam em inviabilizá-lo, ainda a falta de educação e de respeito, e que nos fazem perder uma oportunidade única de acreditar em alguém que tem boa alma, pela primeira vez, há ainda o que se produz de muito interessante em poesia, arte e pensamento. É pouco, talvez, mas se produz. O nó é quem não faz nada, e só aponta o dedo sem dizer como. Espalhar o acesso agora ao pensamento de Mário, organizado como sempre foi, em livro, é dar a mão a bater palmas: é deixar ver quem aponta o nó e tenta desatá-lo."

E porque "o nó é quem não faz nada, e só aponta o dedo sem dizer como", Manoel empenha-se em ler a circunstância-mundo como um "lugar" que o torna, em perspectiva sincrônica, conterrâneo e contemporâneo de Mário Faustino, ao mesmo tempo que lhe fornece os argumentos necessários para errar – nos dois sentidos da palavra – por conta própria. É todo um programa de "vida conversável" (lembro, aqui, o belo título de uma coletânea de escritos do filósofo português Agostinho da Silva), portanto, o que se descortina diante dos nossos olhos quando folheamos este livro sobre livros. Livros sobre livros que são, por sua vez, sobre outras infinitas conversas-livros. O poeta-leitor-crítico não nos ensina como ler tais livros, pelo contrário: estranhando-os, lendo-os no sentido bordas/centro, descobrindo e dando a ver em seus supostos centros as bordas de prováveis novos centros, Manoel só faz despertar em nós, seus leitores-interlocutores, o desejo de nos embrenharmos junto com ele livros adentro (sem esquecer as artes visuais, estranhadas em uma série de 5 textos também incluídos no volume).

Em meio ao ranço de doença que impregna o ar do mundo, Manoel Ricardo ousa puxar conversa sobre a saúde e o imperativo que é gozá-la o mais intensamente possível. E não é só: Manoel é da quase totalmente extinta raça dos que sabem que fomos providos de dois ouvidos e uma só boca para ouvirmos o dobro do que falamos. Que saibamos fazer chegar esses fios de "fala inacabada" (para lembrar, desta feita, o lindo livro que ele fez, como poeta, em parceria com a artista plástica Elida Tessler) aos debates acadêmicos, às salas de aula, às rodas literárias e a todo canto, enfim, onde a poesia e a literatura ainda façam algum sentido. Quando, como agora, iniciativas governamentais de "incentivo à leitura" são forjadas nos gabinetes sem que as vozes dos escritores consigam estabelecer pelo menos um contraponto audível aos tenebrosos dós-de-peito do mercado editorial, é fundamental que busquemos recuperar a dimensão estritamente cultural (porque vinculada à vida da coletividade, e não ao tilintar opressivo das moedas) da poesia e da literatura. E isso tem de sobra nesta intensa, comovente e essencial coleção de artigos com que Manoel Ricardo de Lima nos dá o que pensar. 

                                                                                     Ricardo Aleixo

                                                                                    Prefácio do livro 55 começos,
                                                                                    de Manoel Ricardo de Lima 
                                                                                    (Editora da Casa, 2008)

11.8.08

Deu no "Estado de MInas" de hoje


SEGUNDA, 11/08/2008
Bate-bola com Wisnik

Amante do esporte, o músico e ensaísta lança amanhã em BH, no projeto Sempre um papo, o livro Veneno remédio – O futebol e o Brasil e participa de conversa com o público

Janaina Cunha Melo


O músico e ensaísta José Miguel Winisk joga futebol desde os primeiros passos, na infância, e se diz despreparado para “pendurar as chuteiras”, mesmo nos momentos em que o corpo pede descanso. Com essa referência clássica de brasileiro, amante do esporte que traduz a nação na sua complexidade sociológica, política e poética, ele lança o livro Veneno remédio – O futebol e o Brasil, pela Editora Companhia das Letras. Amanhã, participa do projeto Sempre um papo, e conversa com os leitores sobre um dos fenômenos que mais traduzem o país, suas ambigüidades e contradições.

Para Wisnik, pensar a sociedade de qualquer país a partir do futebol não é o mesmo como no Brasil. “É verdade que esse é um esporte mundial, acompanhado em todos os continentes, mas a centralidade que tem para os brasileiros é algo muito próprio deste país”, afirma o pesquisador. Várias referências foram importantes para as reflexões apresentadas nas 446 páginas. Além da própria vivência como santista, música, arte, literatura, sociologia, psicanálise e inúmeros outros campos do saber o ajudaram a estabelecer nexos entre o futebol e a realidade nacional. Ele lembra que sua primeira motivação para estruturar idéias a respeito do tema ocorreu em Belo Horizonte, depois de convite do poeta mineiro Ricardo Aleixo para participar do seminário O futebol e as outras artes: relação de parentesco, realizado em 1993.

“O futebol me formou. Escrever sobre ele foi como perseguir essa experiência profunda, antiga, que é minha e também do país, como uma tentativa de entender esse fenômeno. Por isso, as referências pessoais contribuíram. Com o convite para o seminário, comecei a dar forma a essa reflexão”, comenta. Winisk explica que são muitos os aspectos envolvidos no trabalho. Afirma que o futebol deu lugar à expressão, a um povo cuja história é escravista e mestiça. O esporte inglês chegou no Brasil no fim do século 19 e se desenvolveu em meio segregado e exclusivista, mas a sua profissionalização conseguiu reverter a situação, e revelou parte escondida e relegada da sociedade brasileira, composta por negros e mestiços. “O esporte branco e elitista, como um apartheid cultural, não pôde resistir à pressão da maneira como o futebol se embrenhou na vida popular brasileira”, afirma. Enquanto a elite lidava com o jogo como entretenimento, negros e mulatos o entenderam como campo de trabalho. “A profissionalização despertou interesse da população marginalizada e reverteu a relação de classe social”, diz.

Já o auto-reconhecimento do país com o futebol se deu na Copa de 1938, quando, pela primeira vez, a Seleção Brasileira teve atuação expressiva no mundial disputado na Itália. O time perdeu o campeonato para os anfitriões, em jogo controvertido, mas provocou comoção, envolveu a torcida e consolidou a sensação de que aquele era, enfim, o esporte nacional. Gilberto Freire também deixou sua contribuição, ao afirmar que o futebol brasileiro era adoçado, curvilíneo e dançante – um contraponto ao inglês, apolíneo, linear e quadrado, segundo Winisk. Essas foram as circunstâncias que fizeram de Orlando Silva, o compositor, e Leônidas Silva, o jogador, heróis nacionais em país tardoescravista, que tentava de todas as formas negar sua condição mestiça. “Essa figura do Brasil mulato recalcado se torna decantada”.

Tudo e nada A idéia central, que dá título ao trabalho, passa pela observação de Winisk da relação entre tudo e nada do modo como os brasileiros se avaliam. “O Brasil se olha como remédio ou veneno, e isso se projeta na relação com a Seleção Brasileira, que precisa ser perfeita ou coisa nenhuma”. Ambivalência que tem muito a dizer de uma sociedade que oscila entre extremos. A formação ligada a ciências humanas do pesquisador, voltada para a crítica literária e estética, assume papel determinante nas suas análises. Texto de Pasolini foi para ele fonte de inspiração teórica e poética. Foi o ensaísta e poeta italiano quem apontou diferenciais no futebol brasileiro, e quem fez as primeiras indicações do modo como um jogo tem a linearidade da prosa e não-linearidade da poesia.

José Miguel Wisnik adianta que o livro é um estudo cultural, lida com a forma de expressão não-verbal que diz sem palavras, de modo portanto provisório, como a música. Por isso, não chega a conclusões, mas oferece conhecimento durante a “travessia” das muitas páginas, a partir de vários pontos de vista. “O desafio é falar sobre o futebol não a partir de seu entorno, como a sociologia das torcidas e o interesse que desperta. Meu enfoque está no que ocorre dentro de campo, no que mobiliza as pessoas de forma tão especial”.

Relações políticas O livro também se debruça sobre as relações políticas do esporte e redime de qualquer culpa os militantes mais convictos que em 1970 foram vencidos pela euforia da Copa do Mundo. Mesmo quem decidiu, de forma racional e coerente, não torcer pela Seleção Brasileira em protesto contra a ditadura militar e a situação de extrema gravidade por que passava o país em anos de repressão, acabou se redimindo em algum momento do campeonato. “Eles não se tornaram alienados de um momento a outro, e é justamente essa a questão que se coloca. O futebol mobilizou aspectos e conteúdos que estão para além da ditadura, que passou, e ele não. Sem minimizar essa contradição terrível, é preciso dizer que a Seleção estava em campo representando o povo brasileiro, não o governo”, argumenta.

Depois do lançamento em Belo Horizonte, o escritor visita outras capitais, para conversar com o público sobre as questões apontadas no Veneno remédio. O livro faz parte do projeto em que pretende continuar pesquisando sobre a ambivalência da representação no Brasil. Música e literatura são os próximos temas que pretende abordar na série. José Miguel Wisnik também espera se aposentar da docência ano que vem e prepara novo disco de canções.

JOSÉ MIGUEL WISNIK
Amanhã, às 19h30, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Lançamento do livro Veneno Remédio – O futebol e o Brasil, dentro do projeto Sempre um papo. Entrada franca.

26.7.08

MÁQUINA ZERO,

que lancei no distante 2004, recebe as boas palavras
do poeta e ensaísta Ronald Augusto. Confiram.

16.7.08

Mês passado, em São Paulo,

na versão de Nem uma única linha só minha que apresentei no Itaú Cultural, junto com o músico Benedikt Wiertz e o bailarino Alexandre Tripiciano, a coisa fluiu mais ou menos assim:





 

Éblis


:: Se o que você quer é saber de gente que vai à luta, ao invés de ficar se lamentando pelos cantos, pouse o mouse aqui.

Charles


Acaba de sair pela ed. Booklink a segunda edição, corrigida e com textos de apresentação de Augusto de Campos e Amador Ribeiro Neto, do livro Letras e Letras da MPB (1988/2008), importantíssimo estudo do professor e tradutor norte-americano Charles Perrone, vulgo Charles Anjo. Maiores detalhes aqui.

3.7.08

É verdade,

tenho cuidado mais de todo o resto do que desta posse. Mas, como diria Ricardo Chacal, "isso está mudando... isso está mudando". Alguns bilhões de segundos antes da mudança, dêem uma espiada em dois poemas do meu próximo livro, Modelos vivos, apresentados por um generoso texto do poeta e editor André Dick.

19.6.08

MEUSPAÇO


Sem o querido Ricardo Domeneck por perto (mesmo morando em Berlim), eu não teria criado um canal no MySpace (::). Poeta dos mais inventivos, perito também nas artes do som, da imagem e do corpo, Domeneck desenvolve, aqui, ali, alhures e além, um trabalho de difusão das poéticas experimentais que traz para o contexto brasileiro (ao mesmo tempo que traz o contexto brasileiro para) uma abertura de perspectivas nunca antes "ouvista" entre nós. Mas eu não vou discorrer, agora, sobre a novidade da presença do Ricardo. Isso é assunto para outras postagens. Quero é convidar vocês para conhecerem a página que o xará me ajudou a preparar. Nela, encontrarão quatro peças sonoras que desenvolvi nos últimos meses. Ao longo da semana pretendo postar alguns pequenos textos que redigi sobre o processo de criação dessas peças e de outras que se encontram em fase de finalização. Em tempo: do mesmo modo como Sebastião Nunes informa aos seus leitores que "os erros de português não são erros de português", deixo claro que os graves "estourados", os cortes bruscos e o desnível no volume das vozes, nos meus trabalhos, não são erros de mixagem ou de masterização.

10.6.08

Aula

Uma (grande) canção (racista) 
de Noel, segundo Caetano (aqui)

Título



Raro e vero artista da palavra, só mesmo Affonso Ávila para fazer com que eu tomasse do Palácio das Artes o rumo, em noite de rua cheia, como a de ontem, para buscar um exemplar autografado de sua poesia escrita entre 1949 e 2005, reunida em Homem ao Termo (Ed. UFMG, 669 pp.). É que, em tempos de grossura generalizada, Affonso continua a ser, na minha imaginação de fã, o "caballero de fina estampa" que aprendi a admirar desde o fim da infindável adolescência, há três décadas, quando produzi minha primeira série de tentativas poéticas. Para dizer o mínimo, devo a esse inventor da poesia contemporânea em Minas o gosto barroquizante pelas permutações frásicas ("eu em análogo de outros/ eu em anódino de outros/ eu em anônimo de outros", p. ex.) que permeia todo o meu projeto de criação e, mais importante ainda, a inspiração para que eu nunca, jamais sequer considerasse seriamente a hipótese de entrar para a universidade ("doutor em ciências ocultas e letras apagadas/ aprendi o universo no meu verso", diz o dístico de O Visto e o Imaginado em que o poeta, crítico literário e decano dos estudos sobre o Barroco mineiro brinca com sua condição de autodidata). Ontem, ao cumprimentá-lo pelo livro e pelos oitent'anos de vida, ouvi com emoção sua resposta firme e carinhosa: "Fiz a minha parte na defesa da poesia. Agora é com vocês". E me brindou com uma dedicatória à qual atribuo, de coração aceso, o valor de um título de pós-doutor em "letras apagadas": "Ao Rique, poeta e amigo, esta lembrança da trajetória do Affonso Ávila". O resto é vida literária.  

PS: Outra cena memorável da noite de ontem: meu amigo e parceiro de palco Benedikt Wiertz (comento depois a passagem por São Paulo) lendo em voz alta os poemas do ciclo Discurso da Difamação do Poeta: ele quase chorava, de tanto que ria.