31.5.11

Vida nova

Parte considerável do meu tempo, de 2006 para cá, foi dedicada ao trabalho na Fumec, de onde estou de saída. Primeiro atuei como professor da disciplina Design Sonoro e, nos últimos 9 meses, coordenei o Grupo de Pesquisas Sonoras – ambas as instâncias ligadas ao curso de Design Gráfico, coordenado por Guilherme Guazzi, a quem, mais uma vez, agradeço pela oportunidade que me deu de participar de um contexto – a chamada vida acadêmica – com o qual eu nunca quis ter mais que relações pontuais de diálogo e colaboração.

Aprendi muito por lá, sobretudo com os estudantes que me escolheram para orientar seus projetos de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Também foi bom estar perto de professores como Flávio Vignoli e Juliana Pontes, dos quais me tornei amigo – com Vignoli, edito a Coleção Elixir, de poesia & tipografia – e dos funcionários, que sempre me trataram com carinho e respeito. Saio porque foi identificado um grave erro na forma da minha contratação – eis a versão oficial da faculdade, que não tenho condições nem vontade de refutar.

Existe a hipótese de eu ser recontratado pela Fumec no final do ano, mas não vou me preocupar com isso por agora. Em paz, finalizo dois livros, que espero lançar em setembro, elaboro 5 performances diferentes, defino as faixas do meu sempre adiado disco de canções, crio um novo blog, vivo a expectativa de um novo momento para minhas pretensões artísticas fora do Brasil, preparo com Chico de Paula e novos parceiros as futuras investidas da ZIP, acompanho, todo prosa, o crescimento das minhas meninas, Iná e Flora, converso com quem quer saber de conversa e... conto os dias à espera da vinda, para Belo Horizonte, da moça bela para quem meu coração só sabe dizer sim.

PS: A foto acima, de Ilka Boaventura Leite, foi feita durante performance que improvisei, na ZIP, com o meu Emaranhado Samba.

27.5.11

Uma respiração

Você costuma falar sobre seus processos sempre em aberto – processo criativo ou leituras, por exemplo. O caráter intermidiático de sua obra é uma tradução de seu próprio caráter, “permeável a tudo”?

Nunca pensei nesses termos, para ser bem sincero. Creio que somos, nós, os autodenominados seres humanos, permeáveis a tudo. Todas as coisas do mundo nos afetam, dizem algo a nossa sensibilidade. O mundo é relação. E há a possibilidade de escolha: deixar-se afetar é algo bem diferente da atitude que defendo, que é a de estar atento ao que nos afeta. Tem a ver com a ideia de influência, de certo modo. Você pode ser influenciado por algo ou alguém, como quem é contaminado por uma força necessariamente superior à sua, e pode, por outro lado, compor com essa força, extrair dela o entendimento de seu próprio limite e, assim, contaminá-la de alguma forma. Sou, ao mesmo tempo, afinal, o que é olhado e o que olha; o que, ao ser olhado, afeta o olhar de quem olha para o que sou, somos. Desta perspectiva, sim, posso dizer que o “caráter intermidiático” de minha obra é, mais que a tradução, uma linha análoga ao meu modo de viver, enquanto sujeito homem (pai, amante, amigo, cidadão, professor, filho, irmão, consumidor, viajante).

N(1): A pergunta e a resposta acima foram extraídas da entrevista que concedi ao jornalista, escritor e tradutor Reuben da Cunha, para publicação no número de estreia da revista eletrônica semeiosis, editada por estudiosos ligados ao Grupo de Pesquisa Semiótica da Comunicação coordenado pelos professores Irene Machado e Vinicius Romanini, do Departamento de Comunicações e Artes (CCA) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. A iniciativa da equipe de semeiosis me enche da mais viva alegria e da forte impressão de que, neste país dominado pelo “neobarraco” das novas Casas Grandes literárias – empenhadas tanto em firmar cartorialmente seu território quanto em tentar obstruir a trajetória de seus oponentes, por meio da difamação e da censura –, ainda é possível o estabelecimento de espaços de aproximação dialógica e respeito às diferenças de opinião sobre a cultura e a arte. N(2): as duas versões do poema "real irreal" que se lê nesta postagem pertencem ao meu livro Modelos vivos.

24.5.11

Mariana

Ela, em fragmento do programa Imagem da Palavra, que vai ao ar na próxima quinta-feira, 26/5, às 22h30, com reprise no sábado, dia 28, às 21h30. E no grau zero do recital de sábado passado, na ZIP, em foto de Daniel Protzner. Também no dia 26, às 19h30, na Casa UNA (Aimorés, 1451), Mariana será uma das quatro lindas poetas que o felizardo aqui entrevistará na Roda de Conversa (as outras são Ana Elisa Ribeiro, Mônica de Aquino e Thais Guimarães).

23.5.11

Saiu a lista


dos primeiros 50 finalistas do Prêmio Portugal Telecom 2011: Modelos vivos está lá. Uhu!

Poesia & (mesmo)

Estreei anteontem na melhor das funções: acompanhante de poeta talentosa e bonita que diz seus escritos como quem respira. Impossibilitados de ensaiar, como pretendíamos, Mariana Botelho e eu decidimos fazer do recital dela algo que preservasse o máximo da relação estabelecida, nos melhores lances de O silêncio tange o sino, com cada “trecho” (palavreado ou mudo) da página. Para isso criei, com meu laptop-zoador, uma base rítmico-timbrística decalcada de samples da voz – pré-gravada – da moça poeta, o que permitiu a ela experimentar formas de entoação que, sempre sutis, tornavam ainda mais evidente a beleza direta de seus poemas aparentemente simples (acima, frame do vídeo feito por Chico de Paula, que, junto com as fotos de Daniel Protzner, será disponibilizado em breve). * No mês que vem, dia 26, Mariana Botelho participará da performance que farei no projeto Sentimentos do Mundo, na Reitoria da UFMG, numa formação que incluirá, ainda, Iná Aleixo – minha linda filha performadora – e o guitarrista, arranjador e mano Alvimar Liberato. O projeto, que será aberto com performance do grande Ricardo Chacal, no dia 7/6, terá, também, a super-presença de Marcelo Dolabela, escalado para performar no mesmo dia que eu. * Por fim, mas não por último, os paulistanos poderão conferir, no dia 27 de agosto, na Casa das Rosas, um trabalho que Mariana e eu estamos desenvolvendo em parceria com a querida poeta Luciana Tonelli, em torno de nossos livros recém-lançados (O silêncio tange o sino, o Flagrantes do tempo – Poema-reportagem na Paulicéia, da Lu, e meu Modelos vivos). * Encerrando esta postagem arquifeliz, informo aos amigos de Curitiba que depois de amanhã, quarta-feira, dia 25, estarei aí com o artista plástico Jorge dos Anjos, a convite do projeto Africanidades, para apresentar a performance A ferro e fogo, baseada em trabalho recente do meu amigo com nome de santo guerreiro/ferreiro, e para lançar os livros Modelos vivos e Risco recorte percurso (sobre a obra de Jorge, organizado pelo critico Márcio Sampaio). Há outras novidades boas, mas este post já começou a pedir água.

20.5.11

Lançamento do livro "O silêncio tange o sino", de Mariana Botelho


Publicado no final de 2010 pela Ateliê Editorial, O silêncio tange o sino, livro de estreia da poeta Mariana Botelho, será finalmente lançado em Belo Horizonte, no próximo sábado, dia 21/5, às 11h, como parte da programação do evento ZIP (Zona de Invenç˜ao Poesia &) na Casa UNA.

Nascida em 1983 na cidade de Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, Mariana Botelho escreve desde os 12 anos de idade. “Comecei nessa época a cultivar o hábito de escrever em agendas”, conta. Simultaneamente, iniciava-se na leitura de poetas como Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes e Pablo Neruda.

A essas primeiras leituras se somariam, com o tempo, as de nomes como Eugenio Montale, Juan Gelman, Sophia de Mello Breyner, Emily Dickinson e outras, que a poeta define como “admirações”, e não como “influências”: “Nunca penso, enquanto escrevo, se tal poema é influenciado por este ou aquele poeta; apenas escrevo o que sinto”, diz Mariana Botelho, que aponta como uma das características de seu trabalho o hábito de não retrabalhar os poemas, escrevendo-os de uma só vez, depois de submetê-los a lenta maturação na memória.

Antes de serem publicados em livro, alguns dos poemas de Mariana Botelho foram testados em seu blog e em duas edições da revista Ciência & Cultura, editada pela Unicamp.

De mudança para Belo Horizonte com os filhos Pedro e Vítor, de 10 e 3 anos, respectivamente, Mariana não alimenta qualquer ilusão quanto a viver numa cidade grande (ela chegou a morar, por breves períodos, em Teófilo Otoni e em Poços de Caldas), no que diz respeito à sua literatura: “Vou continuar a fazer tudo do meu jeito, no meu tempo, sem nenhuma preocupação de participar da chamada vida literária”.

(foto de Daniel Protzner)

Serviço:

Lançamento do livro de estreia de Mariana Botelho, O silêncio tange o sino. (Ateliê Editorial, 80pp., R$ 34,00), dentro da programação do evento ZIP (Zona de Invenç˜ao Poesia &) na Casa UNA. Será servido um lanche típico do Vale do Jequitinhonha e a poeta fará um recital com poemas do livro.

Local e horário: Casa UNA – rua Aimorés, 1456, Lourdes.

Entrada franca.

Ouça, aqui, alguns poemas de Mariana Botelho, gravados especialmente para a mostra de audiopoemas da ZIP/Zona de Invenç˜ao Poesia &.


19.5.11

ZIP: hoje e sábado

Hoje, às 19h30, mais uma Roda de Conversa, dentro da programação da ZIP na Casa UNA. Teremos como convidados Álvaro Andrade Garcia e Henrique Roscoe – o VJ 1mpar –, que ministram oficinas na ZIP (ver post anterior). No próximo sábado, às 11h, Mariana Botelho lança seu livro de estréia, O silêncio tange o sino (Ateliê Editorial, 2010).


13.5.11

Sábado na ZIP

A programação da ZIP na Casa UNA prosseguirá amanhã, sábado, a partir das 11h, com a abertura de uma mostra que reúne os “infrainstrumentos” de Marcelo Kraiser, as interfaces sonoras de Henrique Roscoe – mais conhecido como 1mpar –, o “alfabeto Fantome” e as bandeiras de “países imaginários” criadas por Guilherme Mansur e um conjunto de textos dos poetas Wir Caetano, Edimilson de Almeida Pereira, Mônica de Aquino, Carlito Azevedo, Thais Guimarães, Fabrício Marques, Francisco Kaq, Renato Mazzini, Mariana Botelho, Tazio Zambi, Luciana Tonelli, Letícia Feres, Leo Gonçalves e Romério Rômulo. Será servido um café aos presentes, que também concorrerão a livros doados para sorteio por diversos autores. A Casa UNA fica na rua Aimorés, 1456, Lourdes. Entrada franca. [Na foto, Chico de Paula monta os “infrainstrumentos” de Marcelo Kraiser, agora há pouco].

11.5.11

Don Guedes em BHZ


Don Guedes, meu querido Primo Ibo, é o quarto da foto, clicada este ano (eu estou ladeado por Leo Gonçalves e Lourenço Mutarelli).

5.5.11

No Rio

Se alguém perguntar por mim,

diz que eu fui/(vou) por aí e por lá.

Na foto, de Paloma Parentoni, eu canto junto com o bamba Paulo Thomaz na performance Sem lei nem lei, de Chico de Paula & amigos, realizada no dia 20/04 passado, no Teatro da Biblioteca Pública Estadual. ´

4.5.11

Vocografias na ZIP

Quando alguém vem conversar comigo sobre “arte hoje”, antes de dizer palavra eu penso no que diria o Chico de Paula, meu companheiro na ZIP e em tanta coisa mais. A amizade com o Chico me enche de orgulho, porque se dá como a realização do encontro entre dois sujeitos tidos e havidos, na área artística, como brigões, intransigentes, radicais.

Sei que nossa aproximação pessoal, poética e política assusta uns e outros, por aqui. O que é uma pena, porque a nossa proposta comum passa exatamente pela abertura da escuta ao mais amplo espectro possível, envolvendo neste diálogo a muitas vozes em que se tornou a ZIP até mesmo aqueles que não são “brigões”, “intransigentes”, “radicais”.

Ontem à noite, na Casa UNA, tive mais um exemplo da grandeza da presença do Chico de Paula na cena artística brasileira. Por mais de uma hora e meia ele discorreu com encantadora mescla de lucidez e paixão sobre nada menos que a condição privilegiada de Minas Gerais na história do audiovisual no Brasil. Isso depois de nos apresentar uma “cosmologia” da imagem em movimento que revisita os hindus, os gregos, detendo-se em penetrantes comentários sobre o “primeiro cinema”, já no século XIX, o qual comparou com experiências recentes desenvolvidas em torno das poéticas visuais.

Depois de amanhã, quinta-feira, 5/05, às 19h30, será a minha vez de falar sobre as práticas vocais na poesia brasileira contemporânea. Dada a exiguidade do tempo, farei uma breve introdução ao “panaroma” internacional das poéticas da voz, passando imediatamente aos comentários sobre as peças vocais incluídas na mostra da ZIP (peças de Ricardo Domeneck – este, em colaboração com o duo Tetine –, Marcelo Sahea, Ricardo Corona, Sérgio Fantini, Mônica de Aquino, Mariana Botelho, Thais Guimarães e Bruno Brum, entre outros). Será um prazer ver vocês por lá. A Casa UNA fica no nº 1451 da rua Aimorés. Entrada franca. [Na foto acima, Bruno Brum confere, no Centro Cultural da UFMG, o resultado de suas "vocografias" - conceito de que falarei durante a minha exposição].

3.5.11

+ ZIP

Ao longo do mês de março, em meio à realização da ZIP, no Centro Cultural da UFMG, já pensávamos na próxima ZIP: a que abre hoje, na Casa UNA, espaço novo de arte e cultura que tem tudo para dialogar dignamente com a extraordinária vitalidade da cena artística da Belorizonte de uns anos para cá (nada que lembre Velhorizonte, como eu dizia e digo sempre que fico bravo com o lado podrido da cidade amada: a coisa está mais para “Melhorizonte”, como grafou recentemente, num email que me enviou, um querido amigo, o poeta Ricardo Domeneck – que participou da ZIP no CCUFMG e participará de novo desta com um vídeo e uma peça sonora).

O primeiro lance da nova ZIP será conduzido por Chico de Paula, de 19h30 às 21h30: uma mostra comentada da impressionante coleção de videopoemas que compõem o nosso acervo: de André Vallias a Carlosmagno Guimarães; de Tatu Guerra a Gabriela Marcondes; de Fábio Carvalho a Joacélio Batista, a coisa toda é uma festa para os olhos & ouvidos de quem se liga em poesia &. A Casa UNA fica na rua Aimorés, 1451, no bairro de Lourdes, bem próximo da Praça da Liberdade. Entrada franca. A programação completa da ZIP – que vai até o dia 2/06 – será divulgada assim que conseguirmos confirmar todas as participações.

Em tempo: por razões diversas, nós, os curadores da ZIP, não conseguimos escrever um texto que sintetizasse, como num relatório, uma leitura o mais objetiva possível da iniciativa, o que julgamos essencial não só para o desenvolvimento do projeto, como também para servir de modelo para outras pessoas que busquem referências no tocante à organização eventos de poesia.

Nesse texto – apenas adiado – nós pretendemos falar mais detidamente, entre outros pontos, do papel que alguns parceiros tiveram ao longo das etapas de realização do nosso (agora nômade) evento: como a Cida Spínola, do CCUFMG, com seu sempre sorriso conciliador e iluminador; como o meu querido amigo Flávio Vignoli, designer e cenógrafo, que contribuiu enormemente para que as mostras não fossem apenas um amontoado de obras. Fica aí a promessa.