19.6.08

MEUSPAÇO


Sem o querido Ricardo Domeneck por perto (mesmo morando em Berlim), eu não teria criado um canal no MySpace (::). Poeta dos mais inventivos, perito também nas artes do som, da imagem e do corpo, Domeneck desenvolve, aqui, ali, alhures e além, um trabalho de difusão das poéticas experimentais que traz para o contexto brasileiro (ao mesmo tempo que traz o contexto brasileiro para) uma abertura de perspectivas nunca antes "ouvista" entre nós. Mas eu não vou discorrer, agora, sobre a novidade da presença do Ricardo. Isso é assunto para outras postagens. Quero é convidar vocês para conhecerem a página que o xará me ajudou a preparar. Nela, encontrarão quatro peças sonoras que desenvolvi nos últimos meses. Ao longo da semana pretendo postar alguns pequenos textos que redigi sobre o processo de criação dessas peças e de outras que se encontram em fase de finalização. Em tempo: do mesmo modo como Sebastião Nunes informa aos seus leitores que "os erros de português não são erros de português", deixo claro que os graves "estourados", os cortes bruscos e o desnível no volume das vozes, nos meus trabalhos, não são erros de mixagem ou de masterização.

10.6.08

Aula

Uma (grande) canção (racista) 
de Noel, segundo Caetano (aqui)

Título



Raro e vero artista da palavra, só mesmo Affonso Ávila para fazer com que eu tomasse do Palácio das Artes o rumo, em noite de rua cheia, como a de ontem, para buscar um exemplar autografado de sua poesia escrita entre 1949 e 2005, reunida em Homem ao Termo (Ed. UFMG, 669 pp.). É que, em tempos de grossura generalizada, Affonso continua a ser, na minha imaginação de fã, o "caballero de fina estampa" que aprendi a admirar desde o fim da infindável adolescência, há três décadas, quando produzi minha primeira série de tentativas poéticas. Para dizer o mínimo, devo a esse inventor da poesia contemporânea em Minas o gosto barroquizante pelas permutações frásicas ("eu em análogo de outros/ eu em anódino de outros/ eu em anônimo de outros", p. ex.) que permeia todo o meu projeto de criação e, mais importante ainda, a inspiração para que eu nunca, jamais sequer considerasse seriamente a hipótese de entrar para a universidade ("doutor em ciências ocultas e letras apagadas/ aprendi o universo no meu verso", diz o dístico de O Visto e o Imaginado em que o poeta, crítico literário e decano dos estudos sobre o Barroco mineiro brinca com sua condição de autodidata). Ontem, ao cumprimentá-lo pelo livro e pelos oitent'anos de vida, ouvi com emoção sua resposta firme e carinhosa: "Fiz a minha parte na defesa da poesia. Agora é com vocês". E me brindou com uma dedicatória à qual atribuo, de coração aceso, o valor de um título de pós-doutor em "letras apagadas": "Ao Rique, poeta e amigo, esta lembrança da trajetória do Affonso Ávila". O resto é vida literária.  

PS: Outra cena memorável da noite de ontem: meu amigo e parceiro de palco Benedikt Wiertz (comento depois a passagem por São Paulo) lendo em voz alta os poemas do ciclo Discurso da Difamação do Poeta: ele quase chorava, de tanto que ria. 

3.6.08

Nem uma única linha só minha


NEM UMA ÚNICA LINHA SÓ MINHA é o título do espetáculo-palestra que apresentarei no próximo sábado, dia 7, às 19h30, no Itaú Cultural, em São Paulo, dentro da programação do projeto Redes da Criação. Dividirão o palco comigo dois amigos e parceiros da pesada: o músico e artista plástico Benedikt Wiertz (esraj, sitar, trumpete, objetos, voz e performance) e o bailarino Alexandre Tripiciano. Eu vou de microfone(s), laptop zoador, processador de efeitos, gravadores cassete e digital, objetos e performance. Fora do palco, tenho contado com as colaborações preciosas de outros três bons amigos artistas: Eduardo Jorge, Vanessa de Michelis e Daniel Reis (Eduardo, com um trabalho-surpresa; Vanessa e Daniel, com a edição do vídeo "No que pensam os pés quando longe da bola"). A foto acima foi feita durante a aula-performance que dei, em maio do ano passado, na New York University, e tem como função, aqui e agora, preparar o terreno para as novas alegrias que começam finalmente a dar as caras. O poema abaixo, que integra o roteiro do espetáculo, idem. Importante: a sala Itaú Cultural (avenida Paulista 149) comporta 247 pessoas, e os ingressos são distribuídos com uma hora de antecedência.

CINE-OUVIDO


você fecha
os olhos e vê:
luzes pulsando
contra um
fundo sem cor

cobre os ouvidos
e ouve: o eco
do pulsar
das luzes da
estrofe anterior