28.2.09

Poesia &


























Já falei de Caroline Bergvall aqui, ou melhor, aqui. Agora indico seu bem cuidado site, onde você pode encontrar trabalhos em diversos suportes. Coisas de fechar o comércio e o resto, como diria meu saudoso amigo Zé Maria Cançado. Mas atenção: se você é desses (ou dessas) que não resistem a vozes envolventes, melhor não ouvir isto


25.2.09

Um dos poemas mais tristes que já li



















Mulheres de amigos


Kurt Tucholsky (1890-1935)



Mulheres de amigos destroem a amizade.

No princípio ocupam timidamente uma parte do amigo,

aninham-se nele,

aguardam,

observam,

e aparentemente participam do círculo.


Esse pedaço do amigo não nos pertencia –
nada notamos.

Mas logo a coisa muda:

elas tomam um aposento após o outro,

penetram mais fundo,

logo têm o amigo inteiro.


Ele está mudado; é como se tivesse vergonha de sua amizade.

Assim como antes envergonhava-se do amor diante de nós,

agora envergonha-se da amizade diante do amor.

Não nos pertence mais.

Ela não está entre nós – já o levou.


Ele não é mais nosso amigo:

é seu marido.

Um leve melindre permanece.

Tristemente o seguimos com os olhos.

A da cama tem sempre razão.

Tradução de Paulo Cesar Souza

20.2.09

Poro


















O Poro, coletivo de dois (Marcelo Terça-Nada e Brígida Campbell), tem no sonho de uma cidade mais polis do que urbs a base de suas intervenções. Com inteligência, sempre. E com muito humor. Veja, para abrir os trabalhos desta sexta, a foto acima, de uma intervenção realizada dentro da programação do projeto Verão Arte Contemporânea.

11.2.09

Biominimalismo

Volta às aulas na faculdade, minha mãe internada há quase duas semanas, os vídeos para o dvd do Modelos vivos em fase de finalização, canções novas surgindo aos montes, reforma da casa etc.: coisas que me impediram de comentar um post do querido Xará Domeneck que não-pode-porque-não-pode deixar de ser lido e devidamente discutido: “(…) como eu estava decidido a questionar a noção de "objetividade" na poesia-crítica brasileira que, em minha opinião, mascarava uma poética extremamente "monolítico-subjetiva", mas inconsciente de suas próprias constrições ideológicas e condicionamentos individuais, o uso de Bas Jan Ader de seu próprio corpo e biografia, num aparente "narcisismo" (já fui admoestado em textos críticos sobre meu trabalho ou em diálogos com amigos sobre um possível "subjetivismo narcisista" em minha poesia, por usar meu próprio corpo em meus vídeos ou "autobiografia" em meus textos) mostrava o que para mim era e é uma est-É-tica que exige o uso apenas daquilo que o próprio corpo do artista ou poeta pode produzir e prover, como vejo também nas obras de Eva Hesse e José Leonilson: uma espécie de biominimalismo.”


Quem quiser ler o texto na íntegra, clique aqui. A foto foi emprestada daqui.

5.2.09

LIRA 2009


















O poema acima, do livro/DVD Modelos vivos - produzido com recursos do programa Petrobras Cultural -, que está quase no ponto para ganhar as ruas em agosto próximo, diz muito sobre a relação que venho mantenho com a arte verbal nos últimos 16 anos, desde que comecei a estudar a fundo a questão da palavra em performance.

Criado em 2006, como mote e título da performance que montei quando participei do projeto “Noite do Griot”, promovido pela Casa África, e logo depois retrabalhado como poema visual, Boca também toca tambor tornou-se, ainda, com o tempo, uma espécie de “vocograma” pessoal, ao qual atribuo funções as mais diversas: sua entoação serve tanto para o meu treino vocal diário e para os testes com o microfone em ensaios e passagens de som, quanto para me ajudar a recuperar o equilíbrio emocional em meio a alguma turbulência. Sem deixar, é claro, de ser uma saudação ao dono da fala.

Como sabem as pessoas que acompanham o que faço, sempre dou mais de um uso às minhas “inventações”, como dizem os baianos: Boca também toca tambor passa, assim, a intitular o workshop que oferecerei no LIRA, no dia 14/3, sábado, das 9h às 13h, em torno da exploração das dimensões percussiva e timbrística do signo verbal, para fins de criação do que chamo de “textos-tambores” (dos cantopoemas rituais africanos e da diáspora negra – e o peso de sua influência sobre o projeto sonoro de dadaístas e cubofuturistas – aos "africanismos" de Raul Bopp, Jorge de Lima e Ascenso Ferreira; das proezas vocais de Clementina de Jesus e Amiri Baraka ao batuque camerístico de Bob McFerry e Naná Vasconcelos; do rap ao vissungo e ao neo-oriki).

Da metodologia fazem parte os seguintes recursos: audição comentada de gravações raras em áudio e vídeo – momento em que farei breves explanações sobre questões téoricas relacionadas às tecnologias da voz – e exercícios vocais/corporais individuais e coletivos. Como bonus track, mostrarei algumas peças inéditas que farão parte do DVD do Modelos vivos, além de realizações de outras fases da minha trajetória como poeta-performador.

Importante: devido às dimensões do espaço, apenas 10 vagas serão disponibilizadas. Público-alvo: poetas, cantores/as, profissionais/estudantes de artes cênicas, arte-educação, letras e demais interessados na questão da voz e do corpo como elementos estruturantes nas poéticas de extração africana. Valor do investimento: R$ 100,00. Até o dia 25/02, os interessados deverão enviar carta de intenções (máximo de 10 linhas) e breve currículo para a produtora Jaqueline Melo (lira.jaquelinemelo@gmail.com), que poderá, também, fornecer maiores informações sobre a atividade. 

Muito importante: na próxima semana começaremos a divulgar as primeiras oficinas do LIRA em 2009 (entre os professores, o poeta e artista visual Eduardo Jorge e o prosador e poeta Sérgio Fantini). Continuem na escuta!