4.8.12

ACROBATA DA DOR


E o que é mesmo a performance ACROBATA DA DOR, que farei amanhã, em plena hora do almoço - 14h! -, ao lado do bailarino Mascote, no Teatro de Bolso Julio Mackenzie, no Sesc Palladium?

Poderia simplificar, dizendo que é só mais um trabalho meu, no qual celebro os 150 anos de nascimento do mais importante nome do simbolismo brasileiro, ou que é o meu melhor trabalho até agora - talvez seja -, mas prefiro ir direto ao ponto. Trata-se do meu encontro com o monstro (= o que se mostra) Cruz e Sousa. Com o que, nele, homem-signo, vida-texto, propõe desafios, cobra respostas - em forma de arte, de poesia, de vida que só se pode traduzir em mais vida.

Me preparei desde não sei quando para o encontro com Cruz e Sousa, e há mesmo algo de pacto na relação que me vi convidado/forçado a estebelecer com ele: "Há sempre um pacto com o demônio,e o demônio aparece ora como chefe do bando, ora como Solitário ao aldo do bando, ora como Potência superior do bando", anotam Deleuze e Guattari a respeito do "indivíduo excepcional" - que tem, dizem os pensadores franceses, "muitas posições possíveis".

Não é preciso conhecer muito da biografia de Cruz e Sousa e do impacto de sua presença, digamos assim, extravagante no ambiente artístico-cultural de sua época para reconhecê-lo na descrição que D e G traçam dessa figura - a do "indivíduo excepcional" - que, à semelhança da Josefina, a "camundonga cantora" de Kafka, "tem ora uma posição privilegiada no bando, ora se insinua e se perde anônima nos enunciados coletivos do bando".

Longe de me comparar ao poeta do Desterro - antigo nome de Florianópolis, cidade natal de Cruz -, o que faço é colocar-me à disposição de sua extraordinária arte para tentar ajudar a situá-la num quadro, como o da poesia brasileira contemporânea, em que o estranhamento já não parece ter vez nem voz, secundarizado por padrões de escrita em mais de um sentido adaptados ao espírito de conformismo característico do tempo agora.

Um rito: talvez seja essa a forma mais acertada de definir o (meu) ACROBATA DA DOR, que exibe como marca de parentesco com as minhas performances anteriores a condição de "obra permanentemente em obras", isto é, excessiva, aberta, inconclusa, vizinha de tudo que é borda, beirada, quina, encruzilhada.

Quem quiser ouver é só adiantar ou atrasar o almoço. O Sesc Palladium fica na avenida Augusto de Lima, 420. Entrada franca.
PS1: Na foto de Mariana Botelho, feita durante a filmagem do videopoema Acrobata da dor, em novembro de 2001, eu e o bailarino Mascote. 
PS2: Após a performance, meu livro Modelos vivos será vendido ao preço promocional de R$ 25,00.