24.5.09

Iris, minha mãe


Na véspera do meu embarque para São Paulo, na quinta-feira passada, fui me despedir de Iris, minha mãe. Deitada no sofá da sala, ela conversou comigo e com Sandra como se fizéssemos parte do mundo de sonhos conturbados em que mergulhara nos últimos três anos: respondeu fracamente nossas perguntas, fez um que outro comentário, quis saber das meninas, mas não se deu ao trabalho de abrir os olhos.

Saí da visita, apesar disso, sem sequer intuir que jamais voltaria a vê-la com vida. No sábado, descansando da viagem, lembrei dela e chorei de saudade – toda a saudade que se pode sentir de alguém que está sem estar totalmente, e que a cada dia estará mais e mais ausente. Um infarto fulminante a levou hoje, às 5 da tarde, aos 91 anos, completados no dia 27 de abril.
Amanhã, às 16h, no cemitério Bosque da Esperança, celebraremos sua chegada ao lugar onde, nesta hora, já estará de novo ralhando com Américo por qualquer “dê-cá-aquela-palha”, como ele dizia. ´

21.5.09

Em cima da hora






Vou daqui a pouco para São Paulo, onde, às 17h, participo de mais uma edição dos Encontros de Interrogação, promovidos pelo Itaú Cultural: com mediação de Giselle Beiguelman, debate-papo com os poetas Celso Borges e André Vallias sobre o percurso entre palavra e imagem. Mais tarde, depois de andar alguns metros, chego à Casa das Rosas para, às 20h, conversar sobre poesia e música com os compositores Madan e Jardel Caetano e para apresentar aos paulistanos o Céu inteiro. A quem se interessar, também levo na mala alguns dos últimos exemplares de A roda do mundo, Trívio, Máquina zero, que consegui recuperar junto à distribuidora. Em tempo: Madan me disse que ele e Jardel Caetano combinaram de levar seus violões, para o caso de... vocês sabem. Como meu laptop zoador anda sempre comigo, pode ser que role algum barulho por lá.

14.5.09

Quinze anos sem Quintana










Dentre outras qualidades, a poesia de Mário Quintana guarda uma que é rara: a de “ultrapassar” a “urgência das contingências”, para me valer dos termos utilizados pelo crítico Arthur Nestrovski num pequeno escrito sobre a capacidade que têm as canções, no Brasil, de “jamais perder a contingência dessa urgência, ao mesmo tempo coletiva e intransferivelmente pessoal”.

Essa qualidade, a meu ver, explica em parte o encantamento que Quintana produz sobre a parcela do público leitor para a qual a arte verbal apresenta-se, antes de tudo, como um tipo de vínculo com a vida cotidiana. Os versos de Mário parecem ter estado sempre , ao alcance das urgências e contingências de que é feito o dia a dia. E o poeta se compraz em alimentar essa hipótese, ao dizer, num poema, que “Descobrir Continentes é tão fácil como esbarrar com/ um elefante:// Poeta é o que encontra uma moedinha perdida...”.

Em poucos poetas que escreve(ra)m em português-brasileiro se encontrará um manejo sintático e imagético tão rigoroso quanto livre, atributo ao qual se soma uma notável competência para a articulação de densas harmonias fônicas, como se perceberá na maioria dos poemas deste volume. O uso de tais recursos com a naturalidade de quem apenas recolhe do chão uma moedinha faz de Mário Quintana um poeta não menos que imprescindível. Neste nosso tempo em que a norma parece ser a possibilidade de se prescindir de tudo o que, em alguma época perdida do mundo, dava sentido à existência, poetas como ele nos restituem o direito à palavra como forma de conhecimento – entre álacre e acre – do mundo.


[Este texto, que escrevi para figurar na orelha da Nova Antologia Poética de Mário Quintana (Global Editora, 2006), reaparece aqui como uma lembrança da passagem dos 15 anos da morte do poeta, no último dia 5]

5.5.09

Fome de Literatura

Transcorridos quase 5 anos de sua criação, o Movimento Literatura Urgente prepara-se para entrar em uma nova fase. Dentro de alguns dias serão divulgadas informações mais concretas a respeito, para quem quiser participar.