31.5.10

IARA LEE

Cineasta brasileira Iara Lee estava em barco atacado por Israel

Animais no metrô


Uma abertura ao indefinido

Meu livro novo, Modelos vivos, quase na porta da gráfica, trabalho, ao mesmo tempo, na confecção da performance que mostrarei em algumas cidades, durante o lançamento: Música para modelos vivos movidos a moedas. Nas conversas com o poeta (também crítico e compositor) porreta Ronald Augusto, que me ajuda a levar o trabalho a Porto Alegre, fico sabendo que um dos mais instigantes espaços não institucionais da arte brasileira, o Torreão, iniciativa dos artistas plásticos Elida Tessler e Jailton Moreira, já não funciona desde o ano passado. Numa entrevista concedida ao jornal Zero Hora, a querida Elida (ela já participou de performances minhas em Petrópolis e aqui em Belo Horizonte) corta pela raiz a possibilidade de chororô em torno da notícia: “Pode parece chavão, mas o que fica é uma abertura ao indefinido”.

23.5.10

Deu no "Estado de Minas"


ONDAS SONORAS
Trilheiro profissional
Márcio Brant, que faturou prêmio no Cine-PE dá aulas de design de som na Fumec e garante que o mercado está de portas abertas para a área

Gracie Santos


Trilheiro não é só quem percorre trilhas de terra em sua moto possante. É também aquele cara que faz trilhas sonoras para filmes. Trilheiro (desse segundo time), professor e músico profissional, Márcio Brant (mais um integrante da criativa “família que cai em pencas, se você balançar a árvore”) tem currículo recheado para quem está apenas com 29 anos. Lançou disco em 2005 (Fábrica de sonhos); prepara o próximo (Silêncio) para o ano que vem; compôs para longa norte-americano (Flood Street, de Greg Samata); dá aula de design de som na Fumec; e acaba de coroar seu trabalho – realizado há quase 10 anos – com o primeiro prêmio: o de melhor trilha sonora para Revertere ad locum tuum, de Armando Mendez, no conceituado festival de cinema Cine PE.

Sócio de Felipe Santoni em NaTrilha, instalado em endereço histórico da cidade, onde, na década de 1970, funcionava o estúdio de Milton Nascimento, na Rua Timbiras (“Já disse pra ele que ocupo um lugar que traz boa energia boa, onde você respira música. Muita gente vem aqui e relembra coisas do passado”), Márcio Brant está feliz com a nova conquista, principalmente porque, como avisa: “Apesar de fazermos publicidade e outras coisas, nosso foco é cinema”. “O troféu que Armando Mendez recebeu em Recife vai ficar aqui no estúdio. Acho que é só o começo da trilha que o filme vai seguir. Acaba de ser selecionado para p 14º FAM2010 – Florianópolis Audiuovisual Mercosul Festival Fórum (de 11 a 18 de junho).”

“Fazer trilhas é um trabalho muito em conjunto com os diretores. É preciso pensar que você está criando música para uma imagem, essa é a primeira diferença do disco. É preciso ter antes as informações do diretor, saber do que ele gosta”, explica. No caso de Revertere ad locum tuum, conta que Armando Mendez lhe deu muita liberdade. “Ele aprovou de primeira, houve muita sinergia. Fazer música para cinema tem magia. São duas linguagens caminhando juntas”, afirma. Como professor, Márcio Brant não se cansa de avisar aos alunos que não basta fazer música, mas também deixar espaço para o silêncio (“importante, como comprovam obras de Stanley Kubrick” – Márcio é mestre pela Escola de Belas Artes da UFMG com trabalho sobre o cineasta), para a voz do personagem, os ruídos, os efeitos especiais.


Propaganda enganosa

Márcio Brant acha que ajudam bastante a confundir as pessoas os lançamentos de discos de filmes e novelas. “Neles, estão apenas as músicas, quase nunca a trilha feita para o cinema. Muitas vezes, há faixas que nem tocaram no filme”, afirma. E cita como exemplo Almost Alice, do mais recente filme de Tim Burton. Outra coisa que ele gosta de ensinar é que o diretor “quase sempre” tem razão quando mexe no trabalho do trilheiro. A trilha não pode atrapalhar, é preciso criar elementos que ajudem a contar a história. Há muitos casos de música feita para um personagem que funciona melhor se trocada de lugar”, admite, cintando John Williams, autor das trilhas de Spielberg, “que compõe série de músicas e deixa tudo a serviço do diretor. É trabalho a quatro mãos.”

Único longa para o qual Márcio Brant compôs, Flood Street aborda sobre a formação escola de boxe em New Orleans (EUA), depois do furacão Katrina, como forma de ressocialização. “O documentário esteve no circuito independente, em festivais, foi bastante exibido”, conta. O trabalho surgiu em 2006, quando um amigo pianista, Ademir Chaves, morava em Nova York. Ele conheceu o diretor e lhe contou sobre o estúdio em BH. “Fizemos muita coisa por skype”, revela. “Foi uma experiência diferente, principalmente porque Greg Samata tinha muita consciência do som, o via como algo tão importante quanto a imagem.”

A diferença entre fazer trilhas para longas e curtas, para Márcio Brant não é muito grande. “No longa, você desenvolve o som para um personagem que vai ficar em cena uma hora e 40 minutos. É preciso ter maior variação. Mas em termos de conceito é a mesma coisa. Você estabelece determinado clima, instrumentação e vai caminhando. No curta, o espaço é menor, por isso, às vezes, mais difícil. É preciso cuidado para não virar um videoclipe, se você enche o filme de música, é o que vai ocorrer.”


Desenho do som

Professor da “única faculdade do país que tem design de som como disciplina na grade curricular (é oferecida durante os quatro anos do curso de design gráfico)”, Márcio Brant diz que, no exterior, ao contrário daqui, a oferta da matéria é grande. “E BH tem muito mercado. A cadeira é mutável. Você pode trabalhar o som de uma marca. O designer de som é o profissional apto a isso.” Ele cita a vertente, do light designer, “profissional que trabalha o conceito de iluminação e está ligado a todo o processo. É o cara que trabalha do início ao fim, cria espécie de roteiro da luz e vem sendo cada vez mais valorizado.’’

“A profissão de desenhista de som está ganhando importância no cinema brasileiro, da mesma forma que a criação de efeitos sonoros, a mixagem. “O primeiro professor da matéria na Fumec foi Luiz Naveda, que está na Bélgica. Depois, foi a vez de Ricardo Aleixo, que continua e divide a disciplina comigo. Ele é um poeta sonoro e, por isso, reforça mais essa área, enquanto fico mais voltado para o mercado”, explica, antecipando que a faculdade vai promover, em junho (em data a ser definida), mostra de trabalhos realizados pelos alunos, que será aberta ao público. “O evento terá três dias. Vamos abordar o cinema de Tim Burton, de Jean-Luc Godard, além de mostrar trabalhos criados durante o curso.”



De banda

O primeiro CD de Márcio Brant, Fábrica de sonhos (2005), foi “algo bem enraizado no Clube da Esquina. O próximo, Silêncio, será um disco mais de banda. Vamos entrar no estúdio e elaborar tudo, sempre acreditei na criatividade em conjunto. Quando você se cala, ouve várias coisas ao redor”, diz. Ele se orgulha de “trabalhar com a música em todas as vertentes, como pesquisador, cantor, professor e trilheiro” e incentiva os alunos a seguirem esta última profissão, “que tem extenso mercado de trabalho.”

13.5.10

13 de maio



Sempre tive muito respeito e gratidão pelos pretos velhos. Carinho. Tento enxergá-los (e ouvi-los) para além de sua aparente submissão. Nas culturas de extração africana o que é aparente tem valor porque fala do segredo. Não de um, mas do segredo. E é nesse jogo de limites tênues entre visível e invisível que o sagrado se enuncia. E se firma. E confirma nosso pertencimento ao mundo e ao cosmo. O videoartista coreano Nam June Paik percebeu isso quando participou, em São Paulo, da 11ª edição do Festival Internacional Videobrasil, em 1996. Guiado por sua poderosa intuição, o senhor Paik remontou a comovente instalação TV Buddha, um dos destaques de seu repertório, substituindo a figura do memorável mestre oriental pela de um Preto Velho. Simples e direto como um mantra. Complexo como o movimento que transforma, durante a tortuosa travessia do mar Atlântico Negro, a bela palavra salvar em outra ainda mais bela: saravá!


2.5.10

Biscoito fino neocrocante para Lygia Pape

Já contei em diversas ocasiões o quanto devo a Lygia Pape (1929-2004): como admirador que sempre fui do trabalho da grande artista concreta e neoconcreta, e como participante de um tão breve (dois dias) quanto intenso workshop que ela ministrou em BHZ, no Museu de Arte da Pampulha, em 1998. Devo a LP, entre outras coisas, o incentivo para que eu viesse a mostrar publicamente minhas tentativas no campo da visualidade (para além dos poemas visuais): objetos tridimensionais, vídeos, colagens, manuscrituras. Em 1999, quando montei minha primeira e, até o momento, única individual, Objetos suspeitos, ela me deu a honralegria de ir conferir a montagem carioca da exposição, deixando no livro de assinaturas, junto do seu nome, um entusiasmado “Lindo!” – que me vale, até hoje, como a concessão de uma licença para seguir tentando. Há coisa de 3 anos, fiz uma interferência numa embalagem de biscoitos Piraquê – que, como sabem, teve sua identidade visual criada por Lygia. Fiz como uma homenagem a ela: Biscoito fino neocrocante para Lygia Pape. No ano passado, fui surpreendido com a notícia de que a Piraquê havia substituído o projeto original por um outro, mais “moderninho”, segundo os que protestaram contra o que lhes pareceu um atentado contra o patrimônio artístico brasileiro. Quis participar do debate, postando aqui o meu poema visual, mas onde, diabos, ele foi parar? Não o encontrando mais, procurei no Google, ainda agora, uma foto da embalagem da guloseima papeada por Lygia e refiz a peça. Bom apetite.