8.12.08

Valêncio Xavier



Morto na sexta-feira passada em Curitiba, aos 75 anos, o escritor Valêncio Xavier, que entrevistei por telefone em 1998, para o caderno “Magazine”, do jornal O Tempo, me pareceu, ao longo daqueles dois ou três longos telefonemas, um sujeito deveras maçante, valha a verdade. Essa impressão ruim foi confirmada, naquele mesmo ano, aqui em Belo Horizonte, durante a Bienal Internacional de Poesia, da qual fui um dos curadores – e ele, um dos convidados. Gostava e gosto tanto da obra dele, todavia, que, em 2001, aceitei com prazer o convite do caderno “Idéias”, do Jornal do Brasil, para resenhar o (excelente) livro Minha mãe morrendo e O menino mentido. Alguns anos mais tarde, um amigo paranaense, escritor, me contou que Valêncio, além de tudo, era dono de um grande sortimento de piadas racistas. Pensei, sem dizer nada: procede. Mas mantive o propósito de republicar o texto sobre o livro dele na minha coletânea de ensaios, Palavras a olhos vendo - Escritos sobre escritas (leia aqui), a sair Deus sabe quando. Conto isso para redizer o óbvio: que o escritor, diante de sua obra, se esta de fato merece ser chamada de literatura, é um mero detalhe. Valêncio Xavier foi um escritor muito acima de suas idiossincrasias pessoais. E da bobajada que se publica neste país de escribas autocomplacentes.

4.12.08

Ê viva!

















Minha irmã, Fátima,
faz anos hoje.
Há exatos três meses,
Américo, nosso pai,
partia desta para outra.
As duas datas convergem
no sentido da festa: sei o valor
atribuído por ele à chegada de minha irmã
a este mundo e à permanência dela,
a vida toda, ao lado dele;
sei, também, que Américo, agora
o ancestral da família,
olha para nós com orgulho
– palavras dele –,
cioso de ter feito o melhor
por Fátima e por mim.
Quando eu nasci, nossa mãe, Íris,
sábia que só vendo,
disse para minha irmã
que eu tinha vindo
como um presente para ela.
Que, por seu turno,
levando a história
a sério, fez e faz
o que estava e está
ao seu alcance para me ajudar
a ser o que sou.
Seguimos: com amor
no coração; um com
o outro; um do outro:
irmã e irmão.
Para sempre.

PS: A foto acima, feita
com um celular,
no ano passado,
não é boa: é essencial.
Trata-se, provavelmente,
do último dos (pouquìssimos)
registros da família
em que aparecemos
só os quatro.