30.9.09

Fragmento de um artigo de Ronald Augusto que vale a pena ler na íntegra

"(…) a insistência um tanto dalibanesca na demonstração de que a poesia está em crise (em sentido fraco), pode não passar de um truque de propaganda daqueles que, a partir do quadro de desolação que pintam, pretendem recompô-la desde seus aposentos presunçosos onde se encontra, podemos supor, um computador conectado. Muito bem, fui levado a estas cogitações após tomar contato com uma entrevista (concedida a Márcio-André) do poeta, teórico e performer Bruce Andrews que há pouco esteve, por assim dizer, a passeio pelo Brasil. Andrews, junto com Charles Bernstein foi um dos fundadores do movimento L=A=N=G=U=A=G=E surgido no final da década de 1970. Então, para além desse informe sucinto, essas poucas linhas de uma protocolar “nota do autor”, quem é, em fim de contas, Bruce Andrews? Para falar a verdade, não sei muito a respeito do poeta. Aliás, o pouco que consegui obter sobre o seu fazer poético — que mais adiante poderei confirmar ou não, lendo mais demoradamente seus poemas já que, segundo Márcio-André, Andrews aproveitou a visita para supervisionar a tradução de sua primeira série de composições vertidas para o português —, o pouco que consegui obter, dá conta de que já há alguns anos, Bruce Andrews não vem fazendo nada de novo. Parte da crítica o reconhece como um bom poeta em nível micro-estrutural, isto é, no interstício relativo e relacional entre palavra e palavra ele alcança combinações inventivas. Mas, o mesmo não aconteceria quando lhe é exigido plasmar macro-estruturalmente os seus poemas. Em outros termos, seus poemas seriam meio desestruturados, desconjuntados."

Dica

29.9.09

Bienal do Mercosul

Dona Luísa


Minha relação de amizade mais longeva é com a Dona Luísa, que completa 102 hoje, cheia de graça e em plena posse da lucidez. Somos amigos desde que vim morar, com meus pais e minha irmã, no bairro Campo Alegre, região norte de Belo Horizonte, em 1969. Não fiquei amigo dela apenas por causa da fortíssima ligação dela com os meus pais, mas porque eu gostava de ir para sua casa, nos fins de semana, para ver com ela o futebol na televisão, numa época em que o cobiçado aparelho ainda não entrara em nossa casa. Eu tinha 9 anos e, desde então, nunca nos perdemos de vista. No dia em que bati a foto acima, umas três semanas depois da morte da minha mãe, Dona Luísa, assim que cheguei, me saudou com a frase “Isso é amor antigo!”, muitos abraços e lágrimas, tamanha era a alegria por me rever, entremeada à enorme tristeza que disse sentir pela partida dos meus velhos. Como minhas terças-feiras são muito puxadas, vou deixar para abraçá-la amanhã, com tempo para saborear sem pressa o café e aquelas palavras de tanta sabença. Com gente feito a querida Dona Luísa por perto, a vida – nem que seja pelo breve eterno tempo de um abraço – fica bem mais leve.

Deu na "Folha de S. Paulo" hoje

Pérolas negras


Folha teve acesso a 26 canções inéditas de Itamar Assumpção, que vão render dois álbuns póstumos do artista, morto em 2003

MARCUS PRETO

DA REPORTAGEM LOCAL


Àquela altura, Itamar Assumpção acordava mais cedo do que nunca, ainda no vazio da madrugada, antes das quatro e meia. Teria que correr muita cidade para chegar de sua casa, na Penha, ao estúdio no Butantã onde Naná Vasconcelos, vindo de Recife, o esperava diariamente, lá pelas nove.

Era 2001 e os dois estavam em pleno processo de criação de um trabalho em parceria, sob um espírito de integração que Naná definiria depois como "o som dos dois foi modificado pelos sons dos dois".

"Isso Vai Dar Repercussão", o álbum resultante, chegou às lojas só em 2004. Itamar nem sequer o viu publicado. Morreu em 2003, dois anos depois das gravações.

À margem dessas sessões, no entanto, um vasto material foi produzido -muito além das modestas sete faixas registradas em "Isso Vai Dar...". E é daí que vem a maior parte das 26 canções que agora, seis anos após a morte do artista, passam por processo de produção para gerar dois discos inéditos.

Eles vêm fechar a trilogia iniciada em 1998 com "Pretobrás -Por que que Eu Não Pensei Nisso Antes...", o último álbum lançado por Itamar em vida.

Devem sair em meados de 2010, dentro da "Caixa Preta" -projeto que remasteriza, reedita e encaixota toda a obra do cantor, 12 CDs, sob o comando de sua filha Anelis Assumpção. A ideia original é do próprio Itamar, que já alimentava o desejo de ver sua obra novamente disponível.


Inéditas

A Folha teve acesso a todo esse material. Registradas por Itamar em esquema voz e violão, as faixas inéditas vão ganhar novas camadas instrumentais, sob a batuta dos produtores Paulo Lepetit (que já havia produzido o álbum em parceria com Naná) e Beto Villares (Zélia Duncan, Céu, Rodrigo Campos).

São basicamente canções em que Itamar assina sozinho letra e música. Mas há dobradinhas dele com seus principais parceiros, como Alzira Espíndola e Alice Ruiz (leia ao lado a letra de "Devia Ser Proibido").

A maior parte delas é totalmente inédita. Outras já foram gravadas anteriormente, mas nunca por Itamar. É o caso de "Código de Acesso", registrada por Zélia Duncan em seu disco de 1998. Ou "Mulher Segundo Meu Pai", que já frequenta os shows e deve estar no álbum de estreia de Anelis.

A filha de Itamar optou por ter dois produtores para o segundo e terceiro capítulos de "Pretobrás" para que "o inesperado aconteça". "O Beto tem um ouvido completamente virgem em relação ao meu pai", ela diz. "É o oposto do Paulinho, que é envolvido com ele inclusive emocionalmente."

"O barato de ter dois produtores não é a unidade, mas sim o contraste", afirma Lepetit. Ele toca com Itamar desde os tempos do teatro Lira Paulistana, na década de 80, e pretende resgatar para o novo trabalho um tanto daquela sonoridade. Para isso, convocou a Isca de Polícia, banda da qual faz parte e que serviu de apoio a Itamar já em seu álbum de estreia -o disco clássico "Beleléu Leléu Eu" (1980).

Em outras faixas, vai contar novamente com a participação de Naná Vasconcelos. O músico pernambucano afirma que não pretende bisar o clima orgânico dos arranjos de "Isso Vai Dar Repercussão".

"Aquela coisa [orgânica] já foi, já está feita", ele diz. "Penso agora na tecnologia das coisas. Isso porque tenho certeza de que seria assim que a gente faria se o Itamar estivesse aqui."

Villares, que nunca trabalhou com Itamar mas se diz seu fã desde os 14 anos, revela que pretende usar a família do cantor para encontrar os caminhos para sua produção.

"Espero tê-los não como guia, mas como parceiros na busca da (in)definição artística, que é como funciona sempre nessa relação com os artistas", diz. "O Itamar, a simplicidade e a inconsequência criativa são as referências."


Hiperatividade

É fundamental, no entanto, que seja mantido o clima profundo, de dor calada, que se esconde e se revela nos tapes originais, com Itamar se acompanhando ao violão.

Ele estava com muita pressa em 2001. Vinha lutando contra um câncer no intestino havia dois anos e já sofria a terceira das seis operações que, até sua morte, tentariam lhe extirpar o tumor. Nada fazia grande efeito. Muitas vezes chegava ao estúdio vindo direto de sessões de quimioterapia. Sentia que seu tempo escorria.

Começou a produzir em ritmo alucinado. Assim que levantava da cama -depois de, se tanto, quatro horas de sono-, descia para o pequeno escritório, no andar de baixo de sua casa, que chamava de estúdio.

Ali, via o dia clarear apegado ao violão, ao teclado do computador, ao telefone. Muitas vezes, ligava para seus amigos àquela hora e os arrancava da cama para que ouvissem as canções nascendo.

Chegava a compor três músicas inteiras antes de sair para o estúdio ao encontro de Naná, como se toda a vida que ainda lhe restava pudesse caber, espremida, no tempo daqueles versos, daqueles acordes.

"Ele trazia coisas novas todos os dias", lembra Naná. "Parecia mais interessado em me passar as músicas que tinha composto naquela madrugada do que em ouvir o que eu tinha feito com as do dia anterior."

Itamar estava fragilizado e produzia muito para exorcizar a dor e se sentir forte, inteiro. "Ele não admitia a doença", conta Zena Assumpção, sua viúva, ainda emocionada.

"Nunca reclamou. Quando sentia muita dor, só me pedia: "Traz pra mim aquele remedinho". Tomava e, assim que passava a fase aguda da dor, voltava a trabalhar de novo."

Era preciso contar uma história. O tempo, ele não sabia, corria a seu favor.


25.9.09

Besouro

Visitei com grande interesse o site do filme Besouro – Nasce um herói, dirigido por João Daniel Tikhomiroff, com lançamento nacional marcado para 30 de outubro, e torço para que a história do lendário capoeira de Santo Amaro da Purificação tenha no cinema o mesmo excelente destino que teve recentemente no teatro. Afinal, é coisa de não esquecer nunca mais aquela maravilha de texto de Paulo César Pinheiro, com direção do grande João das Neves, direção musical de Luciana Rabello, cenário de Ney Madeira – o uso dos caixotes foi uma sacada e tanto –, figurinos de Rodrigo Cohen e, por fim, mas não por último, um elenco que contava, entre outros, com os mineiros Maurício Tizumba e Sérgio Pererê, bambas no meio de outros bambas. Os que não assistiram Besouro – Cordão de Ouro – montagem em que a “arquitextura” vocal recebeu especial destaque –, poderão ter uma pequena ideia do que foi o espetáculo vendo o fragmento abaixo, que encontrei no youtube.  

24.9.09

Foi assim em Maceió

Sobre a minha mais recente passagem por Maceió, na semana passada, bastaria reproduzir o que disse Susana Souto, do grupo Texta, ao me dar as boas vindas na quarta-feira: “Ricardo Aleixo já faz parte do calendário da cidade”. Não é pouca coisa ouvir frase como essa, dita em meio a sorrisos sinceros, mas há muito mais o que contar – quando menos, para fazer jus ao tratamento que todas as pessoas de lá me dispensam.

Começo pelo workshop Palavra : imagem : corpo : movimento, que reuniu os integrantes dos grupos Folia das Letras e Texta. Ao longo de toda a sexta-feira, compartilhei com a turma alguns dos procedimentos de que me valho em meu  treinamento cotidiano como performador. Mesmo para quem já tinha me visto em cena ou trabalhado comigo no workshop que ofereci na cidade em 2007, o processo revelou-se desafiador, por exigir uma total entrega à noção do corpo como “mídia primária” (Harry Pross), um dos eixos da minha concepção sobre performance.    

Já caminhando para a conclusão do workshop, apresentei à turma o meu “assistente”: uma caveira de plástico verde, que comprei de um camelô dias atrás, atraído pelos sons que se pode extrair dela, ao puxar um cordão acima de seu crânio e ao manusear seus braços e pernas. Deslocado aos poucos da condição de presença estranha para a de “assistente” de todos e de cada um, ali, o pequeno ícone da “indesejada das gentes” – que está sempre “à nossa esquerda, à distância de um braço”, como ensinou o bruxo Carlos Castañeda – receberia do bailarino Jorge Schutze o nome de batismo mais óbvio e preciso: "Assis".

O jogo consistia em explorar por um breve tempo os sons do corpo de “Assis”, eliminando-os totalmente, contudo, ao tentar passá-lo para a pessoa situada à esquerda. Trabalhávamos em círculo, como gosto de fazer sempre, posto que a roda instaura uma ideia de possível continuidade – necessária, num processo de trabalho, como o que faço, inteiramente calcado na produção da descontinuidade (rítmica, gestual, visual, timbrística etc.). Como resultado, o silêncio da entrega. E o da recepção.

Essas tentativas – em que “Assis”, com sua voz desafiadora e sem sílabas, parecia dizer a todos: “tente” – propiciaram alguns movimentos de muita intensidade e beleza, os quais foram, em graus diferenciados, reutilizados de diversas formas na finalização dos exercícios desenvolvidos, até então, com os haikais que enviei para cada um, por email, dois dias antes, com as instruções sobre como deveriam começar a trabalhar o poema.

No sábado, logo no final da manhã, fui com Gláucia Machado e Jorge Schutze para o Centro Cultural do SESI Pajuçara começar a montagem da performance. Para dizer o mínimo, divido com os dois o sucesso alcançado pela performance junto ao público: Gláucia, para além da expertise poética, revelou-se uma produtora atenta a cada pedido meu, com relação às necessidades técnicas – que não são poucas. E fez o que eu nem imaginava que ela faria, como conseguir o apoio de um restaurante excelente e assegurar uma divulgação de igual nível, com direito a entrevista exclusiva para a Gazeta de Alagoas – chamada com foto na capa e página inteira no caderno de cultura –, conduzida por Elexsandra Morone, na noite em que cheguei a Maceió.

Jorge Schutze, por sua vez, só fez confirmar as boas impressões que me causou quando o conheci, em 2007. Que artista e homem mais generoso! Imaginem vocês que ele se abalou desde sua casa no final de uma manhã de sábado para me ajudar a resolver questões referentes à luz e aos vídeos... Trata-se de problema renovado a cada performance, uma vez que o placo se transforma num ambiente em que se entrecruzam: meus constantes deslocamentos entre a mesa onde ficam os instrumentos que uso e o primeiro microfone – no canto direito – e o segundo microfone, no lado oposto; uma televisão em que passa o loop de um vídeo – à frente da mesa, no chão; as projeções superpostas (com as imagens vindas, respectivamente, de um projetor fixo e de outro móvel). O problema, aí, pode ser sintetizado da seguinte forma: como iluminar devidamente a cena sem atrapalhar as projeções?

Por conhecer meu método de trabalho, Jorge – que já colaborou com o grande mestre japonês Min Tanaka – me ajudou a encontrar a melhor solução num tempo bem mais curto do que o previsto. Resolvidos também os (nada pequenos, devido à enormidade de tralhas com que passei a trabalhar de uns 3 anos para cá) problemas relacionados ao som, só me restava agradecer meu amigo da melhor maneira possível: convidando-o para improvisar comigo. A princípio, faríamos um único número juntos, mas como – e em nome do quê? – desperdiçar tanta energia e tanto talento? 

Finalmente, quero dizer uma palavra sobre o grupo Texta, com quem mantenho parceria desde o ano passado, quando demos início à gravação do primeiro CD deles. O que Gláucia Machado, Susana Souto, Marcelo Marques e Tazio Zambi estão fazendo em torno da interação palavra escrita/som é algo raro de se encontrar neste país em que a maioria dos poetas ainda pensa a gravação como mero “registro” de sua voz lendo um poema. Sem exagero, posso afirmar que a viabilidade do meu trabalho como poeta/performador foi garantida, neste ano marcado por tantas perdas, pela possibilidade de voltar a Maceió para ser mais um entre iguais – aquele senso de igualdade, registre-se, que só vinga em contextos estético-culturais e políticos em que a escuta atenta da fala do outro nos conduz ao jardim das delícias (Epicuro) ou, para lembrar, ainda uma vez, o filósofo Agostinho da Silva, à vida conversável.

PS: E ainda ganhei presentes de aniversário, vejam vocês! Ah! A foto é de Tazio Zambi.

Quer ouver uma coisa do tempo da delicadeza invenção beleza sem razão memória imaginação?

23.9.09

Gosto, vez ou outra, de saber o que meus amigos conversam entre eles

"O poeta pode até não existir, não tem precisão de existência, mas não sei o quanto o mundo pode ficar mais estranho de tão igualzinho sem esta figura desimportante" [Júlia Studart em resposta a Carlos Augusto Lima]


17.9.09

Chinas Gerais

Reproduzo o texto abaixo com a sugestão de que procurem ler, na íntegra, a longa e bem fundamentada reportagem publicada na edição de hoje do caderno Ilustrada do jornal "Folha de S. Paulo". Vale, e muito, a pena.

Minas dá benefício a suspeito de sonegação

 Bernardo Paz, investigado por fraudes, recebeu R$ 20 milhões do governo

Governo do Estado nega que esteja beneficiando o empresário com a construção do centro de convenções em Inhotim



BRENO COSTA DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

MARIO CESAR CARVALHO DA REPORTAGEM LOCAL

O governo de Minas concedeu um benefício de cerca de R$ 20 milhões ao empresário e mecenas Bernardo Paz, devedor do Estado e réu numa ação judicial em que é acusado de participar de um esquema de fraudes fiscais que resultou num prejuízo de R$ 74,7 milhões ao governo mineiro.
Paz criou em 2004 o Centro de Arte Contemporânea de Inhotim, em Brumadinho (60 km de BH). É o mais importante centro cultural de arte contemporânea do país, com um acervo que inclui artistas como Hélio Oiticica (1937-1980), Cildo Meireles e Matthew Barney.
Segundo a Polícia Civil e o Ministério Público, duas siderúrgicas de Paz se beneficiaram de um esquema de sonegação de impostos. O suposto esquema envolvia empresas fantasmas, laranjas e o uso de notas falsas para pagar menos ICMS.
Ele foi indiciado pela polícia sob suspeita de formação de quadrilha e fraude fiscal. Num estágio posterior, o Ministério Público excluiu o crime de formação de quadrilha por considerar que não havia provas.
Os advogados de Paz disseram à Folha que não consideram que seu cliente seja réu, já que não lhe foi dado o direito de se defender. O empresário também é cobrado na Justiça pelo Estado de Minas por dívidas de R$ 8,2 milhões de impostos.



Negócio da China


O governo mineiro acertou com o Instituto Cultural Inhotim, que gerencia o centro e cujo conselho de administração é presidido por Bernardo Paz, a construção de um centro de convenções orçado em R$ 19,6 milhões. O prédio ficará ao lado do centro cultural.
Para isso, o instituto doou ao governo de Minas, em dezembro passado, um terreno de 25 mil m2, avaliado em R$ 20 mil. Mas a doação veio acompanhada de uma série de condicionantes -entre elas, que o governo construirá o centro e entregará a administração do espaço ao próprio Inhotim.
"É um negócio da China", afirma Maria Sylvia Zanella di Pietro, professora da Faculdade de Direito da USP e uma das maiores especialistas em direito público no Brasil.
Ela e Carlos Ari Sundfeld, professor da PUC-SP, dizem que há uma irregularidade na doação. Na interpretação dos dois, o negócio precisaria ser aprovado pela Assembleia Legislativa de Minas, como determina a Constituição do Estado, já que se trata de doação que implica gastos para o governo.
Para erguer o centro, o Estado firmou dois convênios com o Ministério do Turismo, que entra com R$ 14,6 milhões, enquanto o governo mineiro dá contrapartida de R$ 5 milhões.
O TCU (Tribunal de Contas da União), que audita recursos federais, decidiu que o centro não poderá ser administrado por uma entidade privada. O governo de Minas já entrou com recurso para que o TCU mude de posição.
Não é exatamente por falta de recursos que Paz fez o acordo com o governo Aécio. Ele é sócio de mais de 20 empresas e o maior produtor independente de ferro-gusa do país, segundo sua assessoria.
As duas siderúrgicas acusadas de fraudar o governo mineiro (Itasider e MGS) têm capital social de R$ 35,1 milhões e R$ 4,76 milhões, respectivamente. O centro cultural Inhotim vale US$ 200 milhões (R$ 365 milhões), de acordo com a assessoria de Paz.



O maior comprador

Desde que decidiu investir em arte contemporânea, nos anos 1980, Paz tornou-se o maior comprador desse mercado, posto que tomou do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira. 
O braço financeiro do Instituto Cultural Inhotim é uma empresa chamada Horizontes. Ela era dona do terreno onde será erguido o centro de convenções até três meses antes da doação ao Estado.
A Horizontes é controlada por uma offshore chamada Vine Hill Financial, criada nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe.
Offshore é um tipo de empresa que funciona em paraíso fiscal para pagar menos impostos e para dificultar que as autoridades saibam quem são os seus proprietários.
Foi outra empresa de fora do Brasil, a Flamingo Investment Fund, aberta nas Ilhas Cayman, que fez os maiores aportes financeiros na Horizontes.
Em menos de dois anos, a Flamingo emprestou US$ 126,4 milhões (R$ 231 milhões) à Horizontes, cujo capital é de R$ 650 mil (350 vezes menos que o valor emprestado). Dois especialistas em direito financeiro ouvidos pela Folha dizem que o dinheiro emprestado deve ser do próprio Paz.
Não dá para saber se todo esse valor foi investido em arte e no centro cultural. Se o recurso foi para comprar obras de arte, é um dos maiores investimentos privados já feitos no Brasil, similar apenas aos recursos usados para comprar a coleção do Masp, em 1947. O acervo do MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo, o principal do país em arte contemporânea, é avaliado em US$ 37 milhões.




14.9.09

Duas linhas paralelas e uma na diagonal

Deus, ao projetar o sete,

estava no maior astral.

Deu seu recado e deixou

em aberto a arte final.

 

Cada um traça como quer,

já que Deus, que é tão legal,

não se liga nesses papos

de direito autoral.

 

Mas, podendo, por que não

manter o traço original?

Duas linhas paralelas

e uma na diagonal.


O poemeto acima integra o longo cordel-roteiro que escrevi para um espetáculo de dança, há muitos anos – e que, em breve, será publicado como livro para infantes. Já que hoje, aqui nas rua dos Bem-te-vis, é dia de multiplicar 7 vezes 7, aí vai. Voando.

13.9.09

Nem uma única linha só minha

Eis, em artes do meu jovem e talentoso amigo Tazio Zambi, o anúncio da minha próxima presentação (você leu certo: omiti propositalmente  a letra “a”). É que vou, mesmo, tentar presentar, presentificar, tornar presentes – no Cine SESI Pajuçara – umas tantas possibilidades de (auto)poiesis com as quais tenho lidado, ao longo desse largo período em que me vi, literalmente, sem pai nem mãe. 

5.9.09

Cage

 

John Cage completaria 97 anos hoje. O Dia Cage, data em que celebramos, aqui em Belorizonte, a memória e a imaginação do poeta-compositor-artista visual-pensador estadunidense, acontecerá na segunda quinzena de outubro. O poema acima, Pentahexagrama para John Cage, é mais uma das proezas icônicas de Augusto de Campos.

4.9.09

Américo

Há um ano meu coração de filho começava a aprender que dor, palavra tão pequena, pode ser a que reverbera por mais tempo.

3.9.09

Meu(s) trabalho(s)

Meu trabalho atual, no campo da performance intermídia, intitula-se Nem uma única linha só minha. Vou me apresentar em Maceió, no dia 19 de setembro, num formato bem diferente do que mostrei em São Paulo, no ano passado (em janeiro, na biblioteca Alceu Amoroso Lima, e em agosto, no Itaú Cultural).

Além de novos equipamentos, temas, técnicas de uso da voz e modos de (re)configurar o palco que adicionei à performance, levo comigo o workshop Palavra : imagem : corpo : movimento, que criei como forma de conversar com os possíveis interessados sobre meu jeito de fazer as coisas.

Aos produtores e instituições culturais que se interessarem pela proposta, peço que entrem em contato comigo pelo email ricardoaleixo@terra.com.br, ou pelo telefone (31)88681624. Terei o maior prazer em disponibilizar informações relativas a orçamento, condições, datas, necessidades técnicas etc. Em tempo: ainda não fechei a agenda do mês de novembro.