29.11.09

Uma grande perda

Foi enterrado hoje, às 16h, no cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte, o jornalista Alécio Cunha, morto ontem à noite, aos 40 anos, depois de uma longa luta contra o AVC que o vitimou no último dia 6 de outubro. Repórter da área cultural e colunista do jornal Hoje em Dia, Alécio, que era também poeta e crítico de artes plásticas, tornou-se nos últimos anos uma voz solitária na imprensa mineira, pela disposição com que tentava abrir espaços para a difusão da poesia contemporânea. Pessoalmente, só tenho palavras de respeito e gratidão por ele, em quem encontrei sempre um interlocutor atento e generoso. Alécio tinha uma rara cultura literária, alma de poeta, coragem para sustentar suas posições e abertura dialógica (artigos cada vez mais raros aqui na província). Fará muita falta.

O que é poesia?

Confraria do Vento, a Calibán e a Casa das Rosas

convidam para o lançamento do livro

 

O QUE É POESIA?

organizado por Edson Cruz

 

 

Depoimentos de 45 poetas contemporâneos brasileiros, portugueses e hispano-americanos respondendo a três questões essenciais sobre o fazer poético de cada um deles. O lançamento contará com debaterecital e performance.

 

Sábado, 5 de dezembro


 

16h – Debate

Os caminhos da poesia contemporânea brasileira:

dificuldades e acertos 


Com

Affonso Romano de Sant'AnnaCarlito Azevedo

Carlos Felipe MoisésLúcia Santaella

Márcio-AndréNicolas Behr 

Ricardo Silvestrin
 

Mediação: Edson Cruz
 


 

18h15 – Recital

Poeta em Voz Alta 
 

Com

Ademir Assunção + Affonso Romano de Sant'Anna + Carlito Azevedo + Carlos Felipe Moisés + Claudio Daniel Claudio Willer + Donny Correia + Edson Cruz + Eunice Arruda + Flavio Amoreira + Frederico Barbosa + Luiz Roberto Guedes + Marcelo Ariel + Marcelo Tápia + Márcio-André + MichelinyVerunschk + Nicolas Behr + Reynaldo Bessa + Ricardo Silvestrin + RodrigoPetronio + Victor Paes + Virna Teixeira

 

Mestre de Cerimônia: Frederico Barbosa 
 


 

21h – Performance multimídia

Boca também toca tambor

 

com

Ricardo Aleixo 
 


 

O evento faz parte das comemorações pelo aniversário da Casa das Rosas.

Rave Cultural é um evento da Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura cuja primeira edição foi em dezembro de 2006. Desde então, tornou-se a festa anual em comemoração à reabertura do local como espaço de poesia, homenageando o poeta concreto Haroldo de Campos. Em sua quinta edição, a Rave Cultural prepara grandes atrações que começam às 14h do dia 5 de dezembro e se estendem até as 5h da manhã do dia 6.

 

RAVE CULTURAL 2009

Sábado e domingo, 5 e 6 de dezembro

 

programação completa aqui

 


 

CASA DAS ROSAS – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura

Av. Paulista, 37 -Bela Vista – Metrô Brigadeiro

Fone: 11 3285-6986/ 3288-9447

Funcionamento: Terça a sexta, das 10h às 22h.

Sábados e domingos, das 10h às 18h.

 

      

 

23.11.09

À paulista

Peço licença às pessoas que se interessam pelo que faço para divulgar minha agenda “à paulista” neste fim de ano que – para o papai aqui – mais parece um começo: quarta-feira, dia 25/11, no Museu Afro Brasil, às 18h, participo da mesa redonda “Exclusão e inclusão na cultura”, dentro da programação do seminário Eu tenho um sonho – De King a Obama, a saga negra do norte, com a antropóloga Sheila Walker e o cineasta Joel Araújo; sábado, 5/12, ainda sem horário definido, performo na Rave Cultural da Casa das Rosas, durante o lançamento do livro O que é poesia, de Edson Cruz; no dia 19/12, às 20h, no Itaú Cultural, faço o espetáculo de lançamento da série radiofônica ARQUIVOX: a paisagem sonora da poesia brasileira, junto com o sound designer Daniel Reis, os bailarinos Franciane de Paula e Jorge Schutze e a cantora Patrícia Ahmaral. Em tempo (1): pela miríade de novidades que o envolve, o espetáculo (que é só ARQUIVOX) merecerá um post todo dele. Sendo que em breve falarei, também, claro, da série de programas, que está ficando o fino, para dizer pouco. Aguardem, se acharem que é o caso. Em tempo (2): a foto acima é de Foca Lisboa.

Dica

Dica

12.11.09

Dica

O impacto da mudança da capital de Minas Gerais de Ouro Preto para o Arraial do Belo Horizonte é o mote do novo livro de Beatriz de Almeida Magalhães, Caso Oblíquo, que será lançado no próximo sábado, a partir das 10h30, na Livraria Quixote.

O volume traz narrativa que se inicia em 1894, a três anos da inauguração da Nova Capital, quando o antigo Curral Del Rei “turbilhona-se com a vinda de forasteiros, compreendendo pessoal técnico, operários, empreiteiros, empresários, negociantes, bem como a chegada de equipamentos, materiais, mercadorias, tecnologias, conhecimentos, informações, ideologias, religiões, práticas, costumes, capitais e idiomas estrangeiros...”.

Caso Oblíquo foi um dos 23 projetos literários contemplados com a Bolsa do Programa Petrobras Cultural, em sua primeira edição, lançada em 2007.

Deu no jornal O Tempo

Ancestralidade e tradições africanas

(Por: Fabiano Chaves). "A ancestralidade africana, suas tradições e as relações familiares são aspectos que a autora Cidinha da Silva aborda na obra "Os Nove Pentes D’África", seu primeiro trabalho infanto-juvenil, que ela lança neste fim de semana, na capital. Motivada pelo anseio de uma sobrinha em ler um livro seu dedicado às crianças, Cidinha conta que nunca havia pensado em escrever uma obra para crianças e adolescentes. "Foi uma demanda familiar", diz a autora. Na obra, ela conta a história de uma família negra brasileira, que vive na periferia, onde o patriarca, já a beira da morte, presenteia os netos com pentes de madeira africanos. "Ele conhece muito bem os netos, e cede a cada um deles um pente que traduz as características dos netos. Todos os pentes são carregados com virtudes, como o amor, dedicação, entre outros", afirma. Historiadora, ensaísta e militante do movimento de mulheres negras, Cidinha da Silva diz que sua produção literária sempre busca referências nas tradições e na ancestralidade africana. "Isso é algo que me formatou, me define como pessoa e está presente na minha produção literária", destaca a autora, que já publicou obras como "Ações Afirmativas em Educação: Experiências Brasileiras" (2003), série de ensaios organizados por ela, "Cada Tridente em seu Lugar" (2007), seu primeiro trabalho na ficção, e "Você me Deixe, Viu? Eu Vou Bater meu Tambor" (2008), coletânea de crônicas e contos. Agenda O que: Lançamento do livro "Os Nove Pentes D’África" (editora Mazza, 56 págs, R$ 18), da autora Cidinha da Silva. Quando: Sábado, às 20h. Onde: Espaço da do grupo de teatro Cia. da Farsa (rua dos Caetés, 616, centro). Quanto: Entrada franca. Trecho da orelha do livro: "Cidinha da Silva é uma amiga minha que escreve como quem trança ou destrança cabelos e nos presenteia com pentes presentes cheios de passado, que nos ajudam a destrinçar o futuro. Seus pentes são pontes de compreensão entre o que somos nós negros brasileiros agora, nossos avós recentes e os tais ancestrais africanos. E pontes entre nós e nossos filhos e sobrinhos, os que vêm depois de nós. Compreensão aqui que eu digo é aquele entendimento afetuoso, apaixonado até cheio de compaixão no sentido de gratidão pelo que se é". (Chico César, compositor que assina a orelha do livro). Comum em boa parte das obras infanto-juvenis, as ilustrações são destaques em "Os Nove Pentes D’África". Criadas pela ilustradora Iléa Ferraz, as imagens trazem os pentes do amor e da alegria, da perseverança, passagem, despedida, do giro da roda, da liberdade, da admiração, da sabedoria e da renovação da vida". 

10.11.09

Zé Celso no Estadão de hoje

10/11/2009
Tropicália, sob o signo de escorpião 
Estado de São Paulo - José Celso Martinez Corrêa

No mesmo dia em que Caetano fazia sua entrevista de capa, muito bela como sempre, no Caderno 2 do Estadão, o Ministro Ecologista Juca Ferreira publicava uma matéria na Folha na seção Debates. Um texto extraordinariamente bem escrito em torno da cultura, como estratégia, iniciada no 1º Governo de Lula ao nomear corajosa e muito sabiamente Gilberto Gil como Ministro da Cultura e hoje consolidada na gestão atual do Ministro Juca. Hoje temos pela primeira vez na nossa história um corpo concreto de potencialização da cultura brazyleira: o Ministério da Cultura, e isso seu atual Ministro soube muito bem fazer, um CQD em seu texto.  

Por outro lado, meu adorado Poeta Caetano, como sempre, me surpreendeu na sua interpretação de Lula como analfabeto, de fala cafajeste, abrindo seu voto para Marina Silva.

Nós temos muitas vezes interpretações até gêmeas, mas acho caetanamente bonito nestes tempos de invenção da democracia brazyleira, que surjam perspectivas opostas, mesmo dentro deste movimento que acredito que pulsa mais forte que nunca no mundo todo, a Tropicália.

Percebi isso ao prefaciar a tradução em português crioulo = brazyleiro do melhor livro, na minha perspectiva, claro, escrito sobre a Tropicália: Brutality Garden, Jardim Brutalidade, de Chris Dunn, professor de literatura Brazyleira, na Tulane University de New Orleans.

Acho, diferentemente de Caetano, que temos em Lula o primeiro presidente antropófago brazyleiro, aliás Lula é nascido em Caetés, nas regiões onde foi devorado por índios analfabetos o Bispo Sardinha que, segundo o poeta maior da Tropicália, Oswald de Andrade, é a gênese da história do Brazil. Não é o quadro de Pedro Américo com a 1ª Missa a imagem fundadora de nossa nação, mas a da devoração que ninguém ainda conseguiu pintar.

Lula começou por surpreender a todos quando, passando por cima das pressões da política cultural da esquerda ressentida, prometeica, nomeou o Antropófago Gilberto Gil para Ministro da Cultura e Celso Amorim, que era macaca de Emilinha Borba, para o Ministério das Relações Exteriores, Marina Silva para o Meio Ambiente e tanta gente que tem conquistado vitórias, avanços para o Brasil, pelo exercício de seu poder-phoder humano, mais que humano.

Phoderes que têm de sambar pra driblar a máquina perversa oligárquica, podre, do Estado brasileiro. Um estado oligárquico de fato, dentro de um Estado Republicano ainda não conquistado para a "res pública". Tudo dentro de um futebol democrático admirável de cintura. Lula não pára de carnavalizar, de antropofagiar, pro País não parar de sambar, usando as próprias oligarquias.

Lula tem phala e sabedoria carnavalesca nas artérias, tem dado entrevistas maravilhosas, onde inverte, carnavaliza totalmente o senso comum do rebanho. Por exemplo, quando convoca os jornalistas da Folha de S. Paulo a desobedecer seus editores e ouvir, transmitindo ao vivo a phala do povo. A interpretação da editoria é a do jornal e não a da liberdade do jornalista. Aí , quando liberta o jornalista da submissão ao dono do jornal, é acusado de ser contra a liberdade de expressão. Brilha Maquiavel, quando aceita aliança com Judas, como Dionísios que casa-se com a própria responsável por seu assassinato como Minotauro, Ariadne. É realmente um transformador do Tabu em Totem e de uma eloquência amor-humor tão bela quanto a do próprio Caetano.

Essa sabedoria filosófica reflete-se na revolução cultural internacional que Lula criou com Celso Amorim e Gil, para a política internacional. O Brasil inaugurou uma política de solidariedade internacional. Não aceita a lógica da vendetta, da ameaça, da retaliação. Propõe o diálogo com todos os diabos, santos, mortais, tendo certa ojeriza pelos filisteus como ele mesmo diz. Adoro ouvir Lula falar, principalmente em direto com o público como num teatro grego. É um de nossos maiores atores. Mais que alfabetizado na batucada da vida, lula é um intérprete dela: a vida, o que é muito mais importante que o letrismo. Quantos eruditos analfabetos não sabem ler os fenômenos da escrita viva do mundo diante de seus olhos?

Eu abro meu voto para a linha que vem de Getúlio, de Brizola, de Lula: Dilma, apesar de achar que está marcando em não enxergar, nisto se parece com Caetano, a importância do Ministério da Cultura no Governo Lula. Nos 5 dedos da mão em que aponta suas metas, precisa saber mais das coisas, e incluir o binômio Cultura & Educação.

Quanto a Marina Silva, quando eu soube que se diz criacionista, portanto contra a descriminalização do aborto e da pesquisa com células-tronco, pobre de mim, chumbado por um enfarte grave, sonhando com um coração novo, deixei de sequer imaginar votar nela. Fiz até uma cena na Estrela Brasyleira a Vagar - Cacilda!! para uma personagem, de uma atriz jovem contemporânea que quer encarnar Cacilda Becker hoje, defendendo este programa tétrico.

Gosto muito de Dilma, como de Caetano, onde vou além do amar, vou pra Adoração, a Santa adorada dos deuses. Acho a afetividade a categoria política mais importante desta era de mudanças. "Amor Ordem e Progresso." O amor guilhotinado de nossa bandeira virou um lema Carandiru: Ordem e Progresso, só.

Apreendi no livro de Chris Dunn que os americanos chamam esta categoria de laços homossociais, sem conotação direta com o homoerotismo, e sim com o amor a coisas comuns a todos, como a sagração da natureza, a liberdade e a paixão pelo amor energia, santíssima eletricidade. Sinto que nessas duas pessoas de que gosto muito, Caetano e Dilma, as fichas da importância cultural estratégica, concreta, da Arte e da Cultura, do governo Lula, ainda não caíram.

A própria pessoa de Lula é culta, apesar de não gostar, ainda, de ler. Acho que quando tiver férias da Presidência vai dedicar-se a estudar e apreender mais do que já sabe em muitas línguas. Até hoje ele não pisou no Oficina. Desejo muito ter este maravilhoso ator vendo nossos espetáculos. Lula chega à hierarquia máxima do teatro, a que corresponde ao papa no catolicismo: o palhaço. Tem a extrema sabedoria de saber rir de si mesmo. Lula é um escândalo permanente para a mente moralista do rebanho. Um cultivador da vida, muito sabido, esperto. Não é à toa que Obama o considera o político mais popular do mundo.

Caetano vai de Marina, eu vou de Dilma. Sei que como Lula ela também sente a poesia de Caetano, como todos nós, pois vem tocada pelo valor da criação divina dos brazyleiros. Essa "estasia", Amor-Humor, na Arte, que resulta em sabedoria de viver do brasileiro: Vida de Artista. Não há melhor coisa que exista!

Lula faz política culta e com arte. Sabe que a cultura de sobrevivência do povo brasileiro não é super, é infra estrutura. Caetano sabe disso, é uma imensa raiz antenada no rizoma da cultura atual brazyleira renascente de novo, dentro de nós todos mestiços brazyleiros. Fico grato a Caetano ter me proporcionado expor assim tudo que eu sinto do que estamos vivendo aqui agora no Brasil, que hoje é um país de poesia de exportação como sonhava Oswald de Andrade, que no Pau Brasil, o livro mais sofisticado, sem igual brazyleiro canta:

"Vício na fala
Pra dizerem milho dizem mio
Pra melhor, dizem mió
Para telha, dizem teia
Para telhado, dizem teiado
E vão fazendo telhado"

4.11.09

AGITO CULTURAL


A convite do meu amigo e parceiro Chico de Paula, vou fazer com ele, na próxima sexta-feira, dia 6, a performance – inédita – Dois espelhos no escuro. O lance faz parte do Agito Cultural, promoção conjunta das produtoras Emvideo e Arquipélago e do Rec Studio que contará, ainda, com o Jack single pocket show de Aggeo Simões, a exibição do documentário Marés de águas-mortas, de Marcus Nascimento, a videoinstalação Imagens de ofícios, de Evandro Rogers e Chico de Paula e, por fim, mas não por ultimo, o lançamento do jornal Embrulho, editado por Chico de Paula e Marcus Nascimento. Além disso, estarão à venda livros – meus, inclusive –, CDs, DVDs e muita coisa mais.


1.11.09

Uma alegria

Uma beleza o vídeo que a produção do Fórum das Letras de Ouro Preto fez com o grande poeta-designer Guilherme Mansur. De todos nós que nos deixamos nortear pelo projeto concreto, Mansur é certamente um dos que foi mais longe na atualização da ideia – pignatariana – do poeta como “designer da linguagem”. Amei o vídeo porque ele mostra uma alegria que há muito se tornou matéria escassa quando o assunto é a poesia brasileira dita contemporânea. E porque está lá o corpo do poeta: na mesa da qual participei no dia 30 (na foto, de Eduardo Trópia, com a editora francesa Anne-Marie Metaillié) ainda sem ter visto o vídeo, afirmei, numa resposta sobre o trânsito entre a palavra impressa e a performance, que minha meta é, sempre, explorar como linguagem aquilo que no corpo se dá a ler e ao que no livro é corpo, pura materialidade. Algo assim, não me lembro bem. Importa é dizer que o show de bola dado por Guilherme em torno de sua bela mesa-mandala negra – transformando o “corpo da doença” em corpo da poesia – é a performance poética mais simples, intensa e desconcertante que assisti nos últimos tempos.