24.12.09

Uma cantiga

Mudança de Estação

 

Gente bonita

tá me vindo


a tentação


de lhes mostrar


mudança de estação


 

O rio tá raso


estrela fraca

sem razão


 

Vai ver vai ver


é mudança de estação


vai ver, vai


é noite de São João



 

Eu quis saber

aonde fica


o coração


e acabei com uma


estranha sensação


 

Vai ver vai ver


é mudança de estação


Vai ver vai


é noite de São João



 

Gente bonita olha só


quem vem chegando


alguém sorrindo


alguém chorando


e a multidão


 

Vai ver vai ver


é mudança de estação


vai ver vai


é noite de São João

 

Das músicas que Paulo Leminski escreveu sozinho – letra e melodia – Mudança de Estação é a minha favorita. Motivo: em 1981, quando voltei a ter uma turma, depois de uma temporada no inferno que vinha desde 1978, era essa uma das cantigas que nós gostávamos de sair cantando pelas ruas do bairro, noite adentro. É Natal, eu sei, e a letra fala numa “noite de São João”, mas não importa: quero, com essa belezura – aqui, numa interpretação esplêndida do grupo A Cor do Som – dizer a vocês que, sim, só a mudança permanece, como ensinou Heráclito. E que 2010 será muito melhor para nós tod@s. Vai ver, vai.

18.12.09

Como já dizíamos no Movimento Literatura Urgente, em 2005, não basta falar só de LIVRO e LEITURA,

TEMOS FOME DE LITERATURA



Leonardo Brant, do site Cultura e Mercado, fala sobre os bastidores da aprovação do "Simples da Cultura" no Senado

Simples da Cultura aprovado no Senado


Cultura e Mercado - Leonardo Brant



Com 51 votos favoráveis, o Plenário do senado  aprovou dia 16 de dezembro o chamado “Simples da Cultura”. O projeto de lei complementar, baixa as alíquotas de imposto cobradas dos produtores e intérpretes musicais, de artes cênicas, visuais, cinematográficas, audiovisuais e literárias, de 18% para até 6%. Com a medida, o setor cultural será incluído no chamado sistema Simples Nacional de tributação.

Reproduzo aqui o relato de Odilon Wagner, da APTI, um dos grandes articuladores desse processo, boicotado inclusive pelo MinC, e que merece o nosso reconhecimento:

“A aprovação se deu depois de um longo trabalho da comunidade cultural no Congresso ao longo deste ano. Como não houve alteração, a proposta seguirá diretamente para a sanção presidencial. Isso permitirá que o setor cultural mude de categoria e passe a pagar uma alíquota mínima de 6%, em vez dos atuais 17,5% para empresas com faturamento de até R$ 120 mil. Ao todo, o Simples da Cultura une quatro impostos federais, um estadual e um municipal, entre eles ICMS e ISS.

Essa nova lei recupera a situação que os produtores culturais já tinham anteriormente, na Lei das Micro e Pequenas Empresas. Esse é um projeto faz justiça e vai trazer incentivos para o setor, que gera 5% do PIB brasileiro e 6% do trabalho formal do país.

Isso é motivo para muita comemoração, pois, apesar de o Simples da Cultura atingir empresas com faturamento de até R$ 2,4 milhões, a grande maioria vai ser enquadrada na alíquota de até R$ 120 mil. Vamos reduzir muito os nossos gastos. O Simples é mais que necessário para tirar o setor da informalidade.

Parabéns a todos que se uniram para essa conquista.

A NOVA LEI NOS COLOCA NO ANEXO 3 DO SUPER SIMPLES. IMPORTANTE: AVISEM SEUS CONTADORES PARA QUE ANALISEM SUAS EMPRESAS E FAÇAM A OPÇÃO PELO SIMPLES ATÉ 31 DE JANEIRO DE 2010.

Foi uma grande conquista e estamos todos felizes, pois os impostos elevadíssimos que estavamos pagando causaram estragos irreparáveis em nosso setor, fechando produtoras e levando outras para a informalidade, contudo, algumas considerações se fazem necessárias;

Esse projeto só passou, pelo incansável trabalho das entidades de classe, artistas e produtores que trabalharam arduamente durante todo o ano de 2009 e até ontem , minutos antes da votação.

Porém, da parte do Ministério da Cultura, a quem apelamos para que nos representasse nesse processo, só vimos descaso e incompetência, como sempre. Nós pensavamos que tudo estava certo para a votação do Simples da Cultura, ontem no plenário do Senado, quando nos deparamos com a notícia de que o projeto sequer estava em pauta de votação. O que descobrimos, é que o Vale Cultura, (que independente de seus benefícios futuros é um projeto eleitoreiro) esse sim, estava colocado em pauta como “votação de urgência”. Ou seja, o Simples Nacional, que vai beneficiar de imediato toda a produção cultural do país, estava sendo colocado de lado pelo MINC.

Felizmente conseguimos reverter essa situação momentos antes da votação. Um grupo de artistas e produtores, juntamente com os inestimáveis parceiros que temos na comissão de cultura do senado, correu de uma lado para o outro no congresso, contatou  as lideranças partidárias, conscientizando-os da importancia dessa desoneração para o nosso setor. Sensibilizados, os parlamentares não só colocaram o Simples da Cultura como primeiro item do dia a ser votado, como derrubaram a “Urgência” na votação do Vale Cultura. Só nessa hora os representantes do Minc apareceram, foram incompetentes até para seguir e acompanhar as votações que eram de seu interesse, como o Vale Cultura (aquele projeto que trará benefícios, mas que é eleitoreiro) – Diga-se de passagem que no final de 2008 quando, na calada da noite, nos tiraram o direito de ser Simples na Cultura, o Minc também não estava lá. Parece que eles ainda não descobriram o que é assessoria parlamentar.

Deixamos aqui nossos agradecimentos à Comissão de Cultura do senado, aos artistas e produtores que ontem lá estiveram e aos Senadores que unanimamente votaram à nosso favor. Faça-se justiça a participação importante dos Senadores Romero Jucá, Marisa Serrano, Flavio Arns, Osmar Dias, Arthur Virgílio, Ideli Salvatti e Aloisio Mercadante.”

* Publicado no site da APTI: http://www.apti.org.br/

9.12.09

ARQUIVOX


O espetáculo ARQUIVOX, no qual eu venho trabalhando há mais de três meses, ficará para 2010, fevereiro ou março. Motivo: o novo site do Itaú Cultural, que abrigará a série radiofônica ARQUIVOX: A paisagem sonora da poesia brasileira, que produzi a convite da instituição, não ficou pronto a tempo. Normalmente eu até festejaria a conquista de um prazo maior para a conclusão de um trabalho, mas agora não. É que, além do maravilhoso repertório (gravações originais de Augusto de Campos, Décio Pignatari, Paulo Bruscky, Philadelpho Menezes, Jomard Muniz de Britto, Arnaldo Antunes, Marcelo Dolabela, Ricardo Corona, Ricardo Domeneck e Marcelo Sahea, entre outros craques) em torno do qual se estrutura o roteiro do espetáculo, sou tocado pela enorme vontade de subir no palco com os bailarinos Franciane de Paula e Jorge Schutze, a cantora Patrícia Ahmaral e o sound designer Daniel Reis. Como diria Américo, meu pai, “o que não tem remédio, remediado está”. O jeito é esperar por 2010.

PS: A foto acima, de uma época (1987) em que minha cabeça era plena de cabelos e daqueles sonhos que só nos atormentam enquanto ainda não chegamos à casa dos trintanos, é do poeta, ator, diretor teatral e fotógrafo Hélio Zolini, a quem mando um abraço de anos-luz.

8.12.09

A língua solta (por aí) de Waly

Emílio ou da educação

 

Garoto

Você é meu

Garoto

Você mora no meu coração

Garoto

Quando tiver condições

Quero morar com você

Garoto.

 

                        [Waly Salomão]

 

 

Emílio terá hekombo’ekuaa rehegua

 

Mitãmi

nde che mba’e

mitãmi

reikove che py’aitépe

mitãmi

ikatúramo

aikovese nendive

mitãmi.

 

[Tradução de Wolf Lustig

para o guarani paraguaio]

 

 

Emiliumanta Yachachiymantapis

 

Wayna

Noqajta kanki

Wayna

Sonqoy qayllanpi tiakunki

Wayna

Tukuy ima allin kasajtin

Qanwan tiakuyta munani

Wayna

 

[Tradução de Mercedes Paz-Carty

para o quéchua boliviano]

 


Emili o de l’educació

 

Xiquet

ets meu

xiquet

tu vius al meu cor

xiquet

quan tingui condicions

voldria viure amb tu

xiquet.

 

[Tradução de Wolf Lustig

para o catalão]


 

Εμίλιο ή περί παιδαγωγίας

 

Παιδί μου

είσαι δικό μου

παιδί μου

μένεις στην καρδιά μου

παιδί μου

άμα θα είναι δυνατό

θέλω να μείνω μαζί σου

παιδί μου.

 

[Tradução de Wolf Lustig

para o grego moderno]

 

Clique aqui quem quiser conhecer as versões do poema de Waly Salomão para outras línguas.

2.12.09

Quem vai?

Joan Brossa

A melhor coisa que fiz no dia de ontem foi, depois de colocar ponto final num pequeno texto sobre o poeta Guilherme Mansur, a  ser publicado em edição especial do Suplemento Literário de Minas Gerais dedicada aos 5 anos do Fórum das Letras de Ouro Preto, dar uma conferida no que anda fazendo o poeta Marcelo Sahea. Encontrei lá no blog dele um vídeo incrível, sobre uma performance de Joan Brossa, de 1997 – recriada em São Paulo, há quatro anos, por Adriana Calcanhotto. Foi numa homenagem que ela, Arnaldo Antunes, Tom Zé, Adolfo Montejo Navas, Sérgio Alcides,  Lenora de Barros, Cid Campos, Walter Silveira, este ciberposseiro e outros prestamos ao grande catalão, sob o comando de João Bandeira, no acolhedor auditório do Centro Cultural MariAntonia, em São Paulo. Fascinado com o vídeo, procurei no youtube outras coisas brossianas e dei com um pequeno – e tocante – documentário sobre a montagem teatral de um texto do "poeta buscão", como o chamou, em poema, seu amigo João Cabral.