29.11.08

Notícias de Maceió


Aos poucos, os compromissos que me ocuparam ao longo do ano vão se tornando lembranças boas, experiências únicas, riquezas para sempre. É o que de mais consistente consigo dizer, por ora, do que aconteceu aqui em Maceió, anteontem, ondequando apresentei, no Teatro Jofre Soares, a palestra-performance Desvios para a dispersão: Orfeu, John Cage, Exu. Vou precisar de algum tempo para processar tudo o que eu e meus convidados Marcelo Marques, Gláucia Machado, Tazio Zambi e Susana Souto, integrantes do grupo TEXTA, mais o bailarino Jorge Shultze, fizemos, digo, vivemos, como se apenas déssemos prosseguimento a práticas exaustivamente planejadas ou ensaiadas.

Gláucia circulou – cageanamente – pela platéia com um rádio ligado, sem se fixar numa estação específica, para incômodo de alguns que ainda cultivavam a ilusão de ouvir com clareza o texto da palestra, que li em diferentes andamentos, timbres, intensidades e volumes. Minha leitura se fazia entremeada a breves ações que desenvolvi com o poemanto e a improvisações no laptop e no piano preparado – sempre sob as lentes da máquina de Susana Souto, que fotografava do palco e, com sua pre/sença, ajudava a produzir a dispersão enunciada no título. Simultaneamente, Tazio, com um projetor no colo, lançava com (im)precisão suprematista as imagens de meu vídeo-em-progresso “No que pensam os pés quando longe da bola”: nas paredes laterais ou no teto, no cubo que demarcava o “grau zero” da performação de Jorge (este, um experimentado bailarino, capaz de proezas corpográficas que jamais se esgotam nelas mesmas) ou sobre a projeção, no fundo negro do palco, de um outro vídeo criado por mim.

Deixei para dizer por último, propositalmente, alguma palavra sobre Marcelo Marques, músico, poeta e autor de dissertação de mestrado – defendida na semana passada – sobre a tipografia na obra de Augusto de Campos. A energia criativa desse rapaz de 27 anos é algo raro de se ouver. O mesmo se diga da serenidade, do preciosismo e da altivez com que se entrega ao que faz. Tocando pequenos instrumentos de sopro, respondendo à minha gritaria “filodadaísta” ou improvisando no piano preparado – junto comigo ou sozinho –, tudo o que vinha dele era música em estado de poesia.

Na oficina que ministrei aqui, em dezembro do ano passado, eu já havia reparado em sua disponibilidade – corporal, inclusive – para o improviso, essa arte à parte tão complexa, mas agora, convivendo com ele no palco e nas sessões de gravação do CD do grupo TEXTA, constato que a conversa é bem mais séria: ou muito me engano ou, em breve, Maceió será pequena para tanto talento.

Hoje à noite Marcelo se apresentará no mesmo teatro com sua banda, a elogiada Gato Zarolho, e eu vou lá conferir. Tomara seus conterrâneos entendam que aqui, sob o azul-céu e mar desta cidade que viu nascer, há 111 anos, o poeta Edgard Braga, alguém se prepara para assumir, contra todos os obstáculos – dos quais a surdez do mercado é apenas a mais óbvia –, a grandeza de seu destino.


23.11.08

Novas



Mais uma semana puxada, a que se inicia. Nem descansei do Encontro das Literaturas (além do estande do LIRA em si, houve os lançamentos do meu livro novo, Céu inteiro, e da 6ª edição da revista Roda – Arte e cultura do Atlântico Negro) e já fui para São Paulo participar do espetáculo intermídia Barrocodelia, que abriu com grande sucesso a Mostra Contemporânea de Arte Mineira, no SESC-Pompéia.

Com o programa de rádio Palavra falante: o som da poesia quase pronto, viajo para Maceió na terça-feira à noite, para dirigir, já a partir do dia seguinte, as gravações do CD de estréia do grupo TEXTA e apresentar, na quinta, a performance-palestra Desvios para a dispersão: Orfeu, Cage, Exu, dentro da programação da I Jornada Literária, promovida pelo SESC.

Em tempo (1): quem quiser saber da Roda, dê uma espiada no comovente texto que o designer gráfico, poeta e meu amigo Bruno Brum escreveu sobre seu retorno à equipe da revista.

Em tempo (2): a turma do “zoião” nem viu, mas durante os 7 dias em que durou o estande, mantive lá, verde, viçoso e venenoso, um exemplar de Dieffenbachia picta Schott, a popular “Comigo-ninguém-pode”. Funcionou. Continuará funcionando.

13.11.08

LIRA no 9º Encontro das Literaturas

Alguns registros do estande do LIRA no 9º Encontro das Literaturas: vista geral da banca de livros de poesia, com as 5 primeiras edições da revista Roda - Arte e Cultura do Atlântico Negro em destaque; o lema do/a LIRA, recém-chegado da gráfica; a folha de rosto do meu livro novo, Céu inteiro, "arranjado" pelo designer gráfico Flávio Vignoli.



Hoje à noite terá início a programação artística do estande, com uma sessão de autógrafos e leituras a cargo dos poetas Bruno Brum, Chico de Paula, Eduardo Jorge e Waldemar Euzébio (que ainda levará, para duetar com ele, sua filha Gabriela Pilati). A partir das 20h.

No sábado, às 11h, lanço Céu inteiro, primeiro volume da coleção Elixir, que tem este nome em homenagem aos 20 anos de lançamento da edição mais recente do Elixir do Pajé, do simbolista mineiro Bernardo de Guimarães, e aos 70 de vida do editor da referida preciosidade, meu mestre e amigo Sebastião Nunes. No domingo, às 18h, nova rodada de homenagens a Tião, personagem principal da 6ª edição da revista Roda.

12.11.08

CÉU INTEIRO


Mais razão que emoção

foto Beto Magalhães/Em/D.A Press

Janaina Cunha Melo



O poeta Ricardo Aleixo lança hoje [N: no próximo sábado, dia 15, a partir das 11h] o livro de poesia Céu inteiro, no 9º Encontro das Literaturas, no Chevrolet Hall. O novo trabalho reúne cinco lipogramas – forma gráfica em que cada poema perde uma vogal –, que abrem a coleção Elixir, idealizada pelos designers Flávio Vignoli e Laura Bastos. A tônica do projeto, explica Aleixo, está na riqueza da relação entre tipografia e poesia que, ao longo da história, “vem revelando ótimos frutos”, apesar da descoberta tardia da arte gráfica no Brasil. A programação do encontro também oferece oficinas, contação de histórias, seminário, bate-papo com autores e palestra com o professor Ilan Brenman, de São Paulo, entre outras atividades, sempre com entrada franca.

Há quatro anos sem lançar poemas inéditos, Ricardo Aleixo tem se dedicado à performance intermídia. Para ele, esta é uma maneira diferente de lidar com conteúdos poéticos e obter maior alcance de público. “O livro ainda é um objeto estranho no cotidiano, que freqüenta pouco a casa das pessoas”, observa. Para compor Céu inteiro, ele escolheu poemas de escrita rarefeita, que exigiram mais racionalidade que intuição. “Quem procurar a realidade como ela é não vai encontrá-la de imediato. Criar lipogramas exige outro tipo de esforço, para organizar o raciocínio em torno de idéias que não podem ser expressas com todas as palavras, porque é necessário eliminar letras específicas em cada texto”, explica.

Apesar do investimento em outras formas de expressão, a poesia continua sendo o alicerce do trabalho de Ricardo Aleixo. Ele conta que seus versos se alimentam das relações e da observação de que a linguagem é um espaço de afirmação e construção do poder em várias dimensões. Sua literatura, acrescenta, rejeita a idéia de que a criatividade seja atributo de deuses ou pessoas especiais. “Tudo que está no entorno das relações humanas me interessa como matéria da poesia que faço. A palavra vem se tornando cada vez mais uma questão estratégica no mundo, tão importante quanto a terra ou outros bens naturais.” No Encontro das Literaturas, ele também lança, domingo, a revista Roda – Arte e cultura do Atlântico negro, que nesta edição homenageia o poeta Sebastião Nunes. Até o fim do ano, Aleixo ainda estréia a série Palavra falante: O som da poesia, em rádio web do Itaú Cultural, oferece cursos de designer sonoro, no Lira – Laboratório Interartes Ricardo Aleixo, e realiza performance em Alagoas, onde dirige o grupo Texta em gravação de CD de poesia. Em dezembro, também lança Com a palavra, de seu pai, Américo Basílio de Britto, morto em setembro, aos 97 anos, deixando poemas e prosa inéditos. “O livro tem a importância de uma homenagem e reúne os textos de alguém que quis afirmar o direito a este bem comum, que é a palavra.”

Semana que vem, Ricardo Aleixo apresenta a performance Barrocodelia, na Mostra Contemporânea de Arte Mineira, em São Paulo. O espetáculo vai contar com a participação de Chico de Paula, Rui Moreira, DJ Rato, Gil Amâncio, Jorge dos Anjos e Benjamim Abras. 9º ENCONTRO DAS LITERATURAS. Hoje [N: sábado, dia 15, a partir das 11h, no estande 11], a partir das 9h, no Chevrolet Hall (Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi). Entrada franca. Informações: (31) 3209-8989.