25.1.10

UM POST SÓ PARA QUEM SABE QUE POETAS NÃO VIVEM DE BRISA

Li no blogue de Ademir Assunção uma notícia sobre o estado de saúde do grande poeta ROBERTO PIVA que exige iniciativas tão solidárias quanto urgentes. Marcelo Sahea descobriu o número da conta do poeta, para aqueles que desejarem/puderem colaborar com qualquer quantia:

Itaú
agência 0036
cc 20592-0
cpf 565 802 828-00

17.1.10

Encruzilhadas

Lembranças de um feiticeiro, II. Nosso primeiro princípio dizia: matilha e contágio, contágio de matilha, é por aí que passa o devir-animal. Mas um segundo princípio parece dizer o contrário: por toda parte onde há multiplicidade, você encontrará também um indivíduo excepcional, e é com ele que terá que fazer aliança para devir-animal. Não um lobo sozinho talvez, mas há o chefe de bando, o senhor de matilha, ou então o antigo chefe destituído que vive agora sozinho, há o Solitário, ou ainda o Demônio. (…) 


Há sempre o pacto com um demônio, e o demônio aparece ora como chefe de bando, ora como Solitário ao lado do bando, ora como potência superior do bando. O indivíduo excepcional tem muitas posições possíveis. [G. Deleuze & F. Guattari – Mil Platôs, vol. 4, Ed. 34, trad. Suely Rolnik]



16.1.10

Um poema de Murilo Mendes, uma instalação de Bill Viola


SÃO JOÃO DA CRUZ

 


Viver organizando o diamante

(Intuindo sua face) e o escondendo.

Tratá-lo com ternura castigada

Nem mesmo no deserto suspendê-lo.

 

Mas

Viver consumido da sua graça.

Obedecer a esse fogo frio

Que se resolve em ponto rarefeito.

Viver: do seu silêncio se aprendendo.

Não temer sua perda em noite escura.

 

E, do próprio diamante já esquecido,

Morrer, do seu esqueleto esvaziado:

Para vir a ser tudo, é preciso ser nada.

 



[O poema foi extraído do livro Tempo Espanhol, editado pela primeira vez no ano de 1959, em Portugal. A instalação de Bill Viola, Room for the St. John of the Cross, é de 1983]

14.1.10

Beatriz Preciado e a via transfeminista


Dinamitemos el binomio género y sexo como práctica política. Sigamos el camino que empezamos, “no se nace mujer, se llega a serlo”, continuemos desenmascarando las estructuras de poder, la división y jerarquización. Si no aprendemos que la diferencia hombre mujer, es una producción cultural, al igual que lo es la estructura jerárquica que nos oprime, reforzaremos la estructura que nos tiraniza: las fronteras hombre/mujer. Todas las personas producimos genero, produzcamos libertad. Argumentemos con infinitos géneros… [do MANIFIESTO PARA LA INSURRECCIÓN TRANSFEMINISTA, lançado em fins de dezembro de 2009 durante as Jornadas Feministas Estatais, em Granada, Espanha, do qual Beatriz Preciado é uma das subscritoras]

Para quem ainda não conhece a filósofa e teórica queer Beatriz Preciado, podem ser encontradas em seu site duas excelentes (e desconcertantes) entrevistas em que ela detalha sua linha de pensamento-ação.

10.1.10

ou é tudo ou nada: como querer algo pela metade?

















Texto e fotos (HO por Andreas e Romero por HO) foram extraídos daqui.

4.1.10

Meta: manter nosso futuro aberto

Do excelente livro Entrevistas, do curador alemão Hans Ulrich Obrist, publicado em dois volumes pela coleção Cobogó-Inhotim, extraio uma das luminosas respostas da incrível Yoko Ono. 

A pergunta é sobre a internet: se a grande rede “pode ser/ter sido uma espécie de realização parcial da utopia dos anos 1960”. Yoko: “É claro. Acho que é quase como uma conclusão lógica. Era lógico pensar dessa maneira. Muitos artistas, poetas e compositores estavam nos oferecendo profecias. Não sei o que acontece primeiro: se a coisa inevitavelmente acontece e as pessoas sentem e  falam sobre ela ou se acontece porque os poetas, compositores e artistas desejaram que acontecesse ao afirmarem-na sob a forma de previsões. Mas é algo bonito e que nos salva do horrível e destrutivo pesadelo do Juízo Final. John e eu insistimos em prever um futuro muito bonito e aberto. Digo John e eu porque acho que não havia mais ninguém fazendo isso de maneira tão pública. À época, fomos acusados de ingenuidade por outros compositores, artistas e políticos da resistência. Nós nos sentíamos sozinhos nisso. Acho muito importante dar seguimento ao diálogo, manter nosso futuro aberto, e não fechado.” 

Em comemoração à existência, neste mundo, de pessoas raras como a senhora Yoko, mostro a quem se interessar o caminho para uma de suas criações mais radicais, o ainda hoje inspirador Unfinished Music nº 1 – Two Virgens, gravado em 1968, no estúdio que ela dividiu por tantos anos com seu marido John Lennon Ono, com quem assinou a autoria do belo estranho disco em questão.