27.4.10

Um poema para minha mãe


PS: Hoje a Dona Íris completaria 92 anos. O poema acima integra o livro Modelos vivos, que agora já tem editora (a Crisálida, do Oséias Ferraz, grande sujeito aqui de Belo Horizonte), data e local de lançamento (18 de julho, em São João del Rey, abrindo a programação da área de literatura do Inverno Cultural). Vida que segue.


21.4.10

A cidade da minha idade

Na primeira vez que me apresentei em Brasília, junto com meus amigos bons Reginaldo Gontijo e Francisco K (àquela altura, dezembro de 2005, ele ainda assinava Francisco Kaq, e levou para performar conosco sua bela e talentosa filha Gabriela), senti uma enorme emoção quando, já no palco, me dei conta do significado de estar ali, na capital do País, com Augusto de Campos na plateia. Da importância de Augusto em minha vidapoesia, nem é bom falar, porque corro o risco de não mudar de assunto. Me interessa, agoraqui, é dizer que tive a chance, naquela noite, de viver a alegria de mostrar para o mais inventivo dos poetas vivos – em escala mundial, se me faço entender – algumas das boas lições que aprendi com a poesiavida dele não em qualquer outro lugar, mas em Brasília, a cidade construtivista por excelência.

É que Brasília – aqui, em foto de Marcel Gautherot –, que completa hoje 50 anos de vida, consta, na minha história pessoal, como a cidade cuja fundação se deu no mesmo ano do meu nascimento, como a Dona Íris sempre repetia. “Você é 5 meses mais novo que Brasília” e “Você nasceu no mesmo ano que Brasília” eram frases que mexiam muito comigo. A segunda, ainda mais, porque fazia supor que uma cidade podia “nascer”, como as pessoas. Já homem feito, descobri que pode, sim – da mesma forma como acredito ser possível uma pessoa se “construir”, se “desenhar”, se “projetar”, se “planejar” (“Todos nós, seres humanos, e independentemente de estarmos ou não conscientes disso, somos co-criadores no fluir das realidades variáveis que vivemos”, afirma o biólogo-pensador chileno Humberto Maturana).

Claro está que uma cidade nasce não apenas graças à clarividência de um político raro como Juscelino Kubitschek, à criatividade sem par de homens da estirpe do arquiteto Oscar Niemeyer e do arquiteto-urbanista Lucio Costa e à exploração da força de trabalho de 60 mil “candangos”. Uma cidade só vai, de fato, nascer – e continuar a fazê-lo – se for habitada por gentes interessadas em transformar, cada vez mais, a urbs em polis. E é isso que me comove sempre que penso na outra Brasília que, como já escrevi há tempos, “existe e resiste por trás da cidade chapa-branca”. Menino, eu ainda não tinha como identificar nas fotos da cidade – que eu via, fascinado, em revistas como Manchete e O Cruzeiro – o início da preparação da minha sensibilidade para a criação artística, fato (ou mito pessoal, tanto faz) que eu só viria a compreender umas duas décadas mais tarde, quando escrevi o poema “Brasília vista de perto”, publicado no meu livro de estreia, Festim, lançado em 1992: “assepsia cabocla/ tão bauhaus/ quanto barroca”.

Há exatos 15 anos pude, enfim, conhecer a cidade – “de perto” mesmo –, nas folgas de um sem-número de atividades profissionais. Gostei bem pouco do que vi, mas aquela era a Brasília oficial, onde eu ainda não tinha amigos, só uma agenda apertada a cumprir em poucos dias. “A experiência intensiva do momento, o sentimento de pleno bem-estar no tempo que parece inconsciente do passado e do futuro [e que] faz parte de muitas, senão de todas as sensações de beleza”, conforme a bela frase do arquiteto suíço Peter Zumthor, eu só viveria, com relação a Brasília, naquele dezembro de 2005, quando, por um caprichoso arranjo dos deuses, fui contemplado com a chance de reencontrar o poeta a quem mais devo na cidade que me deu minhas primeiras lições de ritmo, forma, construção, poesia. Que Brasília, para lá da corrupção e dos bolsões de miséria, mantenha vivo o sonho do arquiteto de abrigar pessoas (ele fala em “homens”) felizes e, assim, nasça o quanto ainda precisa nascer.

13.4.10

Conversa

Sou meu próprio produtor. Sempre fui. Da idealização de cada projeto até sua materialização, é tudo comigo – o que, por vezes, pouco representa diante da necessidade de inventar um cenário propício para cada novo trabalho que desenvolvo.

Penso que se trata menos de uma característica pessoal que de um traço distintivo da cultura contemporânea, a qual, por inúmeras razões, consolidou e dotou de novas qualidades (além de confrontar com novos desafios) a velha figura do artista-produtor. Sigo meu caminho como posso, mas me reservo o direito de sonhar com a hipótese de algum dia surgir um(a) produtor(a) capaz de perceber que o investimento em áreas como poesia, performance, arte eletrônica, arte sonora, artes visuais e outras pode ser vantajoso.

“Vantajoso”, evidentemente, é termo que não diz respeito à garantia de retorno financeiro fácil e imediato. Refiro-me é às inúmeras iniciativas de financiamento a projetos dessas áreas, que continuam a ser esnobadas pelos produtores – apesar dos recursos financeiros nada desprezíveis que têm sido disponibilizados por meio de editais públicos nos últimos anos.

O problema é que um número enorme de artistas talentosos e competentes continua à margem desses benefícios única e exclusivamente por não contar com a parceria de um produtor antenado, objetivo e ciente do papel cultural de sua profissão. Resulta de tal situação que esses artistas acabam desistindo diante da burocracia que se interpõe entre eles e a realização de seus projetos.

De minha parte, já estaria de bom tamanho encontrar algum(a) profissional disposto(a) a batalhar junto comigo por um poucochinho da montoeira de recursos financeiros que tenho deixado escapar por absoluta incapacidade de ser dois, isto é, de ser, todo o tempo, artista e produtor. É isso.

Quem quiser conversar a respeito, me chame no 88681624, obviamente, depois de dar uma conferida no tipo de trabalho que faço, para não perdermos tempo. Em tempo: quando digo “profissional”, levo em conta, também, a possibilidade de parcerias com aqueles e aquelas que estão dando seus primeiros passos no campo da produção.


6.4.10

FESTA

Iná é o nome da garota que embeleza, hoje, esta posse. Cruzamos olhares – de puro e eterno amor – pela primeira vez há exatos 15 anos, mas estou certo de que ela não guardou qualquer lembrança desse encontro. O que, verdade seja dita, pouco se me dá, como diziam os antigos. Espero que a Iná se lembre sempre, mesmo quando eu já não estiver por aqui, é do impacto de sua chegada sobre meu coração de pai de primeira viagem. E que ela não pare nunca de chegar.