O dia, hoje, é de festa para quem acompanha a poesia brasileira contemporânea e os estudos sobre a presença negra na formação - como processo ainda em aberto - da cultura do País: o poeta, antropólogo, ensaísta e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora Edimilson de Almeida chega à casa gloriosa dos 50 anos.
Aproveito a data para contar a toda gente que o poema "Dois", do meu livro TRÍVIO (2001) só não traz a dedicatória ("para Edimilson de Almeida Pereira") por um daqueles erros tão fáceis de se cometer quando o poeta é seu próprio editor. O erro permaneceu na reimpressão do livro, feita no ano seguinte ao lançamento, quando uma faculdade o incluiu na lista de obras do vestibular.
A foto abaixo, clicada pela poeta Prisca Agustoni, companheira de vidapoesia do meu mano em maio último, na UJFJ, mostra um dos raros encontros que pude ter, nos últimos anos, com o menos visível, digamos assim, dos meus amigos que considero essenciais. Conversamos muito, todo o tempo, mas em silêncio: sei que ele leva em conta o que eu diria sobre alguma questão específica, e é dessa forma que o trago para junto de mim e de meus projetos e histórias.
Dia virá, minha terceira margem já cantou a pedra, em que voltaremos a nos encontrar com alguma regularidade. Quando menos, para tentar justificar as boas palavras do poeta, antropólogo e nosso amigo comum Antonio Risério, que, no prefácio do livro-a-dois A RODA DO MUNDO, diz que "em Minas, onde africanos escravizados comeram o pão que o diabo europeu amassou", meu camaradinho e eu formamos uma dupla "jogo duro", disposta a "engrossar o caldo", com "um misto de suavidade e firmeza pessoal, ambos".
Saravá sua força, meu Irmão Maior! "Hoje é o grande dia/ muito festejado". O senhor, que já foi Rei Festeiro da pequena África dos Arturos, bem merece aqueles seus versos que cantam assim: "Em nós a alegria, em/ nós o compromisso./ Quem leva a coroa/ não tira mais nunca".
dois
para Edimilson de Almeida Pereira,
um que sabe s(ab)er
dois irmãos no começo. o que sabe o
caminho e o outro: dois. e não há
retorno. dois irmãos desde nunca. um,
o que vê e conta. outro, o que ouve.
dois. não se separam. por onde passam,
o mundo: o coração de um pássaro,
desvios, carcaças de antílope, cidades
riscadas do mapa, o dorso tigrino de um
presságio, o tempo mais velho, um deus
trocando a pele. dois irmãos ainda agora.