18.7.13

Para um que sabe s(ab)er

O dia, hoje, é de festa para quem acompanha a poesia brasileira contemporânea e  os estudos sobre a presença negra na formação - como processo ainda em aberto - da cultura do País: o poeta, antropólogo, ensaísta e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora Edimilson de Almeida chega à casa gloriosa dos 50 anos. 

Aproveito a data para contar a toda gente que o poema "Dois", do meu livro TRÍVIO (2001) só não traz a dedicatória ("para Edimilson de Almeida Pereira") por um daqueles erros tão fáceis de se cometer quando o poeta é seu próprio editor. O erro permaneceu na reimpressão do livro, feita no ano seguinte ao lançamento, quando uma faculdade o incluiu na lista de obras do vestibular.

A foto abaixo, clicada pela poeta Prisca Agustoni, companheira de vidapoesia do meu mano em maio último, na UJFJ, mostra um dos raros encontros que pude ter, nos últimos anos, com o menos visível, digamos assim, dos meus amigos que considero essenciais. Conversamos muito, todo o tempo, mas em silêncio: sei que ele leva em conta o que eu diria sobre alguma questão específica, e é dessa forma que o trago para junto de mim e de meus projetos e histórias. 

Dia virá, minha terceira margem já cantou a pedra, em que voltaremos a nos encontrar com alguma regularidade. Quando menos, para tentar justificar as boas palavras do poeta, antropólogo e nosso amigo comum Antonio Risério, que, no prefácio do livro-a-dois A RODA DO MUNDO, diz que "em Minas, onde africanos escravizados comeram o pão que o diabo europeu amassou", meu camaradinho e  eu formamos uma dupla "jogo duro", disposta a "engrossar o caldo", com "um misto de suavidade e firmeza pessoal, ambos".

Saravá sua força, meu Irmão Maior! "Hoje é o grande dia/ muito festejado". O senhor, que já foi Rei Festeiro da pequena África dos Arturos, bem merece aqueles seus versos que cantam assim: "Em nós a alegria, em/ nós o compromisso./ Quem leva a coroa/ não tira mais nunca". 

dois



        para Edimilson de Almeida Pereira, 
             um que sabe s(ab)er







dois irmãos no começo. o que sabe o


caminho e o outro: dois. e não há 


retorno. dois irmãos desde nunca. um, 


o que vê e conta. outro, o que ouve.


dois. não se separam. por onde passam,


o mundo: o coração de um pássaro,


desvios, carcaças de antílope, cidades 


riscadas do mapa, o dorso tigrino de um 


presságio, o tempo mais velho, um deus 


trocando a pele. dois irmãos ainda agora.



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