
31.3.08
29.3.08
Abertura para o outro, para o novo

Peço licença à coletividade formada pelos professores, funcionários e alunos da Escola Guignard para manifestar publicamente a minha alegria com a notícia da candidatura de Benedikt Wiertz à diretoria dessa veneranda instituição, em afinado duo com Sebastião Miguel.
Por ser a Guignard sinônimo da árdua batalha que sucessivas gerações vêm travando, desde os anos de 1940, em prol da valorização do fazer artístico em Minas Gerais, tenho total clareza quanto à pertinência das propostas que esses dois brilhantes professores-artistas trazem para o futuro próximo dessa Escola.
Se em Sebastião Miguel é cabível destacar, em meio às suas muitas qualidades, o profundo conhecimento que detém sobre as peças da complexa trama de relações que estrutura o sistema de arte da cidade e do País, é mais que oportuno lembrar, aqui, como um trunfo para a Guignard e para Minas Gerais, a condição de "homem do mundo" (no sentido mais amplo do termo) que á do meu querido amigo e parceiro artístico Benedikt Wiertz.
Nascido em Bonn, Alemanha, nosso Bene, antes de se instalar em Belo Horizonte, viveu profundamente realidades estético-culturais como as da Espanha e as da Índia, o que reforçou uma característica que é, nele, tanto traço pessoal quanto identificação com o pensamento e a prática criativa de seu conterrâneo Joseph Beuys: a abertura dialógica para o outro. E para a novidade que tal encontro sempre propicia.
É certamente a essa vocação para o diálogo que se devem realizações extraordinárias da gestão de Benedikt no papel de coordenador de Extensão da Escola Guignard, como os projetos "Quinta Poética" e "Argonautas". Isso para citar apenas esses dois pequenos grandes exemplos de uma administração calcada na competência para promover, com recursos inacreditavelmente exígüos (leia-se: nulos, como no caso do "Quinta Poética"), novos e cada vez mais necessários tipos de aproximação entre os artistas, os estudantes e os professores de arte, com a cidade de permeio.
Finalizo felicitando a todos(as) que vivem o dia a dia da Guignard pela rara oportunidade de poderem conduzir à diretoria dessa Escola dois professores-artistas cuja pauta de propostas não poderia ser mais generosa, porque permanentemente aberta ao debate, e ousada.
Ricardo Aleixo
(poeta, artista visual e músico,
professor de Design Sonoro da Fumec)
27.3.08
Poiesis, autopoiesis

Pouca coisa vi e ouvi, em termos de poesia performativa, que me interessasse tanto quanto as estupendas realizações do pianista e improvisador estadunidense Cecil Taylor (1929) de que tomei conhecimento recentemente. A primeira de uma série infindável de surpresas foi constatar que o Taylor poeta-performer não toca, pelo menos nos trabalhos a que tive acesso, o instrumento que fez sua fama: cantofala (com o corpo todo, ele, que é bastante ligado à dança), lançando mão, a espaços, de algum breve efeito percussivo ou de sutis alterações da voz com que entoa - por vezes, como um xamã - textos sustentados por uma notável destreza rítmica. Selecionei, para abrir o dia, dois momentos da (auto)poiesis de um dos precursores do free-jazz: o disco Chinampas, gravado em 1987, e uma arrebatadora performance vocal (seguida de um típico solo de piano tayloriano) realizada em outubro de 2004. Para quem der conta de tanta beleza, uma boa nova: a poesia de Cecil Taylor será tema do programa Rádio Escuta, de Lilian Zaremba, no próximo dia 8/4, terça-feira, à meia noite em ponto, na rádio MEC-FM. Sei que não quererão perder a chance de conhecer algumas das muitas pequenas jóias de sensibilidade, elegância, humor, inteligência e espírito verdadeiramente livre produzidas por esse grande artista nosso contemporâneo.
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26.3.08
24.3.08
Cursos (para quem está no Rio)
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23.3.08
Em campanha
22.3.08
Aula
Já contei um porrilhão de vezes que foi Sebastião Nunes quem me ensinou o pouco que sei de artes gráficas. Além de revirar pelo avesso tudo o que Tião publicava, tive acesso, num belorizontal dia de 1983, a um pequeno artigo com que o mestre brindou os leitores da edição de nº 879 do Suplemento Literário de Minas Gerais. Intitulado "Parem! Nós confessamos tudo. Pequena introdução às artes gráficas, para limpar algumas barras e livrar algumas caras", o tal artigo pode ser encontrado aqui (junto com todas as edições do SLMG anteriores a 2005). Trata-se de leitura fundamental sobretudo para o pessoal que, com o perdão da palavra, "edita"' revistas literárias como quem apenas conversa nonadas com os amigos, entre uma trip megalomaníaca e a total falta do que dizer.
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19.3.08
17.3.08
Anjo 45

Quem, nos EUA, quiser estudar a poesia e a música produzidas no Brasil, hoje, não terá como ignorar o trabalho dedicado e competente do ensaísta e tradutor Charles A. Perrone (que me deu a honra de verter para a língua de Gertrude Stein e James Brown o meu Um ano entre os humanos/ A year among the humans). Agora, vem à tona mais uma faceta do "nosso Charles": seu poemário Six seven, disponibilizado em pdf pela editora Moria Poetry, de Chicago, cuja leitura recomendo.
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BOMB

Uma revista muitos furos acima da média. Na edição de nº 102, destaque, entre outras boas surpresas, para a entrevista concedida por Arnaldo Antunes a Eucanaã Ferraz, "ilustrada" por dois sound poems do artista paulistano.
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15.3.08
Música improvisada (e linda)

O koto é um instrumento tradicional do Japão, uma espécie de cítara enorme, que possui timbres lindos. Michiyo Yagi é uma linda tocadora de koto. As performances dela nada têm de tradicionais. Nichiyo reinventa lindamente o koto. Ou seja: o koto, nas mãos dela, continua ser o que é, ao tornar-se uma outra coisa (ainda mais linda). Michiyo gozou a influência de dois dos melhores Johns da parada (o Cage e o Zorn). O que, convenhamos, é um dos mais lindos exemplos do fluxo e refluxo pierrevergeriano aplicado à relação ocidente/oriente. Ela, Michiyo Yagi, é linda, como se pode ver. Quando Michiyo sola, todos os dias parecem ser de sol nascente no lindo planeta onde a gente mora.
14.3.08
Dia da Poesia
Glauber Rocha, cinepoeta (para) sempre em transe, nasceu no dia 14 de março, disso sabeis. Como outro baiano, Castro Alves, só que 102 anos – em 1939 – depois do autor daquela delícia de estrofe que abre o poema "Adormecida" ("Uma noite, eu me lembro... Ela dormia/ Numa rede encostada molemente.../ Quase aberto o roupão... solto o cabelo/ E o pé descalço do tapete rente"). Glauber dizia saber que morreria aos 44 anos, talqualmente o seu famoso conterrâneo. E foi assim que se deu, por obra e graça do destino. O 14 de março, disso também sabeis, é dedicado à memória de Castro Alves, razão pela qual é chamado de Dia Nacional da Poesia. Por tudo isso, disponibilizo aqui, para os que ainda não o conhecem, o belo estranho Di, homenagem de Glauber Rocha a Emiliano Di Cavalcanti realizado, de improviso (com sobras de filmes), no velório do pintor. Para Glauber, seu elogio fílmico ao amigo recém-morto é um "ato de humor modernista-surrealista entre artistas renascentes". É isso. Isso-se.

Aproveito e reproduzo o pequeno texto que postei no endereço antigo desta posse, no dia 28/7/04:
Uma das maiores alegrias estéticas que tive neste 2004 previsível me foi proporcionada pelo produtor cultural João Rocha. Sobrinho do cineasta Glauber Rocha, João teve a arquibrilhante idéia de hospedar em um provedor da terra da família Bush, disponibilizando-o para download, o “proibidão” Di Cavalcanti Di Glauber, que também atende pelo título Ninguém assistiu ao formidável enterro de sua última quimera; somente a ingratidão, essa pantera, foi sua companheira inseparável.
Com esse estratagema, a pequena obra-prima (18 minutos), filmada em 1976 – durante o velório e o enterro do pintor modernista Emiliano Di Cavalcanti – e finalizada no ano seguinte, pode, finalmente, sair da triste condição de lenda a que o obrigou, desde 1979, uma estúpida interdição judicial, resultante do mandado de segurança impetrado pela filha do pintor, Elizabeth Di Cavalcanti, que alegou “danos morais”. Tamanha é a força poética desse filme de "não-ficção" que Glauber faturou, com ele, o Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes, em 1977.
E olhe que o negócio é lindo, só faz reforçar a importância de Di Cavalcanti na cultura brasileira. O problema é a morte, claro que é: pranteá-la em prosa e verso, ou mesmo em película, pode, não é? O que não pode é colocá-la em seu devido lugar, como fez Glauber, em seu filme mais negro (negro não de noir, mas de crioulo, negromestiço, farrista, folgazão, “sambístico”, como diria o pessoal da antiga, entendeu?). Estão lá Paulinho da Viola e Jorge Ben, as rapidíssimas aparições do São Jorge/Ogum de olhar sacana Antonio Pitanga e a voz do próprio Glauber, delirante e acelerada como a de um locutor de futebol. Glauber dixit: “Celebrando Di recupero o seu cadáver, e o filme, que não é didático, contribui para perpetuar a mensagem do Grande Pintor e do Grande Pajé Tupan Ará, Umbabarauma, Ponta-de-Lança Africano, Glória da Raça Brazyleira!”
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10.3.08
Poéticas da voz

Quem conhece o belíssimo filme Nordeste, repente, canção, de Tânia Quaresma (1975), já deve ter se emocionado com o depoimento dos repentistas Caju e Castanha - que, naquela altura, eram apenas dois meninos bons de verso (e de prosa). Achei dia desses alguns trechos do filme no youtube: apesar do som precário, vale a pena uma conferida no depoimento dos dois manos faladores (Caju, morto em 1999, foi substituído na dupla por um sobrinho, que herdou o nome artístico do tio bamba). Vale demais.
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Simult(iplici)aneidades

Que John Cage era um trickster ("o maior de todos", no contexto da arte contemporânea, já disse alguém), não resta a menor dúvida. Vou mais longe: dado a multiplicidades e simultaneidades, o músico-poeta-pensador estadunidense só podia ser "gente de Exu", aquele-um que acertou um pássaro ontem com a pedra que só hoje atirou. Para começar bem a semana, cliquem aqui os que quiserem ouvir uma performance de JC, gravada em 1979.
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7.3.08
Ligadíssimo, como sempre,
o poeta e ensaísta Carlos Augusto Lima, escreveu, em sua coluna quinzenal no jornal Diário do Nordeste, de Fortaleza, boas palavras sobre dois livros de poesia lançados recentemente: os de Fabiano Calixto e Bruno Brum. Confiram.
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6.3.08
Ademir certeiro
Tem, de quando em quando, um Ademir Assunção que ameaça sair fora e solta na sua dele espelunca uns posts que, sinceramente, como admirador e "irmão em armas" do cara, prefiro deixar de ler até o fim. E tem o Ademir Assunção "luciferino" (não no sentido que Haroldo de Campos dava ao termo, mas no de lucidamente ferino), como o do comentário certeiro que ele fez ontem, sobre o "especial Augusto de Campos", organizado pela revista Mnemozine, que EXIGE reflexão isenta.
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5.3.08
2.3.08
+ do poetamenos

aqui
EXTRAÍDO DO SITE CRONÓPIOS:
Você já pode ler, no Cronópios, a edição especial da revista Mnemozine totalmente dedicada à obra de Augusto de Campos. Nela você encontrará material inédito do poeta – incluindo traduções de poemas de Emily Dickinson (que fazem parte do volume Emily Dickinson: não sou ninguém, a sair este ano pela editora da Unicamp) –, além de artigos seus. Integram a revista: artigos de Arnaldo Antunes, Livio Tragtenberg, Gonzalo Aguilar, Lucia Santaella, Aurora Bernardini, Leda Tenório da Motta, Ricardo Aleixo, Antonio Vicente Pietroforte, Marcelo Tápia e André Dick; depoimentos de Gilberto Mendes, Maria Esther Maciel, Frederico Barbosa, Ivan Marques, Alcir Pécora, Ricardo Araújo, Amador Ribeiro Neto e Cid Campos; criações e traduções de André Vallias, Horácio Costa, Claudio Daniel, Roland Campos, Glauco Mattoso, Silvio Back, Lucio Agra, Trajano Vieira, Eduardo Milán, Ivan P. de Arruda Campos e Luiz Carlos de Brito Rezende; composições de Edvaldo Santana – que musicou e gravou especialmente para esta edição “O lance de dados”, de Guillaume de Poictiers (1071-1127), traduzido por A. de Campos –, Péricles Cavalcanti, Cid Campos, Eurico de Campos (pai do poeta) e Gilberto Mendes. A edição inclui, ainda, dois vídeos com a participação de Augusto de Campos. Documento, história: a Mnemozine cumpre seu papel de “memória”; ou, como diz o editorial da revista, “memória projetada ao futuro”.
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1.3.08
Anote desde já

não macule minha faca apresenta photomaton & Vox no Museu Oi Futuro
A performance intermídia photomaton & vox, de não macule minha faca, propõe um processo compositivo a partir de poemas de Herberto Helder. Ao evocar no título da apresentação um dos mais emblemáticos livros de HH, o coletivo afirma seu alinhamento a uma atividade poética em constante decomposição, recomposição e desvio dos meios costumeiros e literais de percepção do mundo e da linguagem. Dentro dessa proposta, tecnologias high e low, ligadas a outros sistemas semióticos, constroem um universo emaranhado de paisagens.
Herberto Helder nasceu no Funchal, Ilha da Madeira, e é um dos maiores poetas contemporâneos. Participou da vanguarda portuguesa dos anos 1950, com o grupo do Café do Gelo - entre outros, Mário Cesariny e Hélder Macedo. Atualmente vive no anonimato e sua obra poética completa, incessantemente revista por ele, está agrupada no volume Ou o poema contínuo, publicado no Brasil pela editora Girafa.
não macule minha faca é um coletivo intermídia formado por julius, a poeta Letícia Féres e o músico Frederico Pessoa. Os três artistas se apresentaram pela primeira vez em homenagem à poeta Hilda Hilst, no projeto Terças Poéticas, no Palácio das Artes, em agosto de 2007.
O coletivo não macule minha faca apresentará photomaton & vox no espaço Multimeios do Museu Oi Futuro, dia 27 de março, às 19h. Entrada franca.
Frederico Pessoa
Músico, estudou violão clássico e teoria musical com Guilherme Poliello, da Fundação de Educação Artística, e tecnologia de MIDI – Técnicas de Gravação e Produção Musical, no Morley College, em Londres. Participou de projetos multimídia com a artista plástica Gisele Lotufo e com outros artistas. Compôs trilhas sonoras para espetáculos de dança, como Holográfico (Francisco Nunes/2004 e FID, em 2005/2006) e Conversações (Teatro Alterosa – 1,2 na Dança, em 2005). Apresentou o projeto Butterbox – música eletrônica para ver e ouvir, em 2006, na Casa do Baile, e no SIM – Som, Imagem e Movimento, na Unileste. Seus net EPs estão disponíveis na Internet pelo selo americano Kikapu Net Label e pelo português Enough Records. Atualmente trabalha compondo trilhas para vídeo e com o projeto Butterbox.
julius
Designer e cyberpoeta. É aluno da Pós-Graduação em Design de Interação na PUC Minas e bacharel em Letras pela UFMG, com formação complementar em Artes Visuais. Cursou parte da Graduação em Filosofia na UFJF e tem formação técnica em Eletrônica. Integrou o grupoPOESIAhoje e, entre cursos mais importantes, participou do Palavra falante: a voz na poesia, com o poeta Ricardo Aleixo. Além disso, fez parte da Oficina de Escrita da Flip com o escritor Raimundo Carrero, e da Oficina de Escrita Cinemática com o poeta Maurício Vasconcelos. Entre outros trabalhos, participou do Festival de Cenas Curtas, com Parágrafo 175, como videomaker; da Bienal de Poesia de BH, com a instalação-performace: Labirinto, e da IV Mostra Novos Ilustradores, da EBA/ UFMG, com o livro-objeto Despertador. Tem poema publicado no Catálogo do projeto Terças Poéticas. Atualmente é designer de interfaces no Centro de Comunicação da UFMG.
Letícia Féres
Poeta, editora de textos e redatora, é bacharel em Letras pela UFMG com aperfeiçoamento em Edição de livros, na Universidad Complutense de Madrid. Foi integrante do grupoPOESIAhoje e fundadora do Jornal Estilingue: literatura e arredores, periódico do corpo discente da FALE/UFMG. Alguns de seus poemas foram publicados nos projetos Arte no Ônibus (Telemig Celular/PBH) e Terças Poéticas. Além disso, teve poemas premiados na II Bienal de Piores Poemas, organizado pelo Grupo Oficcina Multimedia. Seu livro-objeto Apontamentos de Amor e Solidão, de Mariana Alcoforado foi exposto na IV Mostra Novos Ilustradores, da EBA/UFMG. Atualmente é revisora da Editora UFMG e desenvolve projetos de promoção da leitura para a Biblioteca da Escola da Serra.
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