1.8.10

O resto é só terra e céu


Depois de 15 dias longe, na rota Cambridge/Londres, nossa Iná voltou para casa ontem à tarde: cheia de razão, com o inglês ainda mais afiado e já fazendo planos para novas viagens. Como Lisboa foi o primeiro – e o último – lugar da Europa pisado por ela nessa sua estreia internacional, trago para a festa um legítimo Pessoa:


Viajar! Perder países!

Ser outro constantemente,

Por a alma não ter raízes

De viver de ver somente!


Não pertencer nem a mim!

Ir em frente, ir a seguir

A ausência de ter um fim,

E a ânsia de o conseguir!


Viajar assim é viagem.

Mas faço-o sem ter de meu

Mais que o sonho da passagem.

O resto é só terra e céu.

30.7.10

Um post

O nome Bressane, até onde alcanço, é sinônimo de talento: Júlio, o cineasta; Dulce, a cantora, presente nos primeiros discos de Egberto Gismonti; Ronaldo, o prosador, poeta e jornalista, de quem acabei de ler um post nada menos que foderoso sobre a, na falta de melhor definição, tesuda da foto acima. Tome aí um trecho do post bressânico: Quando Chrissie bate na porta da comuna musical Amon Düül, seu nome já é Uschi Obermaier. Ela não seria a namorada de um marinheiro que perdeu as graças do mar; seria a namorada de toda aquela banda de kraut-rock. E, confirmando que sabe trocar o liebzeit pelo zeitgeist, como toda boa garota hippie vai pro pandeiro. Sua banda viaja para um festival em Essen e faz amizade com os colegas da Kommuna 1, que então ocupa a casa do poeta Hans Magnus Enzensberger. Bem selvagem essa turma. Totalmente contra o consumismo e a burguesia. Totalmente contra o passado nazista. Totalmente a favor de disparar tortas na cara dos políticos (o que eles chamam de “assassinato por pudim“), tocar fogo em lojas de departamento (“Solte na rua a sua vontade Vietnã de pegar fogo“), além de totalmente aberta ao amor livre.”

Vamos falar da performance como um assunto sério (mas pleno de humor, sarro, escracho), sem fronteiras claramente demarcáveis?

24.7.10

Será que a TV brasileira voltará um dia a exibir tamanha demonstração de liberdade?

Um dia, a caminho de Fortaleza, onde mora o meu amigo Carlos Augusto Lima, parei no aeroporto de Brasília e pensei nele,

quando ele apareceu do nada, como se fosse viajar, por exemplo, para Porto Alegre. Ia mesmo. E foi.


Agora, tempos depois, já com a bela Fortaleza na cabeça (vou para lá na semana que vem), recebo um link para uma entrevista em que o querido Carlos diz coisas como "a poesia não acompanha, por um lado, o tempo veloz da informação acelerada, quase esquizofrênica, emergencial em que vivemos. O gesto do poema é o da calma, da reflexão e do cuidado que estamos perdendo a cada dia. Por outro lado, a linguagem da informação de tão urgente, se tornou estúpida, rasteira, cretina. Daí, a linguagem do poema dispara, se reinventa sempre, vai além, está à frente do tempo, cumpre a sua função, e a maioria dos leitores, tão amansados pela linguagem estúpida do mundo da informação, não acompanha o poema."