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Em tempo: o cartaz e o flyer foram criados, respectivamente, por Ivan Lima e Pedro Leitin, estudantes do curso de Design Gráfico da Fumec
Em tempo: o cartaz e o flyer foram criados, respectivamente, por Ivan Lima e Pedro Leitin, estudantes do curso de Design Gráfico da Fumec
A moça da foto é a Franciane de Paula, bailarina e coreógrafa, que conheci graças ao meu amigo e parceiro Gil Amancio. Ela é de Pindamonhangaba, interior de São Paulo, e veio para Belo Horizonte para dançar na Cia Será Quê?. Tão logo concretizou-se a hipótese de realizar uma performance intermídia (poesia + música eletroacústica + ruidagem + vídeo + dança) com o excelente material produzido pelas turmas de Design Sonoro da Fumec a partir do poema Metamorfose, de Paulo Leminski, resolvi convidar a Franciane para dar o ar de sua graça.
A base para a construção da performance foi o poema homônimo de Paulo Leminski, que cada um das duas turmas sonorizou e editou como quis, depois de criar sua própria partitura. Depois, conversas com o Daniel Reis - meu colega na faculdade, grande revelação como sound designer - e com a Flávia Pinheiro, monitora das turmas - além da colaboração de amigos bons como Chico de Paula, Eduardo Jorge, Tatu Guerra e Samuel Mendes -, ajudaram a ampliar as pespectivas do projeto, que conta com total apoio do coordenador do curso de Design Gráfico, Guilherme Guazzi, ao qual a disciplina Design Sonoro está ligada institucionalmente.
Como 2009 é marcado pela passagem dos 20 anos da morte do Tio Lema (em 7 de junho) e dos 65 que ele completaria no dia 24 de agosto, foi só fazer o link – coisa mais que fácil de fazer, devido à alta qualidade da maioria das peças compostas pela moçada - e, como se diz no futebol, "correr pro abraço". Quem quiser conferir, a Fumec fica na rua Cobre, 200. A performance acontecerá na Sala Multimeios 1, no segundo andar. Entrada risonha e franca. Aguardem novas informações.
Em tempo: segue um beijo carinhoso para a querida Alice Ruiz, que nos deu carta branca para metamorfosear à vontade.
“Dou aulas para dois tipos diferentes de alunos, embora seja possível chamá-los, todos, de estudantes de arte. Uma parte deles é formada por estudantes de belas-artes, e a outra, por estudantes de arte eletrônica. Eles apresentam padrões muito diferentes de qualidade, baseados nos valores muito diferentes que têm a respeito de arte e tecnologia. Não é fácil deixá-los todos confortáveis para experimentar com os elementos que quero que provem. A experiência é algo muito importante, seja voltada apenas para olhos e ouvidos, seja algo que inclua todos os sentidos. Esse é o meio para conectar os elementos artísticos com o que já temos dentro de nós. Quando nos sentimos tocados (emocionalmente) ou sintonizados (conceitualmente), nos conectamos com o trabalho. Todos sabemos que qualquer coisa pode ser transformada em obra de arte ou que qualquer método pode gerar um processo artístico. Desejo que meus alunos tenham a capacidade de recriar o tipo de processo/experiência que querem oferecer a seu público. Então eles têm que entender o que estão fazendo. Assim como eu faço o público experimentar meu vislumbre de pensamentos.” [Jamsen Law, de Hong Kong, performer e videoartista, em entrevista publicada no FF>>DOSSIER, da Associação Cultural Videobrasil]
Na versão online da revista Continuum, do Itaú Cultural, meu novo poema, Babeladormecida (o título foi trocado para... Bela Adormecida, mas já pedi que providenciem a "descorreção"). Para conhecer a versão sônica da peça, basta clicar aqui.
Dentre outras qualidades, a poesia de Mário Quintana guarda uma que é rara: a de “ultrapassar” a “urgência das contingências”, para me valer dos termos utilizados pelo crítico Arthur Nestrovski num pequeno escrito sobre a capacidade que têm as canções, no Brasil, de “jamais perder a contingência dessa urgência, ao mesmo tempo coletiva e intransferivelmente pessoal”.
Essa qualidade, a meu ver, explica em parte o encantamento que Quintana produz sobre a parcela do público leitor para a qual a arte verbal apresenta-se, antes de tudo, como um tipo de vínculo com a vida cotidiana. Os versos de Mário parecem ter estado sempre aí, ao alcance das urgências e contingências de que é feito o dia a dia. E o poeta se compraz em alimentar essa hipótese, ao dizer, num poema, que “Descobrir Continentes é tão fácil como esbarrar com/ um elefante:// Poeta é o que encontra uma moedinha perdida...”.
Em poucos poetas que escreve(ra)m em português-brasileiro se encontrará um manejo sintático e imagético tão rigoroso quanto livre, atributo ao qual se soma uma notável competência para a articulação de densas harmonias fônicas, como se perceberá na maioria dos poemas deste volume. O uso de tais recursos com a naturalidade de quem apenas recolhe do chão uma moedinha faz de Mário Quintana um poeta não menos que imprescindível. Neste nosso tempo em que a norma parece ser a possibilidade de se prescindir de tudo o que, em alguma época perdida do mundo, dava sentido à existência, poetas como ele nos restituem o direito à palavra como forma de conhecimento – entre álacre e acre – do mundo.
[Este texto, que escrevi para figurar na orelha da Nova Antologia Poética de Mário Quintana (Global Editora, 2006), reaparece aqui como uma lembrança da passagem dos 15 anos da morte do poeta, no último dia 5]