29.9.07

No pelourinho, digo, no centro da Roda Viva

Acompanhei, de início com grande interesse - progressivamente substituído por um misto de tédio e decepção -, a esperada participação de Mano Brown no programa Roda Viva, na segunda feira passada. Pelo que apurei em conversas com amigos e numa corrida por blogues que abordaram o programa, o tom geral, entre os telespectadores, foi de total frustração. O abismo que se verificou entre entrevistado e entrevistadores significa, a meu ver, a mera projeção - ampliada e amplificada -, no âmbito de uma TV pública, do apartheid nosso de cada dia.

Brown foi apresentado como um bicho raro, a ser contemplado não com questões que provocassem sua inteligência privilegiada e sua ironia afiada, mas com cobranças rasteiras, abertamente preconceituosas, junto com perguntas e insinuações de uma estupidez sem par. Deu no que deu: acuado, o compositor rendeu pouco, seu tartamudeio sugerindo, de resto, as marcas deixadas por duas décadas de recusa de conversas com a "mídia" (artifício mercadológico que, compreensivelmente, abriu brechas para a criação de toda sorte de interpretações das "letras-verdade" entoadas pelo Racionais e das atitudes de seus integrantes).

Inútil, por essa razão, tomar o programa pelo que ele não mostrou. O que efetivamente vimos e ouvimos é que conta: nossa dificuldade, hoje, de construir, preservar e potencializar o espaço da palavra pública. Reverter esse quadro é tarefa bastante difícil, impossível de ser realizada a curto prazo - ainda mais num país em que os governos relegam a segundo ou a terceiro plano tópicos que deveriam ser considerados estratégicos, como a cultura, a educação pública e a comunicação.

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