30.8.10
29.8.10
Belorizonte, Belzonte, Bolorrizonte, Velhorizonte

Por email, alguém – mais um alguém – me pede para falar algo sobre a literatura mineira, e eu só consigo replicar, com gentileza que, bem sei, pode ser tomada como chacota, que “Minas são muitas etc.” Meu desafiante, digo, interlocutor resolve deixar por menos. Que eu fale, então, sobre a “produção literária na Belo Horizonte contemporânea”. Enquanto penso numa forma de escapar da pergunta sem conquistar mais um desafeto, abro a antologia Belo Horizonte – A cidade Escrita, organizada por Wander Melo Miranda, em 1996, e leio um pequeno texto de Ivan Ângelo – “Começam a dispersar-se os artistas da nova geração”, publicado no Diário da Tarde, em 27 de abril de 1960. Nessa data, minha mãe, Íris, que me esperava para setembro, completou 42 anos. Me emociono com a coincidência e pouso o olhar no seguinte trecho do artigo, com sua doída atualidade: “Há na província uma reação invisível contra a atividade intelectual, algo que vai aos poucos roendo os sonhos do artista. A província não opõe nada ao ato criador, não há um choque, uma guerra, um combate honesto. É areia movediça que vai enterrando aos poucos. Se ao menos houvesse luta. Mas não. O que há é um simples absorver, um indiferente desconhecimento da atividade artística, um silêncio, uma incapacidade de julgamento, uma falta de vivência da coisa arte, uma falta de interesse, de estímulo, de ambiente, de crítica, de gosto, de público. O artista na província é uma figura quixotesca pronta para a luta, mas encontra o campo vazio. Sua figura é até ridícula, quando não grotesca. Nada se opõe a ele. Pode fazer o que quiser, provocar ou acomodar-se, ninguém nota. Ou, se nota, é migalha demasiado insignificante para sua fome de realização.”
26.8.10
Minha linha

Finalizado em meio ao trabalho de luto pelas mortes dos meus pais e pelo fim do meu casamento – desde janeiro deste ano vivo sozinho na casa que agora abriga o LIRA –, Modelos vivos resultou, graças aos deuses, como expressão daquela alegria a que só podem ter acesso os que descem ao fundo mais fundo do poço.
Por isso o colorido da capa, que dialoga com a lírica reproduzida abaixo (em breve vocês poderão conhecer também a música correspondente), escrita em 2008: “Minha linha” tornou-se para mim, na fase mais aguda da crise, uma espécie de mantra, ou melhor, de ponto cantado pessoal.
Para ser totalmente fiel aos fatos, devo confessar que a inspiração para a capa do Modelos vivos – vinda do emaranhado de linhas de diversas cores que pende de uma das paredes da minha casa-laboratório – é anterior à decisão de incluir no livro esta “letra de música”. Acho que funcionou.
PS: Que as pessoas que gostam de mim não se preocupem, por favor. O que tinha de ser, foi. Como tinha de ser. O que estiver para chegar, que chegue. Como tiver de ser. Quando for a hora.
Minha linha
Que o dono da fala
nunca
permita que eu saia
da linha
a linha que
quanto mais torta
mais posso dizer
que é a minha
Sempre fui
meu próprio mestre
e é sem tristeza
que conto
que ainda não aprendi
nada
não me considero
pronto
Em matéria
tão complexa
quanto a arte
de entortar
a linha
que nem a morte
há de um dia
endireitar
21.8.10
50 ANOS EM 5 DÉCADAS

Agora vai: Modelos vivos sai da gráfica nos próximos dias, diretamente para as bem fornidas estantes da Crisálida Livraria e Editora, no edifício Maleta – e, esperamos, para as de outras boas casas do ramo de qualquer parte do Brasil. O lançamento será no dia 11 de setembro, sábado, a partir das 11h, na livraria Café com Letras (rua Antônio de Albuquerque, 781, Savassi). Na terça-feira, dia 14, às 19h30, no mesmo local, comemoro meus 50 anos, apresento a leitura-concerto* Música para modelos vivos movidos a moedas e abro uma pequena mostra de poemas visuais extraídos do livro.
Para completar a semana “50 anos em 5 décadas”, no dia 17, sexta, às 18h30, na Biblioteca da Faculdade de Letras da UFMG, a convite da professora, poeta e ensaísta Vera Casa Nova, inauguro a mostra de poemas gráficos Improvisuais, apresento a performance homônima e, claro, aproveito a chance de conquistar, entre os estudantes, alguns possíveis leitores para a minha talvez-poesia. Em tempo: a capa do livro – na verdade, todo o projeto gráfico – é fruto de uma parceria minha com o talentosíssimo poeta, designer e editor Bruno Brum. A ele e ao Oséias Ferraz, proprietário da Crisálida, meu muito obrigado: sem os dois, meu Modelos vivos ainda seria, a esta altura, apenas um projeto de livro.

20.8.10
19.8.10
14.8.10
6.8.10
4.8.10
Domeneck
3.8.10
Duas ou treze coisas (catorze, na verdade: todas muito importantes) que Marcelino Freire tem a dizer sobre a FLIP

“Sim, prometi dar uns esclarecimentos aqui. Falar sobre a Festa Literária Internacional de Paraty. Por que não irei desta vez. Se é que isso interessa a alguém. E interessa. O assunto foi capa da Ilustrada de sábado passado. A suposta polêmica da minha não-ida. Porra! Eu apenas comentei no Twitter. Depois de ter participado de todas as edições (como convidado ou não), resolvi não ir. Avisei por lá: que não tinha saco, assim. Para ouvir FHC falando de Gilberto Freyre, etc. Aí o assunto foi destaque no jornal. O repórter Fábio Victor me ligou. Colheu depoimentos outros. Indagou: por que nesta edição apenas um dos convidados nunca esteve no evento? A Festa será que realmente tucanou? Ave e ufa! Tanta coisa passa agora no meu juízo. Que é melhor eu abrir uns tópicos, ABAIXO. Vamos logo aos fatos e eta danado!”
1.8.10
O resto é só terra e céu

Depois de 15 dias longe, na rota Cambridge/Londres, nossa Iná voltou para casa ontem à tarde: cheia de razão, com o inglês ainda mais afiado e já fazendo planos para novas viagens. Como Lisboa foi o primeiro – e o último – lugar da Europa pisado por ela nessa sua estreia internacional, trago para a festa um legítimo Pessoa:
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.