5.12.10

Um dos SONETOS A ORFEU, de Rainer Maria Rilke, em tradução de José Paulo Paes

I:3



Um deus o pode. Mas, diz-me, poderia um

homem acompanhá-lo na lira acanhada?

Sua mente é discórdia e nas encruzilhadas

do coração Apolo não tem templo algum.


O canto, como o ensinas, não é o querer

nem busca do que quer que seja de atingível.

Cantar é existir. Para o deus, tão factível.

Mas nós, quando é que somos? Quando ao nosso ser


dará ele de volta a terra e as estrelas?

Não é o que amas, jovem, mesmo que forçasse

a voz em tua boca. Aprende a esquecê-las,


tais canções. Elas passam, frutos do momento.

O cantar em verdade de outro sopro faz-se.

Um sopro de nada. Um alento em Deus. Um vento.

Um comentário:

Leo Gonçalves disse...

Opa!!
Mais um aniversariante do 04 de dezembro. Nasceu exatamente um século antes de mim.