
Escolhi, desde o começo, isto sim, foi andar por uma trilha tão entrecortada por outras trilhas, que só posso, mesmo, me definir como um compositor. De poemas, inclusive. E, cada vez mais, de canções e peças que, a ouvidos mais sensatos, não passam de barulhos.
E não estou sozinho nesse esforço de autodefinição. Lembro-me de Livio Tragtenberg e Paulinho Moska dizerem praticamente a mesma coisa, em contextos e épocas diferentes.
Tragtenberg, numa entrevista de 2005, disse: “A coisa melhor no mundo é você chegar num hotel, quando dão aquele negocinho (ficha cadastral) para preencher... Ocupação: compositor, isso é uma conquista. Quer dizer: você viver de música, viver da sua composição, você se colocar como compositor, e eu gosto dessa ideia do compositor, porque eu não sou só um compositor de música, hoje a gente vai ver... Vocês vão ver: eu sou um compositor de... ideias!”.
Já o Moska, numa entrevista que saiu este ano aqui em Belo Horizonte, disse: “Sou um compositor. No sentido de que um compositor é alguém que junta coisas. Componho coisas, não gosto da ideia de especialização. E cada vez mais caminho nessa direção.”
Não posso deixar de dizer que, neste (tão intenso) 2010 que hoje se encerra, “compor coisas” rivalizou, no meu dia a dia, com a demanda cada vez mais crescente de compor a mim mesmo, de me re/compor como sujeito. Creio que não fiz feio. Agora cinquentenário, consegui trocar a hipótese tenebrosa – esboçada no começo do ano – de uma sobrevida por um tipo de vida que, para merecer o nome que leva, exige ser vivida plenamente.
Daí a importância de encontrar, entre as coisas da minha mãe, a recordação da primeira “distinção” que recebi na vida, aos 8 anos de idade: um diploma de honra. Tê-lo conquistado por conta de uma “composição” (nome dado à redação, na época) que fiz ainda menino só aumenta minha convicção de que sou, desde sempre, um compositor.
Nos vemos em 2011! Ao final desta frase ela se transformará num grande abraço
do
Ricardo