Finalizado em meio ao trabalho de luto pelas mortes dos meus pais e pelo fim do meu casamento – desde janeiro deste ano vivo sozinho na casa que agora abriga o LIRA –, Modelos vivos resultou, graças aos deuses, como expressão daquela alegria a que só podem ter acesso os que descem ao fundo mais fundo do poço.
Por isso o colorido da capa, que dialoga com a lírica reproduzida abaixo (em breve vocês poderão conhecer também a música correspondente), escrita em 2008: “Minha linha” tornou-se para mim, na fase mais aguda da crise, uma espécie de mantra, ou melhor, de ponto cantado pessoal.
Para ser totalmente fiel aos fatos, devo confessar que a inspiração para a capa do Modelos vivos – vinda do emaranhado de linhas de diversas cores que pende de uma das paredes da minha casa-laboratório – é anterior à decisão de incluir no livro esta “letra de música”. Acho que funcionou.
PS: Que as pessoas que gostam de mim não se preocupem, por favor. O que tinha de ser, foi. Como tinha de ser. O que estiver para chegar, que chegue. Como tiver de ser. Quando for a hora.
Minha linha
Que o dono da fala
nunca
permita que eu saia
da linha
a linha que
quanto mais torta
mais posso dizer
que é a minha
Sempre fui
meu próprio mestre
e é sem tristeza
que conto
que ainda não aprendi
nada
não me considero
pronto
Em matéria
tão complexa
quanto a arte
de entortar
a linha
que nem a morte
há de um dia
endireitar
8 comentários:
ricardo, meu mano.
Como é bom ver essa linha generosa.
Grata pelo sentido do emaranhado.
Com admiração e poesia, sempre,
Rita
Ronald, Rita, caríssimos: seguimos! Gracias!
Excelente poema! Que aperitivo... Vou passar 24 horas em BH mês que vêm e faço questão de ir à Crisálida comprar o meu exemplar.
Perdão pelo segundo comentário, mas posso "repostar" o poema no meu blogue, claro que com uma chamada para o seu e para o livro?
Fique à vontade, Paulo. Gracias!
Como vente...
Caro Ric Aleixo, adotarei este poema.
Esteja à vontade, Marcelo!
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