Caro Claudio Daniel, deixei de responder seu último email, de 24/02/10, por ter surpreendido nele – e nos anteriores, datados de 23 e 24/02 – uma atitude incompatível com o respeito que, a meu ver, deve pontuar a relação entre pessoas que atuam numa mesma área. No afã de cobrar de mim uma posição pessoal sobre a obra de Angélica Freitas (baseado no fato de que fui integrante da Comissão Julgadora da Bolsa Petrobras Cultural, concedida, na edição 2008/2009 do certame, à referida autora e a outros 16 poetas e prosadores), você concluiu, em face da minha indisposição para a polêmica inócua, que "divergimos profundamente quanto à Inimigo Rumor e seus associados".
Reproduzo um fragmento de sua resposta à pergunta “Por que toda essa inveja da Inimigo Rumor?”: “Claudia, não sinto inveja nenhuma dos poetas medíocres da Inimigo Rumor; tenho inveja de Ezra Pound, Cummings e Maiakovski. Minha crítica está no fato de eles imporem um monopólio na crítica literária, favorecendo os autores do grupo e silenciando sobre os autores que não pertencem a essa panela, além de distribuírem entre si prêmios como o da Petrobras, em que jurados ligados à Inimigo Rumor premiam poetas da Inimigo Rumor, entre outros exemplos. Esse monopólio é extremamente autoritário e não contribui em nada para a divulgação da diversidade de nossa poesia, que vai muito além dos patinhos de banheira de Angélica Freitas e similares.”
Que você sustente sua oposição a qualquer projeto literário que destoe de suas convicções, eis aí um assunto que não me cabe discutir. O que não aceito, Claudio Daniel, é que você me inclua, por força de sua visão algo maniqueísta e autocomplacente, num “lugar” que jamais frequentei. Me orgulho, sim, de ter colaborado por duas vezes com a publicação editada por Carlito Azevedo (que considero um grande poeta e, no plano pessoal, um interlocutor dos mais sensíveis), como de resto colaborei com a Zunái, editada por você, e com muitas outras revistas, de recortes os mais variados, sem jamais declarar adesão integral a qualquer um desses projetos literários (e políticos), já que, por temperamento, como diria Murilo Mendes, não sou "homem de rebanho".
Me juntar aos integrantes de uma suposta “panela” que distribuiria “entre si prêmios como o da Petrobras” é, por essa razão, um golpe baixo, baixíssimo, indigno de um poeta como você, a quem tratei sempre com amizade, respeito e cordialidade, chegando mesmo a escrever sobre seu trabalho, de que sou leitor atento e interessado. Quando sugeri que trouxesse a público sua discordância quanto ao resultado da Bolsa Petrobras Cultural, você entendeu só o que lhe foi conveniente: que deveria continuar a atacar “a Inimigo Rumor e seus associados”, a pretexto de expor a fragilidade do projeto estético do grupo de poetas que você elegeu como "o eixo do mal" da poesia brasileira. E o que eu lhe sugeria – e vou repetir agora com todas as letras – era e é bem mais sério: como há dinheiro público em jogo, a discussão transcende o nível das preferências literárias e alcança o âmbito da ética.
Logo, Claudio, só lhe resta, como cidadão consciente que provavelmente é, encaminhar denúncia formal ao Ministério Público, para que sejam investigadas as circunstâncias que envolvem o “GRAVÍSSIMO” caso em tela. A um homem como eu, que nada mais possui além de um nome honrado e uma trajetória artística e intelectual construída por esforço próprio - longe da zona de sombras da Casa Grande -, gestos levianos como o seu provocam mais do que um grande pesar: confirmo, aqui do meu quase-exílio voluntário na periferia de Belo Horizonte, a impressão de que eu talvez não tenha, mesmo, mais nada a fazer no tosco Big Brother Brasil em que se transformou a maior parte da blogosfera literária.
Respeitosamente,
Ricardo Aleixo
PS: Prova de que você perdeu completamente a noção de limites é que um novo post seu, também do dia 9/3, bate na mesma tecla, com a legenda: “Daniel Boone e seu amigo índio lutam contra a panelinha da Inimigo Rumor nos concursos da Petrobrás e nas resenhas da Folha de S. Paulo”. Provando, ainda, que é craque em “bater o córner e correr para cabecear”, como se diz no ludopédio, você inaugura os comentários de seu próprio post (e para que interlocutores, se você já concorda tanto com suas próprias ideias, não é?) para afirmar que não se trata “de implicância, nem de mera divergência estética ou conceitual”, mas que acha “GRAVÍSSIMO que apenas um grupinho detenha o monopólio na crítica literária dos jornais e nos concursos que envolvem dinheiro público, como o da Petrobrás [grifo meu], além da forte influência na universidade e nos meios editoriais”. Sobre a crítica literária, a universidade e os meios editoriais, nada tenho a dizer, mas reafirmo que é seu dever ético solicitar ao Ministério Público a investigação do possível emprego de recursos públicos para fins de favorecimento de grupos literários, com foco no Edital da Bolsa Petrobras Cultural, edição 2008/2009, de que eu, Ricardo Aleixo, apontado por você como um dos “jurados ligados à Inimigo Rumor”, participei da seleção dos projetos aprovados. Qualquer outra medida que você tomar demonstrará que sua indignação não passa de uma performance mesquinha e ressentida, motivada tão-só por uma mal contida tendência para a calúnia e a difamação.
10 comentários:
Ricardo, acredito que não seja o caso de Ministério Público, pois o Cláudio Daniel não questionava o lado legal, e sim moral da escolha do projeto premiado. Não soube dos demais inscritos, portanto creio que o projeto vencedor tenha sido vislumbrado como além dos demais - embora fora do concurso talvez não sobreviva. Espero também que este mal-estar entre você e o Cláudio chegue a um termo que só gere benefícios para os dois e para a arte, que nós (pláteia) merecemos. Abraços!
Caro Wilson, grato pelo comentário, mas em casos como este não há "platéia", a menos que - falo apenas por mim - eu tope fazer o papel de palhaço. Não há "mal estar" entre mim e Claudio Daniel: há, isto sim, acusações graves que precisam ser apuradas, porquanto envolveriam, segundo o acusador, o uso indevido de dinheiro público. Como não tenho nada a temer, insisto na tese de que a dimensão ÉTICA do problema levantado não pode ser tratada senão por meio das vias que qualificam a democracia: no caso, a apresentação de denúncia formal ao Ministério Público. Abraço.
clowndaniel.
Ricardo, em matéria de concurso, licitação, esse treco todo, sabemos bem, ética, moral e legalidade se confundem. por isso a conveniência do teu "pera lá!". é por aí mesmo. na veia.
abração
Cândido.
Cândido, caríssimo. O "concurso da Petrobras" é só um pretexto para Claudio Daniel voltar de novo as baterias contra os seus/dele inimigos. E, claro, ele esperava de mim lealdade canina. Por isso não me interessa personalizar o embate. Não é a pessoa dele que me oponho, mas à MENTALIDADE que o formou e à qual ele tão apaixonadamente se aferra. Abração
Qual será a cor dos patinhos de banheiro de Cláudio? Será que os da Angélica são amarelos? Rique, querido, o MP não apura caso de vaidade, ainda mais sem provas concretas e suficientes. A menos que ele encontre irregularidades no edital. Precisará de um bom advogado. Agora, quem te respeita, te respeita. Quem não respeita alguem, não respeita ninguem. Então, é uma bobagem se ocupar com literatos, críticos e afins. grande beijo
Carol, o patinho só está "pagando o pato" nessa história. Claudio Daniel quer dar a entender que Angélica Freitas foi contemplada com a Bolsa da Petrobras graças ao tal poema do pato, quando o foi - e ele sabe disso - devido à excelência do projeto apresentado por ela à apreciação da Comissão de Seleção. Um beijo
Sempre admirei seu trabalho e sua postura e agora ainda mais. Acho em tese bom que as pessoas discordem umas das outras, mas no Brasil temos uma triste tradição de jogar tudo e todos na vala comum da pseudo-discussão sobre corrupção e honestidade. Digo pseudo-discussão porque ninguém em sã consciência vai dizer que "apóia" corrupção e desonestidade. Então o que falta mesmo é uma discussão sobre poesia, mas nesse clima de bate-boca nada de substancial pode sair, não é mesmo?
É isso, Paulo: de poesia ninguém fala. Não mesmo! Abraço
Rique,
há uma data pra o projeto
"Modelos Vivos"?
Aguardo ansioso essa nova
empreitada. Tenho novidades
também... no momento certo
lhe envio...
Com respeito e a admiração de
quem já foi agraciado com
sua análise e voto...
Anizio Vianna
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