Beatriz, fale, em linhas gerais, por favor, sobre as disciplinas que você oferecerá, no próximo semestre, no curso de Pós-graduação do IEC-PUC Minas.
Em uma das disciplinas, "Textualidade e Espacialidade", Belo Horizonte será analisada em sua concepção absolutamente interior ao Estado, ao fim da qual foi dada à luz uma articulação espacial idiossincrática, uma linguagem em alvenaria, materialização de uma linguagem verbal, ideológica, perfeitamente legível uma na outra. Já na disciplina "Visualidade e Textualidade", será examinada a presença de Belo Horizonte tanto na literatura que reage a essa intervenção estatal no espaço, inédita até então no Brasil, decorrente da instauração da República, como também na que responde em momentos posteriores a outras investidas estatais. Em ordem cronológica: a fantasmagoria anarquista de Avelino Fóscolo em A Capital; ironias na composição gráfica de República Decroly, de Moacir Andrade; “Morte em Veneza” do coronelismo às margens do Arrudas em Totônio Pacheco, de João Alphonsus; a invisível Belo Horizonte na errância de O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos; a poética de Affonso Ávila em Código de Minas à luz da poética extracódigo do errante Geraldo Alves: livro e tapume, metáfora e curto circuito.
Você fala em “produção literária e artística errante”. Quem são os autores dessa produção? Como defini-la?
Essa produção envolve linguagens que vêm se contrapor à pronunciada pela cidade. Seus autores, melhor dizendo, criadores, pois autoria é formalidade própria do instituído, do constituído, são absolutamente exteriores ao Estado. E no entanto sabem perfeitamente com quem estão falando: com o Estado-Autor e com seu parceiro, o Mercado-Autor. As obras que deixam são provas cabais da direção de seus monólogos a esses surdos e absurdos. Não sei se é possível definir a produção literária e artística errante. Para começar, é da maior valia o instrumental oferecido em Mil Platôs (afinal, estamos em um deles), em específico as distinções que Deleuze e Guattari fazem, a partir da teoria musical, entre o liso e o estriado, entre o nomos e o logos, em uma redução, entre o natural e o racional.
O tema da cidade – com destaque para a cidade de Belo Horizonte – é central tanto na sua pesquisa teórica quanto na sua produção literária e artística. Como você analisa o sensível aumento do interesse pelas questões urbanas na produção contemporânea? A que se deve isso?
É uma questão complexa, para a qual também não tenho resposta. Creio em Milton Santos, que disse: “O corpo e o território são os irredutíveis ao universal”. Estamos todos nos aferrando a eles. Creio também em Stanley Kubrick, que arriscou: “Só há um jeito de a gente resolver o enigma: é não o resolvendo e criando sobre ele hipóteses que só a arte esclarece”. E pratico Rubem Valentim: “Fora do fazer não há salvação”.
Fotos de Beatriz Magalhães
Um comentário:
Ótima pedida, Ricardo. e tome abraço, caro.
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