
27.2.11
Pedra-90!

25.2.11
22.2.11
Um poema de Leminski, do livro "la vie en close"
desmantelar
a máquina do amor
peça por peça
onde luzia flor e flor
não deixar nem promessa
isso sim eu faria
se pudesse
transformar em pedra fria
minha prece
14.2.11
Brinde

O mais importante poeta brasileiro vivo, Augusto de Campos, completa hoje 80 anos. Para festejar a data, o poeta e webdesigner André Vallias convocou um rol de amigos do nosso grande inventor-mestre para, nas páginas da revista Errática, tecerem as devidas loas a quem nos ensinou a ouver e ler além do facilitário que nos quer impor a indústria do entretenimento.
Na foto acima (by Rubio Grazziano), de 1998, o poeta comemora sua esplêndida performance no espetáculo Poesia é risco, que realizou ao lado do filho Cid Campos, baixista e compositor, e do videoartista Walter Silveira no Teatro Alterosa, durante a Bienal Internacional de Poesia de Belo Horizonte. A foto mostra, ainda, a partir da esquerda, este ciberposseiro, Carlito Azevedo, André Vallias – refletido no espelho – e Julio Castañon Guimarães.
Receba, caríssimo Augusto, o meu (jaguadártico) abraço de anos-luz!
12.2.11
11.2.11
A cidade como texto

Beatriz, fale, em linhas gerais, por favor, sobre as disciplinas que você oferecerá, no próximo semestre, no curso de Pós-graduação do IEC-PUC Minas.
Em uma das disciplinas, "Textualidade e Espacialidade", Belo Horizonte será analisada em sua concepção absolutamente interior ao Estado, ao fim da qual foi dada à luz uma articulação espacial idiossincrática, uma linguagem em alvenaria, materialização de uma linguagem verbal, ideológica, perfeitamente legível uma na outra. Já na disciplina "Visualidade e Textualidade", será examinada a presença de Belo Horizonte tanto na literatura que reage a essa intervenção estatal no espaço, inédita até então no Brasil, decorrente da instauração da República, como também na que responde em momentos posteriores a outras investidas estatais. Em ordem cronológica: a fantasmagoria anarquista de Avelino Fóscolo em A Capital; ironias na composição gráfica de República Decroly, de Moacir Andrade; “Morte em Veneza” do coronelismo às margens do Arrudas em Totônio Pacheco, de João Alphonsus; a invisível Belo Horizonte na errância de O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos; a poética de Affonso Ávila em Código de Minas à luz da poética extracódigo do errante Geraldo Alves: livro e tapume, metáfora e curto circuito.

Você fala em “produção literária e artística errante”. Quem são os autores dessa produção? Como defini-la?
Essa produção envolve linguagens que vêm se contrapor à pronunciada pela cidade. Seus autores, melhor dizendo, criadores, pois autoria é formalidade própria do instituído, do constituído, são absolutamente exteriores ao Estado. E no entanto sabem perfeitamente com quem estão falando: com o Estado-Autor e com seu parceiro, o Mercado-Autor. As obras que deixam são provas cabais da direção de seus monólogos a esses surdos e absurdos. Não sei se é possível definir a produção literária e artística errante. Para começar, é da maior valia o instrumental oferecido em Mil Platôs (afinal, estamos em um deles), em específico as distinções que Deleuze e Guattari fazem, a partir da teoria musical, entre o liso e o estriado, entre o nomos e o logos, em uma redução, entre o natural e o racional.
O tema da cidade – com destaque para a cidade de Belo Horizonte – é central tanto na sua pesquisa teórica quanto na sua produção literária e artística. Como você analisa o sensível aumento do interesse pelas questões urbanas na produção contemporânea? A que se deve isso?
É uma questão complexa, para a qual também não tenho resposta. Creio em Milton Santos, que disse: “O corpo e o território são os irredutíveis ao universal”. Estamos todos nos aferrando a eles. Creio também em Stanley Kubrick, que arriscou: “Só há um jeito de a gente resolver o enigma: é não o resolvendo e criando sobre ele hipóteses que só a arte esclarece”. E pratico Rubem Valentim: “Fora do fazer não há salvação”.
Fotos de Beatriz Magalhães
10.2.11
Vida conversável

7.2.11
4.2.11
Édouard Glissant: 21 set 1928 – 3 fev 2011
O senhor vê uma diferença no tratamento da língua entre a poesia e a prosa?
No que concerne às nossas literaturas, no exercício da prosa os escritores acreditam muito facilmente que a descrição do real dá conta desse real. Seria mais ou menos como os pintores que pintam quadros de costumes ou de gênero: uma feira tropical ou pescadores antilhanos. Acreditam, dessa maneira, dar conta da realidade. Mas estão completamente enganados, porque ela é outra coisa que não essa aparência. Ora, a poesia até os nossos dias é a única arte que consegue realmente ir além das aparências. Penso ser esta uma das de suas vocações. É a vontade de desfazer os gêneros, essa divisão que foi tão lucrativa, tão frutuosa em termos das literaturas ocidentais. Penso que podemos escrever poemas que são ensaios, ensaios que são romances, romances que são poemas. Tentamos desfazer os gêneros precisamente porque sentimos que as funções que lhes foram atribuídas na literatura ocidental não convêm mais à nossa investigação, porque ela não abarca apenas o real, mas é também uma investigação do imaginário, das profundezas, do não-dito, das proibições. Temos que “cahoter” (“sacudir”) – utilizado aqui no sentido de uma sacudida em uma estrada – mas também no sentido de um “cahos”, daquilo que é caótico. Devemos sacudir todos esses gêneros para poder expressar o que queremos expressar. Nesse sentido, existe em nós, escritores antilhanos, forçosamente, uma ultrapassagem da convenção da prosa, mas também da convenção da poesia. A poesia pode ser sacudida pelo caos; a prosa pode ser sonhadora e cair em uma espécie de tormenta, de torneio, de embriaguez, sem deixar de ser significante. Penso que inventaremos gêneros novos dos quais não temos ainda nenhuma idéia atualmente. [Resposta do escritor antilhano Édouard Glissant a uma das questões formuladas por Lise Gauvin, em 1991. A entrevista foi incluída no excelente Introdução a uma poética da diversidade, traduzido e apresentado pela ensaísta e professora da UFJF Enilce Albergaria Rocha (Ed. UFJF, 2005)]