
A literatura de José Saramago não é para mim. Não a alcanço. Cheguei a ouvir o escritor português numa conferência aqui em Belo Horizonte, há muitos anos, e não guardei nem mesmo uma pequena lasca da montanha de frases de efeito com que ele se empenhou em justificar sua fama de intelectual público até seus últimos dias. Quis, ainda asssim, ver o filme José e Pilar. Entrei no cinema sem qualquer esperança, ainda que aberto a possíveis surpresas. Que não ocorreram. Os eternos 130 minutos de projeção me fizeram lembrar que, felizmente, havia em casa, à minha espera, 3 livros de Gonçalo M. Tavares, português nascido em Angola, em 1970, guardados numa caixa azul intitulada breves notas. Com um “caderno de apresentação” caprichosamente preparado por Júlia Studart, a edição é resultado de parceria entre a Editora UFSC e a Editora da Casa. Pertence ao livro breves notas sobre as ligações [llansol, molder e zambrano] esta frase: “Um escritor cuja curiosidade sai da folha que está em frente de si no momento em que escreve? O olhar desviado desvia. Porque o escritor não é um leitor que depois de ler a frase pode desviar os olhos para um sitio inexistente e ficar por aí largos minutos ou mesmo horas, num devaneio imaterial. Para o escritor, pelo contrário, os devaneios deverão ser concretos; de tal forma materializáveis que possam se colocados em sacos de plástico.”