Dentre outras qualidades, a poesia de Mário Quintana guarda uma que é rara: a de “ultrapassar” a “urgência das contingências”, para me valer dos termos utilizados pelo crítico Arthur Nestrovski num pequeno escrito sobre a capacidade que têm as canções, no Brasil, de “jamais perder a contingência dessa urgência, ao mesmo tempo coletiva e intransferivelmente pessoal”.
Essa qualidade, a meu ver, explica em parte o encantamento que Quintana produz sobre a parcela do público leitor para a qual a arte verbal apresenta-se, antes de tudo, como um tipo de vínculo com a vida cotidiana. Os versos de Mário parecem ter estado sempre aí, ao alcance das urgências e contingências de que é feito o dia a dia. E o poeta se compraz em alimentar essa hipótese, ao dizer, num poema, que “Descobrir Continentes é tão fácil como esbarrar com/ um elefante:// Poeta é o que encontra uma moedinha perdida...”.
Em poucos poetas que escreve(ra)m em português-brasileiro se encontrará um manejo sintático e imagético tão rigoroso quanto livre, atributo ao qual se soma uma notável competência para a articulação de densas harmonias fônicas, como se perceberá na maioria dos poemas deste volume. O uso de tais recursos com a naturalidade de quem apenas recolhe do chão uma moedinha faz de Mário Quintana um poeta não menos que imprescindível. Neste nosso tempo em que a norma parece ser a possibilidade de se prescindir de tudo o que, em alguma época perdida do mundo, dava sentido à existência, poetas como ele nos restituem o direito à palavra como forma de conhecimento – entre álacre e acre – do mundo.
[Este texto, que escrevi para figurar na orelha da Nova Antologia Poética de Mário Quintana (Global Editora, 2006), reaparece aqui como uma lembrança da passagem dos 15 anos da morte do poeta, no último dia 5]
14.5.09
Quinze anos sem Quintana
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Um comentário:
Sim,nesse encantamento vivivel de cada dia...nos deleita ao sabor de um bom café,aroma de tempo nenhum e de mundo dentro!Saravá!!! Quintana!
Mensageiro do cotidiano interior.
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