Arte feita de novas ideias
Janaina Cunha Melo
Artistas defendem modelos inovadores de experimentação estética, propondo a fusão de teatro, dança, música e literatura para produzir objetos que ampliem a sensibilidade do público
O perfomer Tatu Guerra explora o tema do confinamento da sociedade contemporânea em seu novo trabalho
A performance multimídia está em franca expansão. Arte contemporânea que promove encontros de linguagens – como dança, teatro, poesia, música e artes plásticas, entre outras categorias artísticas –, ela ainda não assumiu contornos de produção para atrair público numeroso, mas também não é esse seu objetivo, pelo menos na concepção dos novos artistas que investem na pesquisa desse cruzamento de ideias. Para eles, essencial é a possibilidade de investigar novas formas de expressão, que não encontram barreiras nem estabelecem limites entre os gêneros. Como aliado, apontam o uso de aparatos tecnológicos que favorecem a experimentação.
Performer que participa do festival Verão Arte Contemporânea com a vídeoinstalação Série: Objetos vídeos, desenvolvida em parceria com Ronaldo Macedo Brandão, Tatu Guerra conta que seu primeiro contato com a abordagem multimídia foi no grupo Black Maria, onde atuava como percussionista, com Ricardo Aleixo e Gil Amâncio. Graduou-se em Belas artes, estudou animação, fez oficina de VJ e não parou mais de cruzar referências estéticas. Chico de Paula, DJ Rato e outros artistas também se aproximaram, para realização de novos projetos.
No festival, ele e Brandão exploram a idéia de confinamento nos centros urbanos, por meio de dois objetos – ambos associam realidade e absurdo. O primeiro deles – um poço construído com tijolos – esconde uma pessoa, que pode ser vista por cima, pelo público. O outro objeto prende um rosto numa pilastra, em sistema de projeção de imagem que conta com dois monitores. Nos dois trabalhos, a sensação de clausura, própria da atualidade. Para Tatu, as obras não são uma provocação. “Não queremos questionar o comportamento. Apenas
Performer que participa do festival Verão Arte Contemporânea com a vídeoinstalação Série: Objetos vídeos, desenvolvida em parceria com Ronaldo Macedo Brandão, Tatu Guerra conta que seu primeiro contato com a abordagem multimídia foi no grupo Black Maria, onde atuava como percussionista, com Ricardo Aleixo e Gil Amâncio. Graduou-se em Belas artes, estudou animação, fez oficina de VJ e não parou mais de cruzar referências estéticas. Chico de Paula, DJ Rato e outros artistas também se aproximaram, para realização de novos projetos.
No festival, ele e Brandão exploram a idéia de confinamento nos centros urbanos, por meio de dois objetos – ambos associam realidade e absurdo. O primeiro deles – um poço construído com tijolos – esconde uma pessoa, que pode ser vista por cima, pelo público. O outro objeto prende um rosto numa pilastra, em sistema de projeção de imagem que conta com dois monitores. Nos dois trabalhos, a sensação de clausura, própria da atualidade. Para Tatu, as obras não são uma provocação. “Não queremos questionar o comportamento. Apenas
congelamos uma situação. Gosto dessa questão estética, de explorar a ideia de confinamento que está em todos os lados”, comenta.
ESPAÇOS RESTRITOS Com formação de ator-dançarino, Benjamin Abras conta com elementos da cultura popular como base de experimentação. Em processo de construção de novo espetáculo, ele adianta que capoeira, cantos ritualísticos, dança contemporânea e teatro serão reunidos pelo projeto. Ele também associa objetos na performance. “Com as artes plásticas é possível criar imagens dinâmicas, como extensões do corpo. São referências que aguçam a memória e o instinto de quem realiza e de quem assiste ao espetáculo”, comenta. Cantos de trabalho do candomblé, orações e ritos afrobrasileiros ganham novo significado com a abordagem do artista. A música também desempenha papel importante do desenvolvimento da cena. Ainda sem título, o espetáculo tem estreia prevista para o segundo semestre, na Igreja de São Jorge, no Centro
ESPAÇOS RESTRITOS Com formação de ator-dançarino, Benjamin Abras conta com elementos da cultura popular como base de experimentação. Em processo de construção de novo espetáculo, ele adianta que capoeira, cantos ritualísticos, dança contemporânea e teatro serão reunidos pelo projeto. Ele também associa objetos na performance. “Com as artes plásticas é possível criar imagens dinâmicas, como extensões do corpo. São referências que aguçam a memória e o instinto de quem realiza e de quem assiste ao espetáculo”, comenta. Cantos de trabalho do candomblé, orações e ritos afrobrasileiros ganham novo significado com a abordagem do artista. A música também desempenha papel importante do desenvolvimento da cena. Ainda sem título, o espetáculo tem estreia prevista para o segundo semestre, na Igreja de São Jorge, no Centro
de Belo Horizonte. O espaço físico ajuda o performer na associação de ideias. “Cada lugar tem uma história, e isso também precisa ser considerado como informação para a peça”, explica.
Há mais de 10 anos envolvido com esse tipo de performance, ele conta que seus trabalhos são idealizados propositadamente para público pequeno, em espaços restritos. Para Benjamin, o número menor de pessoas possibilita melhor absorção do conteúdo. “Busco espaços alternativos, para que todo mundo consiga perceber essa relação da palavra com o corpo e as relações geradas a partir disso. Para ele, a arte não precisa necessariamente agradar, mas tem que provocar plateias e desconstruir conceitos.
TATU GUERRA E RONALDO MACEDO –SÉRIE: OBJETOS VÍDEOS
Hall do Teatro Francisco Nunes,
Av. Afonso Pena, s/nº, Centro, Parque Municipal. Diariamente, 20h.
Há mais de 10 anos envolvido com esse tipo de performance, ele conta que seus trabalhos são idealizados propositadamente para público pequeno, em espaços restritos. Para Benjamin, o número menor de pessoas possibilita melhor absorção do conteúdo. “Busco espaços alternativos, para que todo mundo consiga perceber essa relação da palavra com o corpo e as relações geradas a partir disso. Para ele, a arte não precisa necessariamente agradar, mas tem que provocar plateias e desconstruir conceitos.
TATU GUERRA E RONALDO MACEDO –SÉRIE: OBJETOS VÍDEOS
Hall do Teatro Francisco Nunes,
Av. Afonso Pena, s/nº, Centro, Parque Municipal. Diariamente, 20h.
MULTIMíDIA
Intermídia é o caminho
Intermídia é o caminho
Para Ricardo Aleixo, os espaços culturais ainda se fecham para as performances: "É questão de mentalidade"
Artista e pesquisador apontado como um dos precursores do gênero no estado, o poeta Ricardo Aleixo diferencia a performance multimídia – que reúne som, palavra, vídeo e corpo sem que um elemento “contamine” o outro – da intermídia, que propõe junção qualitativa das artes, com fronteiras cada vez menos rígidas até a radicalização da ideia de não-distinção das categorias artísticas. “Na multimídia, elas são preservadas, enquanto na intermídia tudo muda numa rapidez absurda”, explica. A conceituação, ele atribui ao “esforço teórico” de Júlio Plaza, artista intermídia espanhol que se radicou no Brasil e morreu em São Paulo, em 2003.
O interesse de Aleixo sobre a tema ocorreu nos anos 1980, influenciado por outra referência fundamental no gênero, o músico John Cage. “Sou mais um que se alimenta do que ele trouxe em termos de desestabilização das fronteiras”. Para o poeta, essa é uma proposta que se relaciona com o fim da diferenciação entre arte e vida, portanto, a pesquisa intermídia tem sentido essencialmente político na investigação do artista. No fim do ano passado, ele participou da Mostra Contemporânea de Arte Mineira em São Paulo, com a performance Barrocodelia, com direção e concepção compartilhada com Chico de Paula. Entre os convidados também participaram Gil Amâncio, Rui Moreira, Benjamin Abras, DJ Rato e Jorge dos Anjos. “Mais que amigos, eles são artistas habilitados para trabalhar nessa dimensão da pluralidade. A trajetória deles aponta para uma arte feita em Belo Horizonte, com rica história na prática intermídia”, elogia.
Para Ricardo Aleixo, é lamentável a falta de espaços na cidade que reconheçam a importância da performance como linguagem e valorizem a pesquisa realizada pelos artistas. “Podem dizer que são altos os custos de montagem, por causa da utilização de equipamentos técnicos e tecnológicos. Mas isso responde apenas a um dos problemas. Em Belo Horizonte, a questão é de mentalidade. A cultura ainda ainda está com os olhos voltados para o passado”, avalia.
Artista e pesquisador apontado como um dos precursores do gênero no estado, o poeta Ricardo Aleixo diferencia a performance multimídia – que reúne som, palavra, vídeo e corpo sem que um elemento “contamine” o outro – da intermídia, que propõe junção qualitativa das artes, com fronteiras cada vez menos rígidas até a radicalização da ideia de não-distinção das categorias artísticas. “Na multimídia, elas são preservadas, enquanto na intermídia tudo muda numa rapidez absurda”, explica. A conceituação, ele atribui ao “esforço teórico” de Júlio Plaza, artista intermídia espanhol que se radicou no Brasil e morreu em São Paulo, em 2003.
O interesse de Aleixo sobre a tema ocorreu nos anos 1980, influenciado por outra referência fundamental no gênero, o músico John Cage. “Sou mais um que se alimenta do que ele trouxe em termos de desestabilização das fronteiras”. Para o poeta, essa é uma proposta que se relaciona com o fim da diferenciação entre arte e vida, portanto, a pesquisa intermídia tem sentido essencialmente político na investigação do artista. No fim do ano passado, ele participou da Mostra Contemporânea de Arte Mineira em São Paulo, com a performance Barrocodelia, com direção e concepção compartilhada com Chico de Paula. Entre os convidados também participaram Gil Amâncio, Rui Moreira, Benjamin Abras, DJ Rato e Jorge dos Anjos. “Mais que amigos, eles são artistas habilitados para trabalhar nessa dimensão da pluralidade. A trajetória deles aponta para uma arte feita em Belo Horizonte, com rica história na prática intermídia”, elogia.
Para Ricardo Aleixo, é lamentável a falta de espaços na cidade que reconheçam a importância da performance como linguagem e valorizem a pesquisa realizada pelos artistas. “Podem dizer que são altos os custos de montagem, por causa da utilização de equipamentos técnicos e tecnológicos. Mas isso responde apenas a um dos problemas. Em Belo Horizonte, a questão é de mentalidade. A cultura ainda ainda está com os olhos voltados para o passado”, avalia.
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