Há cerca de dois anos respondi, com já não sei qual intenção, o Questionário Proust. Versões diferentes do famoso questionário circulam na internet, mas decidi não esquentar a moringa procurando descobrir qual é a certa. Nada é muito certo.
Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?
A improdutividade, que é prima-irmã da auto-comiseração. Que é, por seu turno, íntima da inveja e da maledicência.
Como gostaria de morrer?
De uma vez.
Qual é seu estado mental mais comum?
Ativo. Excessivamente ativo.
Qual é o seu personagem de ficção preferido?
Ricardo Aleixo. Trata-se de um personagem por vezes um tanto confuso, aberto demais às possibilidades de desvio, sempre pronto a me convencer de que habitamos uma ficção, como diz Paul Auster.
Qual é ou foi sua maior extravagância?
Tentar, há três décadas, trabalhar só com o que gosto.
Qual é a pessoa viva que mais despreza?
Não desprezo ninguém. Explicito minhas diferenças, combato, elimino do meu círculo de convívio, mudo de canal, viro a página, peço a conta, mas não desprezo.
Qual é a pessoa viva que mais admira?
Digo duas: Iris, minha mãe, e Augusto de Campos, o poeta.
Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?
Não consta dos meus planos uma vida depois desta, mas, caso eu não tenha escolha, acho que faz sentido que eu volte como pedra. A menor delas. A mais silenciosa.
Em quais ocasiões costuma mentir?
Ao responder questionários, por exemplo.
Qual é sua ideia de felicidade perfeita?
Saber que ainda não acabei de nascer. E que posso continuar a nascer ao escrever um poema, ao cantar, ao fazer sexo, ao receber um amigo.
Qual é seu maior medo?
Deixar que o medo prevaleça sobre a vontade.
Qual é seu maior ressentimento?
Nenhum.
Que talento desejaria ter?
O de conhecer vários idiomas.
Qual é seu passatempo favorito?
A ideia de fazer passar o tempo me soa como grego arcaico. Prefiro vivê-lo.
Se pudesse, o que mudaria em sua família?
Nada. Não gostaria de correr o risco de conhecer a perfeição tão de perto.
Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?
A auto-comiseração.
Onde desejaria viver?
Numa Belo Horizonte que encarnasse no dia a dia a promessa contida em seu nome.
Qual a virtude mais exagerada socialmente?
A sinceridade. Por ela nos vemos, quase sempre, com um passe-livre para a crueldade.
Qual a qualidade que mais admira num ser humano?
A disposição para tentar de novo, quantas vezes for necessário.
Quando e onde você foi mais feliz?
Que dia é hoje? Onde estamos?
4 comentários:
Olá Rique,
Que belo, muito belo. Cheio de certezas e incertezas. Algumas é claro não poderia ser de outra forma, como a pessoa que mais admira,Dona Iris, claro.
Papo com marafo do bão
_Mora o todo numa questão.
_E o tempo?
_Uma questão presente...e que presente!
Esse é o Ricardo Aleixo, que tenho o privilégio de tê-lo como Mestre!
Forte Abraço meu caro.
e por esses cantos, draupadi sempre acaba se encontrando!
celebremos, mais uma vez, o encontro, mestre da fortuna!
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